Marcadores

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O BEBÊ (CONTO - FINAL), POR ALEXANDRE MEIRA


Resultado de imagem para CORDEL BEBÊ
Mercedes apressara-se para vê-la. Apreensiva, precisava falar com a prima. Por que aquilo tudo acontecera? Daquele jeito? Largou o sobrinho aos cuidados das parteiras e da irmã, pois o rosto de sua prima assaltava-lhe a memória todo aquele tempo.
Não agüentou andar apenas, correu. E logo, a mais encantadora das filhas de Yolanda, entrou no quarto em penumbra onde uma senhora cuidava de uma menina envolta em panos, desfalecida. O barulho da casa ficara imperceptível diante da fragilidade de Mariana sobre a cama. Mercedes se aproximou e colocou o rosto do alto em direção ao rosto da prima para que ela num relance a reconhecesse.
E ela a reconheceu. Os olhos entrecerrados ganharam vivacidade.
Mariana não conseguia mover o rosto. Mercedes ajoelhou-se, então, e diante da cama segurou a mão da prima ainda gelada e suada pela febre.
A senhora presente, com a mão leve tocou o ombro de Mercedes para que ela tivesse mais cuidado. Mas mesmo assim a menina não se conteve e colou seu rosto na bochecha de Mariana. Um beijo longo foi como lenitivo para ambas. Logo pequenas gotas de lágrimas corriam o rosto das duas.
Mariana não podia, mas não resistiu ao jeito pândego de Mercedes balbuciar em seu ouvido “Maluca..”. Os olhos da jovem mãe arquearam em um sorriso não seguido pelos lábios. Marcadas pela inconseqüência de sua pouca idade, refizeram com o sorriso doído o pacto de amizade incólume, mesmo diante dos riscos. Mercedes então ciente da atenção da prima disse-lhe ao pé do ouvido, com um nó na garganta.
- Eu vou cuidar dele. Ele é meu filho também...
Mariana segurou a respiração.
   Essa frase a perseguiu desde o nascimento de João. E foi com certeza a expressão mais pura de bem-querer que ela ouviu na vida, tão grande quanto o amor pelo seu próprio filho. Algo com o peso de um juramento.
De lá ouviu-se o primeiro choro do bebê João.

Nenhum comentário:

Postar um comentário