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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Nietzsche e os sintomas da corrupção, por Edivaldo Dias Oliveira.



Aqui, 2 aforismos do alemão, extraído do livro "A gaia Ciência" de 1888, que esclarece de forma visionária dois fatos que nos são muito familiares, a saber; a corrupção e as manifestacções de junho de 2013., leiam...
Nietzsche e a corrupção
23 – Sintomas da Corrupção – Atente-se para os seguinte sintomas das circunstâncias sociais, necessárias de tempos a tempos, que se designam pelo termo de “corrupção”.
Assim que a “corrupção” aparece em qualquer parte, vê-se reinar uma variada superstição, na qual a crença geralmente adotada até então pelo povo empalidece e se torna impotente: pois que a superstição é um livre pensamento de segunda ordem (1); quem a ela se entrega, elege certas formas e formulas que lhe agradam  e concede-se o direito de escolher.
O supersticioso tem qualquer coisa de mais “pessoal” do que o homem religioso, e uma sociedade supersticiosa será aquela onde se encontram já muitos indivíduos e prazer ao que é individual. Deste ponto de vista a superstição coloca-se sempre como um progresso sobre a fé e torna manifesto que a inteligência se torna mais independente e reclama seus direitos.
Desta forma, os partidários da velha religião e religiosidade lastimam-se de corrupção  -  mas foram eles que até aqui determinaram o uso linguístico  e que criaram à corrupção uma má reputação, mesmo entre os espíritos mais livres. Portanto, temos que saber que a superstição é um sintoma de emancipação.
Acusa-se também de “relaxamento” uma sociedade onde a corrupção se instala: de fato, o prestígio da guerra e do entusiasmo guerreiro  sofrem uma baixa visível e aspira-se aos prazeres da existência com tanto ardor como aquele que antigamente se punha a procurar as honras militares ou atléticas. Mas os observadores costumam ignorar que esta antiga energia e paixão da nação , com a guerra e os torneios, que alcançavam tão pomposa evidencia, transformou-se em uma infinidade de paixões privadas e limitou-se a ser menos visível; 
Mas que digo? Sim, é até provável que, no estado de “corrupção”, a nação dispenda uma força, um violência de energia muito maiores do que nunca, e que o individuo gaste essa energia mais prodigamente do que o podia fazer anteriormente, quando ainda não era suficientemente rico!
Portanto, é precisamente nas épocas do “relaxamento” que a tragédia corre pelas ruas e pelas casas, que se vê nascer o grande amor e o grande ódio, e que a flama do conhecimento jorra em braseiro para o céu.
Em terceiro lugar, pretende-se dizer que compensando de algum modo a censura de superstição e de abandono que se pode fazer às épocas de corrupção, os costumes se tornam mais brandos nesses períodos, que a crueldade diminui notoriamente em comparação com as épocas precedentes, mais crédulas e mais fortes.
Mas não poderia aprovar este elogio, da mesma forma que como não aprovei a acusação precedente: o que concedo é que a crueldade se torna refinada, e que as suas antigas formas repugnam ao gosto novo;
Mas a arte de ferir, de torturar, através da palavra e do olhar, alcançam em tempos de corrupção, o seu supremo aperfeiçoamento; é só então que nascem a malignidade e o prazer de ser maldoso.
As pessoas das épocas corrompidas são espirituosas e caluniadoras; sabem que se podem matar dispensando a utilização do punhal e do golpe de mão; sabem também que se acredita em tudo o que é bem dito.
Em quarto lugar, quando os costumes se corrompem, é o momento em que surgem esses seres a que se dá o nome de tiranos: São os precursores e, por assim dizer, as precoces guardas avançadas do individuo. Mais um instante de paciência: esse fruto dos frutos  acabará por pender, maduro e dourado, da árvore de um povo; e é somente em função desses frutos que essa árvore existe!
Quando o declínio chegou ao apogeu, assim como a luta dos tiranos de todas as qualidades, vê-se sempre chegar o César, o tirano definitivo, que vibra o golpe de misericórdia à luta cansada dos concorrentes preponderantes fazendo trabalhar o cansaço em seu proveito.
Em sua época, o individuo, em geral, está no momento da sua maturidade perfeita, estando a “cultura” por consequência no zênite da sua fecundidade e elevação;... Mas não é graças a ele, não é por via do tirano, se bem que as pessoas de cultura elevada gostem de lisonjear o seu Cesar, fazendo-se passar por obra dele.
A verdade é que eles tem necessidade de quietude exterior porque trazem a sua inquietude e trabalho dentro de si. É o momento do auge da traição, da corruptibilidade: pois o amor do ego descoberto de fresco é então muito mais poderoso do que o amor à velha, gasta e decantada “pátria”;
E a necessidade de se defender contra os temerosos caprichos da fortuna abre também as mãos mais nobres, quando um homem rico e poderoso se mostra disposto a ali deitar ouro.
O futuro é tão incerto que as pessoas vivem para o momento: estado de alma que favorece o jogo dos tentadores de todas as espécies; pois que também não se deixa seduzir, e corromper, se não por “um momento” reservando-se um futuro e a virtude!
Sabe-se que o individuo, esse autentico homem “em e para si”, pensa mais nas coisas do momento do que o seu oposto, o homem do rebanho, porque não pensa contar mais consigo do que conta com o futuro; liga-se do mesmo modo aos tiranos, porque se julga capaz de ações e de investigações que não podem contar nem com a inteligência nem com o perdão da multidão...
Mas o tirano ou o César compreende o direito do individuo, mesmo nas suas aberrações, e tem interesse em dar a palavra e até mesmo permitir uma moral pessoal mais audaciosa. Porque pensa dele, e quer que o pensem, aquilo que Napoleão exprimiu um dia da forma clássica que lhe era particular. “Tenho direito de responder a todos os vossos queixumes com um eterno “sou o que sou”.Estou apartado de toda gente e não aceito as condições de ninguém. Deveis submeter-vos a todas as minhas fantasias e achar natural que me entregue a semelhantes distrações”. Foi o que disse a sua mulher, certa vez, quando ela teve razões para duvidar da sua fidelidade conjugal.
As épocas de corrupção são aquelas em que as maçãs caem das árvores: refiro-me aos indivíduos, aqueles que carregam em si as sementes do futuro, os promotores da colonização espiritual, os formadores de novos estados e sociedades. A palavra corrupção torna-se um termo injurioso quando relaciona-se com as épocas outonais de um povo.
38 – Os “explosivos” – Se pensarmos o quanto a força dos jovens tem necessidade de explodir, não nos espanta a pouca finura e falta de dicernimento que se utilizam para se decidir a favor desta ou daquela causa: o que os atrai é o espetáculo do ardor que rodeia uma causa, como se fosse a visão do rastilho incendiado, e não a causa em si própria . Assim os sedutores sutis esforçam-se por os obrigar a esperar a explosão e por distrair a atenção da justificativa da causa: não é com argumentos que se conquistam esses barris de pólvora!

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