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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Fascistas não leem ficção, por Jose Eduardo Agualusa.



De passagem pelo Brasil para a Feira Literária Internacional de Maringá, Agualusa afirma que o País foi “sequestrado por um grupo de delinquentes”

O escritor angolano Agualusua. Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
O escritor angolano José Eduardo Agualusua. Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
As confusões da política brasileira têm deixado assustados não só os próprios brasileiros, mas também aqueles que estão acostumados a visitar o País. O angolano José Eduardo Agualusa aporta por aqui ao menos uma vez por ano e acompanha tudo o que acontece por meio de seus amigos. Morou no Brasil por quatro anos, dois em Pernambuco e dois no Rio de Janeiro. Quando voltou para Portugal, onde reside atualmente, levou consigo um carinho e uma preocupação como se fosse nativo.
Sentado em uma cadeira pouco confortável e sedento por água de coco, Agualusa mostrou-se perplexo com a situação atual do País. A visita a São Paulo foi breve. Apenas cinco horas antes de pegar um voo para o sul, onde participou da terceira edição da Feira Literária Internacional de Maringá. Em maio, assinou um manifesto em Portugal contra o golpe no Brasil, assim como Valter Hugo Mãe, Pilar del Rio, Gonçalo M. Tavares, entre e outros.
Agualusa acha assustador como o Brasil, que avançou tanto nos governos Lula e Dilma, abriu tamanho espaço para o conservadorismo. O discurso de Bolsonaro e o coro que o acompanha é o exemplo mais claro disso. “Bolsonaro não deve ler ficção, porque para ler ficção deve-se ter empatia”, exclamou o luso-angolano-brasileiro, dizendo já ter falado isso para uma amiga.
A notícia do impeachment foi recebida por Agualusa com muita revolta. “O triunfo da estupidez e da injustiça nunca deixa de me surpreender”. Mas disse que esperava o contrário, acreditando até o fim que o bom senso e a justiça prevaleceriam. Não foi o que aconteceu. Para ele, uma presidenta inocente foi julgada por uma maioria de criminosos, o que é inaceitável.
Ele acredita que ir para a rua é a melhor forma de a juventude lutar contra isso: “Espero que aquilo que se sucedeu sirva para despertar o conjunto da sociedade brasileira, em especial os mais jovens. E que o Brasil consiga, ao longo dos próximos meses, produzir novas lideranças e novas ideias”. Segundo ele, também é necessário que jovens comecem a se envolver na política de forma mais direta, pois mesmo as lideranças progressistas dos principais partidos são compostas por figurões antigos.
Na opinião do escritor, o Brasil foi sequestrado por um grupo de delinquentes. De acordo com ele, esse grupo tem como objetivo retomar o poder do Judiciário, já que Dilma permitiu que ele trabalhasse de forma independente do poder político. “Esta luta é – tem de ser! – a luta de todos os brasileiros honestos”, concluiu.
Zelador de causas sociais e políticas, Agualusa esteve envolvido na luta contra o abuso do governo angolano no caso que ficou conhecido como “15+2”, quando ativistas – entre eles o rapper Luaty Beirão – foram presos ao se reunirem para ler um livro no ano passado. Eles foram acusados, arbitrariamente, de estarem tramando uma rebelião contra o governo de José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.

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