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quinta-feira, 26 de abril de 2018

Brasil rejeita os extremismos: nem Bolsonaro nem Boulos, por Juan Arias.


Jair Bolsonaro segura um boneco que o representa em Curitiba no dia 29 de março.
Jair Bolsonaro segura um boneco que o representa em Curitiba no dia 29 de março. REUTERS

A sociedade brasileira é mais equilibrada e moderna do que aparece na superfície das águas agitadas pelos ódios radicais de frentes opostas




Os resultados da última pesquisa do Datafolha sobre as eleições presidenciais, realizada depois da prisão de Lula, permitem várias leituras importantes. Uma delas é a revelação de que a sociedade brasileira, como eu havia escrito em uma de minhas últimas colunas, é mais equilibrada e moderna do que aparece na superfície das águas agitadas pelos ódios radicais de frentes opostas.
Observando o movimento das intenções de voto dos brasileiros se verifica que o Brasil, ainda em meio à tempestade político-judicial que o sacode, não aposta nos extremos. Para sintetizar isso basta observar que o fenômeno Bolsonaro, da extrema direita, dá mostras de cansaço. Hoje, o ex-militar que está há meses fazendo barulho, e às vezes até dá medo de que se vá ter um novo Trump, brasileiro, perderia em um segundo turno, por exemplo, de Marina Silva, a silenciosa e moderada ambientalista. Bolsonaro não cresceu nem com a prisão de Lula.
Ao mesmo tempo, tampouco a extrema esquerda, por exemplo, de Boulos — ungido por Lula em seu rito de despedida em que lhe profetizou um grande futuro —, não tem tido eco entre os brasileiros, que só lhe deram um punhado de votos. Passou despercebido na sondagem. E se Lula, estando na prisão, mantém 30% dos votos, isso demonstra que o líder popular é visto não como um extremista, mas como o político moderado e pragmático que sempre foi e que se definia como “nem de direita nem de esquerda, só sindicalista”.
É significativo que os analistas políticos tenham ressaltado que as novidades da pesquisa depois da prisão de Lula são as candidaturas de Joaquim Barbosa, que nem sequer é pré-candidato, e da quase desaparecida Marina Silva, que renasce de seu silêncio e de sua pouca vontade de polemizar e menos ainda de guerrear com alguém.
Ambas as candidaturas em ascensão podem ser a demonstração de que o Brasil, cansado de tantos extremismos de uma parte e de outra, se inclina na designação de seu futuro presidente por personagens que se colocam mais em uma centro-esquerda, que é a posição que mais bem reflete as necessidades da sociedade. Uma política vacinada contra os dois extremos e ao mesmo tempo progressista, nova, não poluída pela velha política nem com o vírus da corrupção, e com os olhos abertos para as carências de um país ainda terrivelmente classista e racista, com gigantescas desigualdades sociais, que não quer perder o que já conquistou e que exige um futuro melhor para seus filhos.
Os extremos, por mais estranho que isso possa parecer a muita gente, só produzem pobreza e ameaçam a democracia, ao mesmo tempo que põem em risco a estabilidade de um país. As candidaturas de Barbosa e Marina, sem dúvida moderadas e também progressistas, distantes de aventuras de extrema direita e extrema esquerda, são reveladoras de que a sociedade brasileira continua apostando na estabilidade e nas batalhas que hoje travam os países mais modernos e justos do planeta.
Em um Brasil em que os negros continuam sofrendo discriminação e carregam o fardo da escravidão com todas as suas consequências de atraso econômico e cultural, a aposta por dois candidatos como Barbosa e Marina é uma promessa de esperança e de equilíbrio democrático. Ambos negros, saídos da pobreza, exemplo de superação, que trabalharam para poder estudar, empenhados em sua biografia na justiça social e nas conquistas progressistas da sociedade moderna, como as questões de gênero e do meio ambiente, os direitos da mulher e a defesa das minorias, são garantia de estabilidade democrática.
O filósofo francês Charles Pépin surpreendeu com sua obra recente, As Virtudes do Fracasso, na qual defende que “uma sociedade que não reconhece seus erros é uma sociedade doente” e que “o acerto é um fracasso corrigido”. Assim como na pesquisa científica também na política se acerta errando e corrigindo os erros.
Se isso é certo, o Brasil poderia estar saindo do túnel de seus fracassos passados mais rico e mais livre, mais justo e mais purificado. Talvez, sem conhecer a moderna filosofia do fracasso, esta sociedade esteja intuitivamente compreendendo que da rejeição dos extremismos pode renascer uma sociedade não só pacificada, mas engrandecida e mais feliz do que parece ser hoje.

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