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domingo, 12 de março de 2017

PRETO VELHO, por ALEXANDRE MEIRA (Poema)




Um minuto antes do fim

meu avô disse que sim

e o preto velho encantado

finalmente entrou na roda.



E me riu pisando firme

qual mateiro destemido

dando de lado sorrateiro,

mas nunca dado como vencido



A poeira levantou dançarina

naquele bambuzal arredio.

Gingando-se de rei engonçado

saudou

enquanto a grita das velhas 

fazia das aves um transe cediço,

cercando o fogo num assobio



A palma falou tão alto

quando o velho alquebrado

deu a mão de rei

ao santeiro com mãos de menino



Daí a poeira dançou nos pés castiços

eternos tal qual arvore seca

medrando a criança mestiça,

fez dela pra sempre o eixo da Terra


Daquela água pura de vitória régia

sob o encanto da velha harpia

Chamou para o fogo, e ele foi.

“Sem medo garoto!”



O rosto crispado eleva um

Okê Arô ao velho descalço

com rosto de pedra

olhos de fogo

alma de Luz



Até que do nada

Eis alma inaugurada

Quando a poeira chovia

sob a criança lavada de fogo

O mundo rodado infinito

pelo som da harpia

do nada

acabou.

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