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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O general Mourão já ouviu falar em Guararapes? Por Fernando Brito


Existe, para o Exército Brasileiro, um momento-símbolo de formação da nacionalidade, para a historiografia militar o símbolo da ideia do Brasil como país.
É a Batalha dos Guararapes, onde os brancos portugueses, ao lado dos índios liderados por Felipe Camarão, e das tropas negras de Henrique Dias. Pela direita, os indígenas, pela esquerda, os negros, as tropas holandesas foram flanqueadas e espremidas para que as tropas comandadas pelos portugueses João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros pudessem fazer o seu ataque decisivo.
Não consta que Felipe Camarão tenha sido “indolente” ou que Henrique Dias tenha sido “malandro”, como o senhor Hamilton Mourão disse hoje, em Porto Alegre, ao referir-se às características de índios e de negros.
Nem mesmo creio que Mourão, que afirmou sua descendência indígena tenha se expressado com ódio, mas é claro que foi com preconceito e, pior, preconceito dos mais burros, coisa que há cem anos, quase, já se desmontou como suposto fatalismo antropológico.
Basta perguntar – eles que tanto gostam de gritar Selva! nos seus eventos militares –  se sobreviver na mata, sem os recursos tecnológicos que há hoje, é algo para indolentes.
Ou se trabalhar de sol a sol – e que sol! –  numa lavoura açucareira  é para “malandros”.
Nem mesmo a “democratização do preconceito” feita por Mourão é procedente, quando ele diz que a cultura do “privilégio” é uma herança ibérica. Sim, vieram os nobres, os senhores, os favorecidos, mas estes foram uma ínfima maioria em meio à massa de  portugueses e espanhóis pobres que aportaram por estas bandas apenas querendo formas de alimentar os seus.
A razão desta ideia de indolência e de malandragem vinha exatamente da opressão: quem é que vai aplicar-se espontaneamente no trabalho que dá tudo ao colonizador e nada ao colonizado, senão chibata e pobreza?
Vai mal, assim o pessoal do trem-fantasma, fornecendo munição para apanhar na imprensa, que está  louca por desidratá-los em favor de Alckmin.
Ainda mais porque o capitão a quem segue o general já andou falando coisas muito mais agressivas, querendo abolir territórios indígenas e extinguir áreas quilombolas, aqueles que, segundo Bolsonaro, pesam mais de “sete arrobas” e “nem para reprodutores servem”.
O problema nem é “queimar” Bolsonaro, mas ao Exército que, entre as instituições nacionais, sempre foi a que mais se abriu para brasileiros de todas as origens.

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