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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Como as palestras de Dallagnol se viraram contra ele, por João Paulo Charleaux.



25 Jun 2017
 
(atualizado 26/Jun 14h43)

Deputados fazem representação contra procurador que recebeu R$ 219 mil por 12 palestras em 2016. Ministério Público diz que atividade é protegida por lei

Foto: Rodolfo Buher/Reuters - 11.12.2014
Dallagnol em entrevista
Procurador Deltan Dallagnol explica esquema da Lava Jato a jornalistas
Dois deputados federais do PT - Paulo Pimenta (RS) e Wadih Damous (RJ) - fizeram na quarta-feira (21) uma representação na Corregedoria Nacional do Ministério Público contra o procurador da República Daltan Dallagnol.
Eles questionam o fato de Dallagnol estar realizando palestras pagas sobre a Lava Jato, maior operação contra a corrupção já realizada no país, para grandes grupos privados. Na quinta-feira (22), por exemplo, o procurador falou para 5.000 pessoas no grupo XP Investimentos, em São Paulo. Cada ingresso para participar do evento, que durou três dias, custou R$ 800.
O questionamento feito pelos deputados petistas busca explorar uma base legal — receber pagamentos de empresas que podem vir a se envolver em casos que envolvam pendências legais pode representar conflito de interesse —, mas tem um fundo político: o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva está sendo acusado pelos procuradores da Lava Jato, entre eles Dallagnol, de receber vantagens de empreiteiras por meio de remunerações por palestras.
Além disso, Dallagnol, por ser o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, acabou por personalizar as investigações que os petistas dizem ser dirigidas contra o partido. Um episódio específico também ajudou a colocar o procurador na berlinda. Numa entrevista coletiva em 14 de setembro de 2016, Dallagnol apresentou um power point no qual todas as setas da Lava Jato apontavam para um círculo no centro, do qual estava escrito o nome de Lula. Os advogados do ex-presidente refutaram a versão do procurador e processaram Dallagnol, pedindo indenização de R$ 1 milhão por danos morais.
R$ 219 mil
Foi quanto Dallagnol recebeu em 2016 por 12 palestras
No dia 19 de junho, o jornal “Folha de S.Paulo” mostrou que o nome do procurador aparecia num menu de palestrantes da empresa Motiveação. Os preços das palestras de Dallagnol variavam entre R$ 30 mil e R$ 40 mil no site.
A empresa disse que tinha o nome dele em seu casting há mais de um ano. O procurador negou que possuísse qualquer ligação com a Motiveação. E pediu que o anúncio fosse retirado. A empresa acatou o pedido “pois não foi autorizada pelo palestrante e nem por sua equipe”, disse.
Caberá ao corregedor nacional Cláudio Henrique Portela do Rego analisar a representação feita pelos deputados petistas. E Dallagnol terá dez dias para enviar suas explicações ao órgão.

O que o procurador diz em sua defesa

O Ministério Público Federal publicou uma nota na sexta-feira (23) refutando as suspeitas levantadas pelos deputados petistas.
Nela, são citadas duas resoluções (34/2007 do Conselho Nacional de Justiça e 73/2011 do Conselho Nacional do Ministério Público). Segundo a nota, as normas dão a liberdade a membros do Poder Judiciário de “realizar atividade docente, gratuita ou remunerada”, agregando que “a resolução 34/2007 expressamente reconhece que a realização de palestras é atividade docente”.
A nota diz ainda que “a maioria das palestras prestadas para grandes públicos pelo procurador é gratuita e em 2016 os valores foram destinados para entidade filantrópica”, o Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, que trata pacientes com câncer.

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