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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Bomba Semiótica!, por Wilson Ferreira.


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Bomba Semiótica!, por Wilson Ferreira
Resposta à postagem "Bomba Semiótica?" de Fernando Horta
O articulista Fernando Horta consegue identificar bombas semióticas como um fenômeno recorrente ao longo de praticamente toda a História: foi a fotografia de 1972 de uma menina vietnamita coberta por napalm; foi a publicação em 1952 do romance A Cabana do Pai Thomas. Foram também “bombas semióticas” os poemas do alcunhado “Boca do Inferno, Gregório de Matos. E, mais distante no tempo, a “Divina Comédia” de Dante, segundo Horta, “A maior bomba semiótica do século XIV”.
Todo esse esforço de memória para comprovar que “bombas semióticas” não foram “invenções pós-modernas” e que “a arte do protesto semiótico” é uma “carroça que não pode ser colocada na frente dos bois”, isto é, “a semiótica não pode ser colocada na frente do material”.
Fernando Horta é egresso da área da História e Relações Internacionais. Por isso, é mais um cientista que comprova a dificuldade ainda hoje da Comunicação ser reconhecida como uma ciência por seu objeto e métodos. Em outras palavras, a dificuldade em identificar a especificidade do objeto e conceitos da Comunicação: ora, se tudo é comunicação e ela existe desde as primeiras pinturas rupestres em cavernas, logo a comunicação não existe como fenômeno específico – todas as outras ciências podem dar conta dela.
Se bombas semióticas existem como “protesto semiótico” desde, talvez, tempos imemoriais, logo elas não existem como fenômeno materialmente determinado como os fatos políticos e econômicos. Ela é a carroça que tem que ficar atrás dos bois: os fatos históricos concretos e determinados.
Politização da Semiótica
Paradoxalmente, “Bomba Semiótica” não é conceito propriamente semiótico. É uma politização da Semiótica na medida em que os seus conceitos são atualmente aplicados na chamada “Engenharia de Opinião Pública”. Como acompanhamos desde o momento em que o Brasil tornou-se alvo da Guerra Híbrida do Departamento de Estado dos EUA e entrou na turnê das “primaveras” que pipocaram pelo planeta.
Não. Não foram “pós-modernos” que a criaram, mas a Social Engineering da Guerra Híbrida com a sua infernal articulação entre ONGs, spin doctors, paid experts, grande mídia e técnicas de ação direta nas ruas, como testemunhamos desde as “Jornadas de Junho” de 2013.
“Bomba semiótica” foi uma alegoria, que se tornou conceito, criada pelo Cinegnose desde 2013, quando este humilde blogueiro iniciou uma espécie de crônica de 51 postagens acompanhando como as ações diretas dos “protestos” nas ruas se articulavam como uma cobertura midiática na qual repórteres iam a campo com uma pauta pré-determinada para enfiar à fórceps os fatos às expectativas dos “aquários” das redações - clique aqui.
Como Fernando Horta defende, não devemos colocar carroças adiante dos bois. Bomba semiótica não surgiu como um protesto mas uma deliberada ocupação do campo semiótico (ou “simbólico”, como queiram) da sociedade pela Guerra Híbrida norte-americana e pelas buchas de canhão da direita brasileira – MBL e congêneres.
Bomba semiótica é um fenômeno determinado no tempo e no espaço. Sua eficiência, ou seu “meio material”, se dá porque seu poder explosivo está na atual cultura midiática viral – explode por contágio em uma, por assim dizer, semiosfera marcada pelo tempo real das redes.
Bem diferente da foto da garota vietnamita, em um contexto da cultura midiática publicitária de fotos-choque e fotos-sedução em meios de comunicação de massas, ainda marcada como instrumento de doutrinação – seja política ou de consumo.
E muito diferente de “Cabana do Pai Tomás” ou poemas de Gregório de Matos, de uma era da cultura tipográfica na qual a maioria era analfabeto.
Cultura Midiática Viral
Até esse momento, bombas semióticas nada tiveram a ver com “protestos”. E nem elas são fenômenos isolados como uma fotografia, livros ou poemas. São instrumentos de um esforço coordenado e amplo de conquista de corações e mentes pela ocupação do campo midiático pela atual tática de guerra híbrida (ação direta + ocupação semiótica).
Se não, consideraríamos, por exemplo, “O Capital” de Karl Marx a maior “bomba semiótica” do século XIX que mudou a face política do século XX.
E muito menos a atual estratégia das bombas semióticas tem paralelo com as ações coordenadas na mídia implementadas pelo complexo IPES-IBAD (com apoio logístico e de inteligência dos EUA) para desestabilizar João Goulart (1962-64) e desfechar o golpe militar. Naquele momento, as ações coordenadas na TV, cinema e mídia impressa seguiram a receita hipodérmica da repetição de slogans para doutrinação de massas.
Assim como, ainda, as ações políticas da esquerda respiram essa atmosfera de protestos de rua com palavras de ordem, bordões e slogans repetitivos.
Bomba semiótica é um fenômeno de ocupação e intervenção política novos, em sintonia com a cultura midiática viral: ela não visa a propaganda doutrinária, mas a contaminação viral pelo pânico, boatos, rumor, fake news e assim por diante.
Por isso, buchas de canhão como Kim Kataguiri ou Alexandre Frota não precisam e não querem interlocutores. Aliás, o oponente é mera escada para eles “falarem” com as massas por meio da provocação mediante a criação de um acontecimento – o “acontecimento comunicacional”, o resultado final da explosão da bomba semiótica. Não há um esforço para convencimento ou persuasão, mas de criar repercussão e “agendamento” – de “agenda setting”, a estratégia de eventos midiáticos criarem pautas para conversas interpessoais ou nas redes.
Em termos mais diretos, enquanto a esquerda está no paradigma do humor de bordões repetitivos da “Escolinha do Professor Raimundo”, EUA e as buchas da direita estão no humor do “Porta dos Fundos” que faz parodias de temas virais.
Se não, o que dizer da galhofa do MBL ao defender William Waack: “pelo direito de ser racista entre os amigos!”...
Por isso, a repercussão do desfile da escola Paraíso Tuiuti ainda não foi uma bomba semiótica, mas uma prova da potencialidade de uma ocupação do campo semiótico também pelas esquerdas. De lutar no mesmo campo.
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Carros e bois
E para encerrar, a dualidade descrita por Fernando Horta entre “carroças” e “bois” ou entre Semiótica e a realidade material dos protestos de rua faz lembrar a velha dualidade da leitura ortodoxa do marxismo entre infraestrutura dos meios e relações sociais de produção e a superestrutura ideológica.
Ocupação do campo semiótica pela esquerda nada tem a ver com isso. Tal ação política implicaria em ações simultâneas como já foi comprovando com ações de ativistas políticos envolvendo táticas de “media prank” e “culture jamming” – sobre isso clique aqui.
Durante as ocupações de escolas públicas em 2015 em São Paulo, estudantes secundaristas começaram a ocupar simultaneamente diferentes cruzamentos da cidade. Ao mesmo tempo em que recusavam a dar entrevistas à grande mídia.  O que criou um “jamming” tanto midiático quanto na logística da ação repressiva policial. Enquanto isso, os jovens secundaristas (cujo conceito de TV aberta ou mídia de massa nada significam, como atestou esse humilde blogueiro em uma aula dada numa das escolas ocupadas – clique aqui) partilhavam fotos e mensagens nas redes sociais.
Ocupação de ruas, escolas, praças etc. de nada adiantam sem uma correlata ocupação do campo semiótico da sociedade – têm que se converterem em “acontecimentos comunicacionais”. 
Tuiuti nada tem a ver com gente que cria “teorias maravilhosas” e bate palmas para “pobres” que fazem aquilo que deveríamos fazer. Tuiuti foi apenas a evidência de um campo de ocupações e luta política potencial que se abre: a esquerda criar sua própria estratégia de detonação das bombas semióticas criadas por ela mesma. 

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