Marcadores

terça-feira, 30 de outubro de 2018

‘Vitória de Bolsonaro faz soar um alarme mundial’, por João Paulo Charleaux.


29 Out 2018
(atualizado 29/Out 21h49)

José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da ONG internacional de direitos humanos Human Rights Watch, compara Bolsonaro a Chávez e diz que Brasil se converteu numa das prioridades da organização

Foto: John Vizcaino/Reuters - 03.02.2010
Jose Vivanco
José Miguel Vivanco em entrevista a jornalistas em Bogotá
José Miguel Vivanco foi expulso da Venezuela em 2009 por denunciar violações aos direitos humanos cometidas pelo então presidente Hugo Chávez. O diretor para as Américas da Human Rights Watch, uma das maiores e mais influentes organizações de direitos humanos do mundo, já previa então que o país se tornaria uma ditadura.
Nesta segunda-feira (29), um dia depois da eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, Vivanco disse ao Nexo, de Washington, por telefone, que teme que o Brasil siga caminho semelhante, em alguns aspectos, não apenas ao da Venezuela, mas também ao de países como Filipinas, Rússia, Turquia e outros, que passaram a ser governados por populistas autoritários de diferentes matizes.
A vitória de Bolsonaro “faz soar um alarme que é muito, muito sério”, disse Vivanco. O professor de direito nas universidades Georgetown e John Hopkins, ambas nos EUA, alertou ainda: “Muitos pensam que é preciso estar preocupado com o que um político faz, não com o que ele diz. Nossa experiência mostra que o discurso contrário aos direitos humanos tem que ser sempre identificado a tempo. Do contrário, pode ser tarde demais”.
Ele avisou que pretende “mobilizar a opinião pública mundial e todos os mecanismos disponíveis, tanto na Organização das Nações Unidas quanto na Organização dos Estados Americanos, além dos governos democráticos e amigos que se importam com os direitos humanos, seja na América Latina, na Europa ou na América do Norte, para defender a vigência dos direitos fundamentais no Brasil”.

Qual é sua preocupação com o Brasil a partir do resultado da eleição presidencial?

José Miguel Vivanco Penso que esta é a primeira vez na história moderna da América Latina que por votação popular, numa decisão democrática, alguém cuja plataforma política e cujas promessas de campanha são, na maioria, contrárias a valores e princípios básicos em matéria de direitos humanos, se consagra.
Que um candidato populista como este, com um discurso demagogo desses, chegue ao poder, não é propriamente uma surpresa. Há muitos políticos populistas demagogos eleitos, começando por Donald Trump, nos EUA. Mas a eleição de um candidato que faz apologia à ditadura militar brasileira, que defende o uso da tortura, que promove o fácil acesso às armas por parte dos cidadãos, e que promete que, no futuro, policiais que matem delinquentes sejam premiados, condecorados ou promovidos, implicando numa licença para matar sem prestar contas, alguém que trata os meios de comunicação como fake news, que abertamente adere a posições racistas e discriminatórias contra as mulheres, contra os negros, contra aqueles que têm uma orientação sexual diferente, que ameaça as instituições, incluindo as instituições judiciais, e que, nesta condição, é eleito com o apoio de uma ampla maioria dos eleitores, implica não somente numa ameaça muito séria ao sistema democrático brasileiro e à vigência dos direitos humanos de caráter universal, pelo tamanho do país, pelo fato de o Brasil ser um gigante na América Latina, mas representa também um perigo, um risco muito, muito grave para a defesa dos direitos mais básicos em toda a América.

O que a sua organização pretende fazer em relação a isso?

José Miguel Vivanco Nossa organização tem o mandato de investigar e mostrar a fotografia mais nítida possível do comportamento dos Estados em relação aos direitos humanos no mundo todo. Para nós, a chegada de alguém como Bolsonaro, eleito democraticamente no Brasil, converte o país numa das principais prioridades da organização.
Nossa experiência indica que os discursos e as promessas de campanha, a retórica, especialmente quando se trata de uma retórica tão negativa, tão provocadora, mais que provocadora, tão anti-direitos humanos, como é a dele, é um alarme. Isso faz soar um alarme que é muito, muito sério. É um alarme igual ao que temos hoje em relação a Rodrigo Duterte, [presidente] nas Filipinas. Queremos informar ao mundo tudo o que possa começar a ocorrer no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2019.
Estaremos atentos para registrar como vão se dando os acontecimentos, quais são as políticas específicas que Bolsonaro tentará implementar na hora de cumprir suas promessas de campanha.
Muitos pensam que é preciso estar preocupado com o que um político faz, não com o que ele diz. Nossa experiência mostra que o discurso contrário aos direitos humanos tem que ser sempre identificado a tempo. Do contrário, pode ser tarde demais.
Nós fomos talvez a primeira organização mundial de direitos humanos a fazer soar o alarme em relação a Hugo Chávez na Venezuela. Estou falando de 2003, 2004, quando Chávez começou a abertamente atacar os meios de comunicação, a falar em censura à imprensa, a retirar arbitrariamente a concessão de funcionamento do principal canal de televisão do país, a RCTV, e a impor controles aos meios de comunicação audiovisual, assim como quando Chávez começou a criticar o Poder Judiciário, a falar contra os mecanismos de controle do Estado.
Quando alertávamos sobre isso, muitos nos diziam: “deixe-o tranquilo, isso é parte de um debate político muito polarizado. Não se deve dar atenção a esse tipo de declaração, porque são provocações. Espere para ver se ele vai fazer o que diz”. Eu acho que todos os que baixaram a guarda finalmente lamentaram, depois, terem chegado tarde demais para defender as liberdades públicas e os direitos básicos.
Bolsonaro desenhou claramente um plano de ação. E, nisso, ele foi muito claro. Ele foi muito claro a respeito de suas posições contra os direitos humanos. Isso é mais do que suficiente para nos obrigar a estarmos muito atentos a tudo o que aconteça, para mobilizar a opinião pública mundial e todos os mecanismos disponíveis, tanto na Organização das Nações Unidas quanto na Organização dos Estados Americanos, além dos governos democráticos e amigos que se importam com os direitos humanos. Seja na América Latina, na Europa ou na América do Norte, estaremos muito atentos para mobilizar esses governos, para defender a vigência dos direitos fundamentais no Brasil.

A Venezuela foi um assunto muito recorrente nas mensagens de campanha de Bolsonaro, como uma ameaça de que o Brasil, pelas mãos do PT, seria convertido numa nova Venezuela. Mas o sr. menciona a Venezuela agora como um risco de destino ao qual o Brasil poderia chegar pelas mãos do próprio Bolsonaro. Como esses extremos, à direita e à esquerda, chegam ao mesmo lugar em relação aos direitos humanos?

José Miguel Vivanco A única diferença entre o discurso de extrema direita e o discurso de extrema esquerda é a ideologia. Mas ambos estão unidos por um discurso messiânico, fundamentalista e populista, um discurso que ignora ou desconhece as instituições democráticas.
São políticos que surgem prometendo o paraíso na Terra, quando nossos povos estão passando por etapas difíceis, quando há um grande desprestígio da classe política, quando há medo e há incerteza em relação ao futuro, quando a credibilidade do jogo democrático está em jogo — esse é exatamente o caldo de cultura no qual aparecem esses falsos profetas, esses messias que exploram os temores das pessoas e que oferecem soluções demagogas, simplistas, como a mão dura, a força bruta. Eles dizem que as pessoas devem depositar uma fé cega neles, com a promessa de que, com isso, as coisas mudam. Mas toda a história, toda a nossa experiência demonstra que, com a ausência de controles institucionais, há mais abusos, mais violência. Quando as pessoas têm acesso fácil às armas, há inevitavelmente mais violência. Quando os policiais recebem autorização para matar antes de perguntar, também há como consequência mais violência, mais milícias, mais grupos de extermínio e mais injustiça, mais abusos.
Insisto: a diferença é essencialmente ideológica, mas o populismo é o mesmo. A irresponsabilidade é a mesma. A aposta no caudilhismo é a mesma. E digo mais: muitas vezes, um dos principais obstáculos para os que promovem a vigência dos direitos humanos são os setores que se deixam levar pela ideologia de maneira tal que começam a aplicar um duplo padrão, que é um padrão de fazer vista grossa para fatos atrozes, sob a justificativa de possuir uma afinidade ideológica em relação a um determinado governo.
Quando essas pessoas se deixam levar por afinidades ideológicas — que são perfeitamente legítimas — é preciso parar, distinguir e dizer: “eu me sinto ideologicamente simpatizante deste modelo, mas rechaço categoricamente as violações aos direitos humanos, as perseguições contra minorias e os abusos contra as liberdades de expressão que este mesmo governo promove. Mesmo estando próximo ideologicamente deste governo, sou capaz de identificar, de reconhecer, que este modelo, neste país, está cometendo ou vai cometer violações de direitos humanos, porque o líder é autoritário, reivindica a ditadura e diz que o pior erro da ditadura foi ter torturado sem ter matado as vítimas da repressão”.
Com esse tipo de proposta, são claríssimos os problemas que Bolsonaro representa para os direitos humanos, e é clarríssimo identificar onde estão as semelhanças entre esse discurso autoritário e o discurso que Nicolás Maduro promove na Venezuela.

Líderes populistas e nacionalistas de extrema direita acusam organizações como a sua, assim como a imprensa, de tentar limitar ou controlar governos autônomos, que foram eleitos democraticamente justamente para executar o plano que foi apresentado ao longo de uma campanha. Como o sr. vê essa acusação de intromissão?

José Miguel Vivanco Isso faz parte do repertório dessas pessoas. Foi o que fez Alberto Fujimori no Peru. Ele foi eleito democraticamente. Derrotou [o escritor peruano, prêmio Nobel de Literatura e candidato presidencial na eleição de 1990, Mario Vargas] Llosa, num contexto muito difícil que o Peru então atravessava, e, um ano depois de tomar posse, deu um autogolpe e começou a governar diretamente como um ditador. Ele perseguiu a sociedade civil, os meios de comunicação e o Poder Judiciário. Há muitos exemplos como esse.
São governantes que acreditam que são eleitos com poderes para fazer e para desfazer. Acham que basta a legitimidade de origem: se é eleito democraticamente, tem liberdade para governar e para fazer o que quiser, pois tem o mandato dado pela maioria. Eles não entendem que os valores democráticos implicam, primeiro, serem eleito em eleições limpas, competitivas e sem fraudes. Mas, depois, é preciso governar democraticamente. E o governo democrático se define pelo respeito às minorias, não às maiorias. E pelo respeito às instituições do Judiciário, à liberdade dos meios de comunicação, para que possam promover sempre um debate público aberto e sem censura, e à sociedade civil.
Há exemplos à esquerda e à direita de caudilhos populistas que atacam principalmente e primeiramente a sociedade civil, os meios de comunicação e os juízes. Aí está centrada toda a artilharia. Foi o que fez Fujimori, foi o que fez Álvaro Uribe [presidente da Colômbia de 2002 a 2010], foi o que fez Rafael Correa [presidente do Equador de 2007 a 2017], foi o que fez Hugo Chávez [presidente da Venezuela de 1999 a 2013] e Nicolás Maduro [sucessor de Chávez, desde 2013 até hoje], assim está fazendo Donald Trump nos EUA, assim faz Viktor Orban [primeiro-ministro da Hungria desde 2010], Recep Erdogan [presidente da Turquia desde 2014] e Vladimir Putin [presidente da Rússia desde 2012].
Há inúmeros exemplos de líderes que assumiram em eleições democráticas, ou não tão democráticas assim, mas que, logo, passaram a governar como autocratas. Para eles, o primeiro alvo da artilharia são as vozes independentes, são os mecanismos de controle, os especialistas que falam sobre mudanças climáticas, os especialistas que podem converter-se numa pedra no sapato para o governante autoritário. Por isso, nós estaremos extremamente atentos ao trabalho dos juízes, dos meios de comunicação independentes e, com certeza, da sociedade civil brasileira.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Não ignore as mudanças do Brasil de Bolsonaro, por Leandro Demori.

29
Montagem: The Intercept Brasil; Imagem: Reprodução/Facebook

O brasileiro votou em Jânio Quadros porque estava cansado da corrupção, votou em Fernando Collor porque estava cansado da corrupção, votou em Jair Bolsonaro porque estava cansado da corrupção. A corrupção que nos acompanha desde sempre é o maior cabo eleitoral de candidatos que se apresentam como antissistema e antipolítica, mesmo que sejam, eles mesmos, parte da mesma geléia moral que dizem combater. Jair Bolsonaro, apoiado por grandes meios de comunicação, por empresários milionários e por pastores poderosos é um candidato do sistema. Uma ponta diferente do sistema que costuma eleger políticos no Brasil. Mas, ainda assim, do sistema.
A campanha de Jânio, em 1960, talvez tenha sido a mais parecida com a de Bolsonaro: Jânio cobrava a moralização da administração pública e queria varrer os corruptos – sua música de campanha falava em uma “vassourinha” que faria o serviço. O “Brasil moralizado” que Jânio tentou implantar regulou o tamanho do maiô das candidatas à miss, a exibição em anúncios na TV de maiôs e peças íntimas de uso feminino e até o uso dos biquínis nas praias. Moralismo sobre a sexualidade. Alguma semelhança com Bolsonaro? Jânio admitia que o Brasil tinha crescido nos anos anteriores, mas falava – enfatizava – que a crise e a corrupção estavam destruindo a nação. Sim, muitas semelhanças com a campanha de Bolsonaro.
Bolsonaro passou anos viajando o país e ouvindo seus lamentos em meio à crise. Como nunca teve problemas em dizer barbaridades, foi inteligente em colher as barbaridades alheias e se tornar um megafone estridente de impropérios. Sim, há gente no Brasil que prefere um filho morto do que gay – e, para cada uma das frases que saem de sua boca, estejamos certos, há gente para aplaudir ou, no mínimo, relevar – entre os exatos 55% do eleitorado que o elegeu no dia de hoje. Bolsonaro é um de nós sem os freios do superego.
Mas a onda anticorrupção surfada pelo candidato não seria tão alta sem alguns fatores. O primeiro deles é óbvio: a corrupção existiu nos governos petistas e segue existindo no governo Temer. Desde 17 de março de 2014, primeira fase da operação Lava Jato, o país acompanha o desenrolar dos casos como uma novela com horário para começar, todas as noites, nos telejornais. E aqui não importa a avaliação interna que o Partido dos Trabalhadores tem sobre si – “são casos isolados, não somos o único partido corrupto” etc. O que importa é a percepção das pessoas sobre o PT. E a maioria delas queria Lula preso em janeiro e quer que ele siga preso hoje. As pessoas associam o PT à corrupção. O PT ignorou a voz do povo e imaginou que uma população amedrontada pela insegurança e que deseja redução da maioria penal, aumento de penas, endurecimento das condições do cárcere e fim de “privilégios”, como a progressão de pena, fosse votar em um… preso.
Gleisi Hoffman, atuou mais como advogada de Lula do que como cabo eleitoral de Haddad.
Fernando Haddad, em campanha, falou sobre os erros do PT, mas já era tarde. A pauta anticorrupção caiu no colo da direita enquanto o PT insistia em não sentar frente a frente com seus antigos eleitores, gente que confiou no partido e que queria apenas um sinal de que aquilo tudo não se repetiria. A maioria das pessoas que elegeu Bolsonaro não é fascista, e são as mesmas que votaram no PT nas últimas quatro eleições. Ninguém ganha nas urnas sem a classe média.
Mas o partido preferiu gastar mais energia na defesa de Lula do que na reconciliação possível com a população. A defesa judicial do ex-presidente – que é legítima e deve ser levada às últimas instâncias, como faria qualquer condenado que se julga inocente – foi misturada com a campanha de modo catastrófico. A presidente do partido, Gleisi Hoffman, atuou mais como advogada de Lula do que como cabo eleitoral de Haddad, muitas vezes atravessando o samba de quem pensava em votar no PT, mas não achava certo usar o mandato para dar um indulto ao ex-presidente. Em determinado momento, o partido pediu nas redes sociais que as pessoas votassem por Lula (#VotePorLulaVote13). Alguém sem emprego, alguém com subemprego, alguém que teve que deixar os estudos por falta de dinheiro… você consegue imaginar que essas pessoas votariam “por Lula”?
No meio do caminho, o PT queimou aliados porque não aceitava deixar o protagonismo. Zé Dirceu falou em “tomar o poder”. Lula soltou carta na última semana de campanha detonando a imprensa. Todas pareceram apenas energia desperdiçada que poderia ser usada na desconstrução de Bolsonaro e no fortalecimento de Fernando Haddad, um bom nome que pode apontar para o futuro do partido, mas que foi jogado na cova dos leões.

 O fim da internet

A mudança que sentimos na internet brasileira durante essa eleição pode ser comparada àquela vivida pelo blogueiro iraniano Hossein Derakhshan. Em 2015, depois de seis anos na prisão, ele tentou reativar seu blog de sucesso e notou que as redes sociais haviam destruído tudo. Escreveu ele:
“As pessoas costumavam ler meus posts cuidadosamente e deixar vários comentários relevantes, e até mesmo aqueles que discordavam de mim voltavam sempre para me ler. Não tinha Instagram, Snapchat, Viber ou WhatsApp. Em vez disso, existia só a web e, na web, havia blogs: o melhor lugar pra encontrar pensamentos alternativos, notícias e análises.”
Bolsonaro vai criar sua própria imprensa.
A destruição da internet foi terminada este ano durante o período eleitoral. Candidatos usaram uma máquina organizada de distribuição de “notícias” em massa, a maior parte delas, enlatados com histórias pela metade, ou apenas mentiras em estado bruto. As fake news, que vinham mostrando força na web desde o impeachment, completaram o serviço em 2018. Pode-se dizer que ajudaram a eleger Jair Bolsonaro em alguma medida, mesmo que isso não explique a derrota do PT.
Estamos perdidos em bolhas de algoritmos cada vez mais decisivos. Ficamos dez horas por dia plugados na rede. A vida digital de muitos de nós já é maior do que a que vivemos lá fora, e nossos afetos estão quase todos no zap. Planos limitados de dados fazem com que a gente se informe sem clicar em links, sem ler nada além das manchetes. Viramos um arquipélago de ilhas surdas.
Em 2006, quando vivíamos o auge dos blogs e da utopia de que a internet seria o celeiro do jornalismo independente, eu não acreditaria que em 2018 a estética e o lema seriam usados por um dos maiores espalhadores de lixo digital do país, como o site Folha Política, que foi banido do Facebook. Hoje, esse e outros sites não são apenas uma realidade: eles influenciam milhões de pessoas e deverão ser premiados pelo presidente eleito com verbas estatais. Descontente com a imprensa que o investiga justamente, Bolsonaro vai criar sua própria imprensa.
Todo o caos fértil que a rede nos pareceu em meados dos anos 90 e depois, toda aquela libertação dos meios tradicionais nos anos 2000, se transformou em um engenho de algoritmos no qual nós somos os animais a empurrar a roda. Animais que votam com a cabeça entupida de desinformação.

 A direita venceu a guerra cultural

Você provavelmente desdenha do filósofo Olavo de Carvalho, mas ele venceu. A ideologia olavista de que a esquerda brasileira dominava a narrativa cultural para se impor politicamente encontrou eco em uma nova geração de jovens votantes que, por natureza, são antiestablishment. E quem foi o establishment brasileiro na última década e meia? O PT. Some isso à corrupção e à crise e temos uma geração de alunos dos cursos de Olavo de Carvalho que passam o dia repetindo suas platitudes pela internet, muitas delas em consonância total com as ideias de Bolsonaro.
A estratégia da direita para vencer a guerra cultural passou por algumas etapas. A principal delas foi forjar ou importar escândalos pré-fabricados e falsas polêmicas. Uma delas: “A esquerda defende a pedofilia”. Militantes de direita fizeram a mesma “acusação” absurda contra progressistas nos Estados Unidos. No Brasil, até mesmo a nadadora Joanna Maranhão, uma vítima de pedofilia, foi acusada de defender pedófilos.
A exclusão das pessoas “menos letradas” do debate público por parte da esquerda ilustrada afastou o eleitorado.
Outra polêmica fabricada que conquistou parte do eleitorado é a crítica à lei Rouanet. Eu fiz um cálculo pra mostrar o quão pequena é essa pauta em termos de orçamento público: o custo anual da Rouanet equivale a uns 5 anos de cafezinho nos órgãos federais. Bolsonaro conseguiu usar um espantalho como cavalo de batalha, e todo mundo caiu.
Há uma coisa que deve ser aprendida com o olavismo: a exclusão das pessoas “menos letradas” do debate público por parte da esquerda ilustrada afastou o eleitorado. A marcha bolsonarista que venceu as eleições começou no oeste do Brasil, nos rincões povoados de gente que não tinha “nível” para saber o que era uma pessoa transgênero ou que não entendia por que ciclovias deveriam ser priorizadas em vez de políticas de emprego. Elas encontraram abrigo no YouTube da direita.

A imprensa perdeu

É preciso também falar sobre a insistência da imprensa em conversar só com a elite intelectual. Sobre o linguajar complicado, a profusão de jargões, as matérias escritas para serem elogiadas pelos colegas jornalistas, para terem lugar cativo nas newsletter de iniciados, e para serem ignoradas pela população em geral. Esse sistema perdeu, foi humilhado por memes e notícias falsas. A separação antiga entre “jornalismo e opinião” – como se não pudesse haver “jornalismo” mentiroso e “opinião” informativa e embasada – perdeu o sentido. Porque não importa o que nós, jornalistas, achamos sobre esses velhos cânones, o que importa é a percepção das pessoas.
Estabelecer uma ligação com elas, daqui para frente, requer outro tipo de abordagem. De que adianta tentar se mostrar isento praticando jornalismo declaratório que, no fim, é totalmente parcial? O jornalismo que só faz repetir o que alguém disse será ainda mais usado como instrumento de propaganda daqui para frente. Não é mais possível construir uma manchete em que Bolsonaro acusa o PT de fraude nas urnas sem dizer que ele não tem provas.
Só 10% dos jovens confiam na imprensa. As pessoas não diferenciam artigo de reportagem e isso passou a ser irrelevante em um mundo de guerra cultural onde a regra é a mentira. Isenção e honestidade não são sinônimos, é perfeitamente possível se mostrar isento sendo desonesto, assim como é possível assumir a defesa de um princípio com a espinha ereta. O que o jornalismo precisa é de posicionamento claro, de transparência com o público e de um discurso honesto capaz de ser simples e convincente. O jornalismo precisa parar de fingir que não é parte do jogo e que existe só para “reportar os fatos”. Isso pode até parecer isento, mas é desonesto. A julgar pelas declarações de Bolsonaro – se ele não mentiu para seus eleitores – teremos anos pesados pela frente. É preciso tomar pé disso.

Olavo de Carvalho: o ideólogo do conservadorismo paranoico nacional, por Alexandre Andrada.


Ainda que o WhatsApp seja a plataforma preferida na divulgação de notícias falsas e boatos nessas eleições, o YouTube também se tornou um dos principais meios de comunicação dos conservadores brasileiros. Quem analisa o ranking dos vídeos “em alta” da plataforma logo percebe a predominância de figuras da direita nacional. O YouTube, aliás, foi responsável pela fama e eleição de alguns deputados da bancada bolsonarista.
Desses pregadores de ódio e desinformação, destaca-se a figura de Olavo de Carvalho, o principal guru do radicalismo de direita no Brasil há mais de duas décadas. Dos EUA, onde vive, o pensador escreveu livros e deu cursos online que formaram uma geração de brasileiros.
Um de seus vídeos mais recentes, intitulado “O aviso mais importante que já dei aos brasileiros”, é uma rigorosa exposição do estado da arte do antipetismo vesicular, crônico, paranoico.
Segue uma tentativa de análise de seu pensamento, que ajuda a entender não apenas a cabeça de Olavo, mas a cabeça dos entusiastas de Jair Bolsonaro.
Olavo começa seu vídeo falando sobre o atentado sofrido por Bolsonaro. Em suas palavras, um “crime cometido por um membro do PSOL”. Aqui já começa o espetáculo de mentiras e meias verdades, características da retórica radical.
O autor do atentado, ainda que tenha sido filiado ao PSOL até 2014, é notoriamente uma pessoa desequilibrada e que, segundo investigação da própria Polícia Federal, agiu sozinho. Mas ao chamá-lo de “membro do PSOL”, Olavo instiga o ódio pelos agrupamentos de esquerda.
Como a polícia chegou a conclusões pouco excitantes, Olavo faz questão de colocar em dúvida a isenção do delegado responsável, chamando-o de “assessor condecorado pelo governador petista de Minas Gerais”. Ademais, diz que ele foi “proibido de divulgar os dados da investigação” de modo a “não ajudar o Bolsonaro”.
Vê-se aqui a conspiração esquerdista: o autor da facada é “membro do PSOL”, e o delegado é mancomunado com o “governador petista”.

Partidos Comunistas do Brasil

O Capitão Ensandecido reverberou essa mesma teoria em cadeia nacional.
Olavo faz então uma digressão histórica. Para entender o grande domínio da esquerda, diz, é preciso voltar à redemocratização do país.
Segundo sua paranoia, “todos os políticos que emergiram” naquele período e/ou “voltaram do exílio”, “eram esquerdistas”. Sendo que “alguns, profundamente comprometidos com o partido comunista”.
É certo que figuras de esquerda, como Luiz Carlos Prestes e Miguel Arraes, puderam retornar ao Brasil a partir da anistia em 1979.
Mas para Olavo, em verdade, eram “todos esquerdistas”.
A única exceção seria o PFL (Partido da Frente Liberal, atualmente Democratas), que nasceu de um racha no PDS, que deu também origem ao PP (Partido Progressista).
Porém, esse partido seria apenas “nominalmente liberal”, mas que tentava, a todo custo, mostrar que “não era tão direitista assim”, mostrando-se “a favor da causa gay, feminista, abortista”.
O “filósofo”, no alto de sua paranoia, insiste, assim, que a democracia brasileira era 100% comunista.
Aos mais jovens, vale lembrar, o PFL foi o grande partido a se coligar com FHC em 1994, tendo na sua liderança as figuras do catarinense Jorge Bornhausen e o baiano Antônio Carlos Magalhães.
Bornhausen, em 2005, ao falar sobre os petistas que agonizavam durante o escândalo do mensalão, afirmou: “estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos”.
ACM, em discurso no Senado em 2006, afirmou: “Quero dizer aos comandantes militares: reajam enquanto é tempo! Antes que o Brasil caia na desgraça de uma ditadura sindical, presidida por um homem, mais corrupto que já chegou ao governo da República”.
Esses são os “moderados”, segundo Olavo.
Ao afastar o PFL, Olavo afirma que havia três grandes partidos no Brasil: PT, que seria o “comunista mais radical”, o PSDB, o “comunista mais adocicado” e o PMDB, que “sempre foi controlado pelo Partido Comunista” e que “tinha a função de parecer o partido isento”, mas que estaria “100% a serviço dos comunistas”.
O “filósofo”, no alto de sua paranoia, insiste, assim, que a democracia brasileira era 100% comunista. Ou melhor, 99,9%, já que o PFL era menos comunista que os demais. Essa democracia, pois, seria uma farsa, já que ia contra os anseios da população, que é em sua maioria, conservadora.
Os conservadores, porém, não teriam partido, não teriam jornal, não teriam universidade, não teriam uma revista semanal conservadora…
Mas os comunistas não dominam apenas o Brasil: o “comunismo é uma rede internacional”, que tem “apoio das megafortunas”, apoio dos “bancos”, de gente como George Soros e Mark Zuckerberg.
Como os fanáticos que enxergam a imagem da Virgem numa mancha na parede, Olavo enxerga a imagem do comunismo até nos bilionários do capitalismo contemporâneo.

A Igreja vermelha

Nesta altura, Olavo cita o seu satanás particular: o Foro de São Paulo.
Diz que a democracia brasileira foi “calculada para consolidar o poder comunista/socialista, mais ainda após a fundação” do Foro.
Foro esse que em sua análise é “uma organização nitidamente criminosa, onde partidos supostamente legais, se associavam intimamente a organizações criminosas como as FARCS, o MIR, que tinha o monopólio dos sequestros na América Latina”, além de ser a “grande fornecedora de cocaína ao mercado brasileiro”.
E Lula, nosso ex-presidente, comandava essa organização, junto com o comandante das FARCS.
Como profeta, Olavo afirma que “durante 16 anos, a mídia inteira negou a existência do Foro”, que seria “a maior entidade política que já existiu na América Latina”.
Fundado em 1990, o Foro de São Paulo apareceu nos arquivos do jornal O Estado de São Paulo em 1997, por exemplo, quando da realização de seu 7º encontro, realizado em Brasília.
Foro de São Paulo no Estadão
Mas a suposta ocultação do Foro faz com que Olavo afirme que “a mídia inteira faz parte desse esquema”. Alerta seus seguidores que se algum deles ainda “tem um pingo de confiança na Folha de São Paulo, Globo, Estadão, Veja”, etc., isso significa que “você está sendo simplesmente enganado”. Deve-se negar o jornalismo e os jornalistas, pois essa classe de trabalhadores é “100% cúmplice desta coisa, são todos criminosos”.
E assim se faz o viés anti-intelectual e contra o jornalismo profissional, que são pilares do radicalismo verde-amarelo que tanto sucesso tem obtido no Brasil.
É assim que se convence a massa que os jornais são todos mentirosos e que eles só devem acreditar na verdade emanada a partir de centros e indivíduos autorizados pelo Führer, pelo Duce, pelo Mito.
Ao tratar de outro tema inescapável dos radicais brasileiros, Olavo afirma que “Hugo Chávez destruiu” a economia venezuelana, por ter financiado “o terrorismo e o narcotráfico no mundo inteiro, com a ajuda do sr. Lula e o PT”. Adiante, afirma que “essa gente está envolvida numa rede criminosa de um tamanho descomunal”.
É esse tipo de discurso que transformou a política no nosso país em uma barbárie.
Note-se que, para Olavo e seus seguidores, o PT não é um partido político, não é um agrupamento ideológico, é uma rede internacional de criminosos, envolvidos com tráfico de drogas, assassinatos, terrorismo, etc.
Essa é o elemento central do antipetismo patológico que vivemos.
Eis outro elemento do radicalismo nacional: divide-se a sociedade entre bolsonaristas e “petralhas”. Os primeiros são patriotas, cidadãos de bem, amam suas famílias, têm boa higiene pessoal, trabalham e estudam. Os outros, os “judeus” da ocasião atual, são os apátridas, os canalhas, os que querem destruir os valores familiares, os sujos, os parasitas, os ignorantes.
Exagero? Olavo afirma que “essa gente” – vocês devem saber a quem ele se refere – “está matando milhões de pessoas no Brasil, são genocidas todos eles”.
Olavo encerra afirmando:
“Gente, acordem, não é uma disputa política, eleitoral, é uma disputa contra o banditismo organizado, contra criminosos psicopatas, gente sem escrúpulo de espécie alguma, incluindo os colaboradores mais suaves, tipo Alckmin… Acordem, ou é eleger o Bolsonaro, ou dizer adeus ao Brasil”.
É esse tipo de discurso que transformou a política no nosso país em uma barbárie. Que provocou agressões de todo tipo às vésperas das eleições. É esse o tipo de mensagem que se entranhou no bolsonarismo mais radical. É essa mensagem de ódio e de divisão que Bolsonaro vai pregar, insistir e aumentar.
Nós, os que não somos bolsonaristas, mesmo os “colaboradores mais suaves”, estamos em risco. Nossa moral, nossa integridade física e emocional, tudo isso pode ser alvo de linchamentos.
Poucas vezes o futuro foi tão lúgubre neste país.
Imagem em destaque: O escritor, conferencista, ensaísta, jornalista e filósofo brasileiro, Olavo de Carvalho, o papa do conservadorismo brasileiro, em Richmond, nos EUA.

Carta de Olavo de Carvalho em 2006 anunciava as discussões do Brasil de hoje, por João Brizzi, Fabricio Pontin.

Em junho de 2006, Olavo de Carvalho estava em um beco sem saída.
Ele havia se mudado há pouco mais de um ano para os Estados Unidos, época em que também perdeu sua coluna no jornal O Globo. Seu estilo bonachão e irônico, um estranho cruzamento da sofisticação clássica com a gritaria patriótica de Enéas Carneiro, não tinha feito muitos amigos para Olavo nos círculos intelectuais.
Parece estranho imaginá-lo andando entre jornalistas, mas Olavo acumulava passagens por Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, entre outros. Em dado momento dos anos 90, chegou a trocar farpas com Muniz Sodré, um dos fundadores da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar dos desafetos criados, Olavo teve todo o tempo do mundo para estudar seu alvo – a esquerda brasileira – com alguma proximidade.
Planos traçados, o filósofo escreveu, no dia 20 de junho de 2006, uma carta pedindo doações pela internet para terminar um livro.

Identificando o inimigo

“Desde que cheguei aos EUA, em maio de 2005, assumi como dever pessoal, fora e independentemente do meu trabalho de correspondente jornalístico e da preparação do livro A Mente Revolucionária, informar ao maior número possível de jornalistas, intelectuais, empresários e políticos americanos a verdade sobre o estado de coisas no Brasil, a abrangência dos planos do Foro de São Paulo, a aliança entre partidos de esquerda e organizações criminosas, a colaboração ativa e essencial do governo Lula na revolução continental cujas personificações mais vistosas são Hugo Chávez e Evo Morales.”
No espaço de uma década, a ideologia de Olavo conseguiu derrubar um presidente e eleger outro.
Como diabos um intelectual marginalizado e exilado consegue influenciar, longe do Brasil, um movimento e se torna um dos maiores atores da direita na história recente do Brasil?
Para compreender isso precisamos, antes de mais nada, fazer algo que é proibido dentro dos altos círculos intelectuais brasileiros. Teremos de reconhecer alguns méritos de Olavão.
Entre 1994 e 1996, o escritor lançou uma uma triologia mezzo filosófica mezzo crítica à esquerda, na qual ele diz que a “elite formadora da opinião pública” teria aparelhado universidades, veículos de comunicação e o raio que o parta na missão de instaurar a mentalidade comunista sobre a incauta população brasileira. Na carta em que pede doações, ele explica as intenções do livro, nunca publicado e que teria objetivo imediato de “conscientizar a elite americana da loucura que faz ao dar suporte político, jornalístico e financeiro a organizações latinoamericanas de esquerda” que conspirariam “no sentido de manter uma ajuda bilionária sem a qual a revolução comunista na América Latina morreria de inanição”.
Olavo vai adiante e explica como, nos Estados Unidos, aprendeu o que é democracia:
“A democracia não dá liberdade a ninguém. Apenas dá a cada um a chance de lutar pela liberdade. A gente percebe isso, materialmente, na coragem e disposição de combate com que tantos americanos, hoje, se erguem contra o establishment esquerdista chique e não raro conseguem vencê-lo usando os meios postos à sua disposição pelo Estado de direito. Esses meios estão também ao alcance de quem deseje restabelecer a verdade sobre o Brasil.”
Para além disso, o filósofo goteja nomes famosos – Rockefeller, Foro de São Paulo, Ford e por aí vai – na missão de estabelecer ligações financeiras e políticas que justificariam a tal ascensão da esquerda no Brasil.
De certa forma, é como se a carta de Olavo fosse recitada a cada defesa de Bolsonaro, a cada fala de Kim Kataguiri pelo MBL e a cada briga no Zap da família. Mas se A Mente Revolucionária nunca saiu, como ele conseguiu espalhar a palavra?

O período de transição

No mesmo ano, Olavo começou a publicar o True Outspeak, podcast que usava para comentar política e cultura. Mas foi só em 2009 que ele deu início ao que seja, talvez, seu trabalho mais importante: o Curso Online de Filosofia.
Olavo reconheceu uma carência enorme de orientação por parte não apenas de jovens de direita, mas de jovens – ponto. Olavo ofereceu uma saída com uma linguagem sofisticada o suficiente para que o seu alvo não se sentisse burro, mas engraçada o suficiente para que ele se sentisse legal, e ofereceu isso nos termos da internet. Olavo criou fóruns de discussão, fazia crônicas semanais temáticas junto com apostilas de orientação intelectual falando dos clássicos gregos em uma linguagem acessível. Olavo, acima de tudo, entregava (e ainda entrega!) um excelente produto que dava retorno ao investimento feito pelo aluno.
Imaginem a surpresa de seus estudantes. Este cara que está nos Estados Unidos e manja de filosofia, misticismo, política e fala um monte de palavrão, esse cara responde minhas mensagens!, fala comigo como se eu fosse uma pessoa normal!, diz que eu sou inteligente!
Diante da postura intelectual dos baluartes da alta cultura nacional, que perdem tempo falando mal de funk enquanto vomitam lugares comuns sobre psicanálise e ignoram qualquer manifestação ou sentimento popular como uma espécie de sujeira acrítica, Olavão oferece uma alternativa: um mecanismo de inclusão dentro de uma espécie de alta cultura alternativa, algo que é, ao mesmo tempo, uma contracultura e uma comunidade onde transitam pessoas que acreditam ter acesso a um caminho alternativo – e melhor! – para pensar o mundo.
livros-1540827230
Eram quatro os livros na mesa de Jair Bolsonaro durante o primeiro discurso do Presidente eleito: a ‘Bíblia Sagrada'; a constituição brasileira de 1988; ‘Memórias da Segunda Guerra Mundial’, de Winston Churchill; e ‘O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota’, de Olavo de Carvalho.
Até 2013, o olavismo era consideravelmente periférico, ainda que bem-sucedido. Entre 2006 e 2013, Olavo alimentou seus fóruns, fez visitas guiadas para seu bunker nos EUA, editou livros e organizou transmissões semanais em áudio e vídeo com sucesso absurdo. Também reeditou seus trabalhos de leitura dos clássicos (especialmente o Jardim das Aflições, livro da trilogia que o próprio Olavo ainda encara como sua magnum opus), e foi editado por Felipe Moura Brasil, influenciador político da Jovem Pan e O Antagonista, em O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota, coletânea de escritos seus.
Este último foi um divisor de águas: lançado em 2013, chegou às prateleiras das livrarias ao mesmo tempo em que o pessoal de verde e amarelo vagarosamente começava a aparecer nas ruas e a bater panelas. De repente, a frase “Olavo tem razão” aparecia em protestos. Figuras em preto e branco com o Olavão fumando eram carregadas por jovens que agora repetiam incessantemente uma ladainha sobre Foro de São Paulo, doutrinação gayzista-comunista e a presença de cloro na água para emascular nossos jovens – essa última é do Doutor Fantástico, mas vá lá. O livro teve mais de 300 mil cópias vendidas; mais de 12 mil alunos passaram pelas fileiras de seus cursos.
O estrago ainda era ignorado, mas já estava feito.

Olavo hoje

26-10-18-olavo-2-1540592082
Foto: Vivi Zanatta/Folhapress
De lá para cá, Olavo deixou de ser uma figura periférica para gradualmente se tornar a figura intelectual mais importante e influente do Brasil. Essa frase não vai nos fazer nenhum novo amigo nas universidades públicas, mas dane-se: Olavo de Carvalho se torna a figura intelectual mais importante e influente do Brasil ao entender que existe um movimento carente de uma linguagem que possa criar aderência rápida, que possa capturar a imaginação das pessoas sem grandes complicações e que, sobretudo, não ofenda as pessoas as chamando de burras – ou, para ser mais preciso, dizendo a todos que são burros, menos a seus seguidores.
Olavo detesta Gramsci. O velho marxista italiano admirado por muitos dos ideólogos do PT, inclusive, é um dos alvos mais constantes de ataque por parte do Olavão. Desde 1994 alguém – não nós – ouve o Olavão falando da nova classe intelectual, da multiplicação de uma hegemonia de esquerda, e usando os conceitos de Gramsci para acusar o governo Fernando Henrique Cardoso, ou Lula, ou Dilma, desta ou daquela nova e relevante conspiração para dominar tudo que a sociedade civilizada considera importante. É irônico, portanto, que Olavo, mais que ninguém no Brasil de hoje, se encaixe tão bem com o que Gramsci chamava de “intelectual orgânico” – aquele que se mantém conectado aos dilemas que o originaram.
Olavão, ao verificar que não havia clima para o tipo de discurso que ele andava fazendo ali no início dos anos 2000, fez um movimento estratégico para criar esse clima. Ele explora vulnerabilidades do nosso sistema educacional e da própria configuração do nosso ensino superior; ele explora a atitude classista da alta intelectualidade carioca e paulistana que teima em discutir esse ou aquele detalhe na obra Adorno e não se dá conta que está alienando uma fatia enorme da população que teria, inclusive, potencial de colaborar para a construção de uma universidade realmente plural.
É fácil acusar seus admiradores de serem burros, manipulados, idiotas. Mas fazer isso é garantir uma manada de novos admiradores ao Olavo. É fácil dizer que Olavo é maluco, pirado, que ele comete erros na interpretação do livro Z da Metafísica de Aristóteles no Imbecil Coletivo, ou que a interpretação que ele faz deste ou daquele aspecto da fenomenologia husserliana é completamente inaceitável. Tudo isso é muito fácil. E também estúpido.
O leitor de Olavo está feliz da vida que alguém esteja falando com ele sobre todos esses temas ao mesmo tempo que fala sobre política, religião, mostra foto dos cachorros, vai caçar, admite que errou ou que acertou e ainda por cima lacra muito nos debates com esquerdopatas. O leitor do Olavo tem uma comunidade de afeto, política e intelectual, que ele dificilmente teria conseguido em qualquer universidade, especialmente nos termos que o professor oferece: uma inclusão sem conversão automática. É uma conversão gradual, voluntária, comunitária. Quando visto de perto, o fenômeno é absolutamente espantoso.
Agora, em 2018, Olavo pauta a direta e, indiretamente, a linguagem de Bolsonaro no horário eleitoral e tem impacto relevante em alguns dos deputados federais mais votados em São Paulo. Olavo virou um guru para toda a nova direita que se consolidou nestas eleições. Essa consolidação do discurso de Olavo, que passou da insignificância para a periferia e da periferia para o mainstream talvez tenha atingido seu ponto mais alto no último capítulo dessa novela ridícula, com Caetano Veloso atacando Olavo por ser autoritário e pedindo a “mobilização daqueles que não concordam com esse tipo de discurso”.
Caetano agora – quem diria? – ocupa posição periférica no discurso cultural brasileiro. Ele precisa surfar a onda de Olavo para tentar aparecer para além de seu público podre de rico sedento por rimas ricas.
O ataque soa como um ato de desespero, fruto da percepção de que uma oportunidade foi perdida; uma tentativa de entrar correndo num trem que já passou. Caetano agora – quem diria? – ocupa posição periférica no discurso cultural brasileiro. Ele precisa surfar a onda de Olavo para tentar aparecer para além de seu público podre de rico sedento por rimas ricas. Caetano Veloso, um dos grandes símbolos da alta cultura, que já foi notícia até quando estacionou o carro no Leblon, precisa apelar para ser reconhecido por Olavo como alguém digno de discussão para realmente aparecer.
Exausto, ele declara no final da carta:
“Preciso de ajuda já. Não quis pedi-la antes de chegar ao meu limite. Já cheguei. Por favor, me ajudem a salvar a honra do Brasil. Não quero chegar à velhice extrema pensando que vim de um país que se deixou estrangular sem exercer nem mesmo o direito de espernear. Quero exercer esse direito até o fim, com esperneadas vigorosas que pelo menos deixem o assassino da pátria com uma inesquecível dor na bunda.”
Se ele era uma piada, cabe perguntar quem está rindo agora.
A cultura agora é do Olavão. A gente só vive nela.

CM8 Internacional - 29/10/2018, por Carlos Eduardo Silveira.

Notícias internacionais sobre o Brasil; Notícias do Mundo; e Artigos



29/10/2018 08:43
(AFP)
Créditos da foto: (AFP)

1 - NOTÍCIAS INTERNACIONAIS SOBRE O BRASIL

EUROPA

THE GUARDIAN, Inglaterra

Jair Bolsonaro declarado o próximo presidente do Brasil. Um populista de extrema-direita, admirador de ditadores, pró-arma e pró-tortura foi eleito o próximo presidente do Brasil depois de uma eleição cheia de drama e profundamente divisora que parece destinada a reforjar radicalmente o futuro da quarta maior democracia do mundo. Ele construiu sua campanha em torno de promessas de acabar com a corrupção, o crime e uma suposta ameaça comunista. Brasileiros desiludidos trocam a política da esperança pela política da raiva e do desespero

https://www.theguardian.com/world/2018/oct/28/jair-bolsonaro-wins-brazil-presidential-election

https://www.theguardian.com/world/2018/oct/29/brazil-jair-bolsonaro-presidential-election

THE GUARDIAN, Inglaterra

Jair Bolsonaro em suas próprias palavras

https://www.theguardian.com/world/2018/sep/06/jair-bolsonaro-brazil-tropical-trump-who-hankers-for-days-of-dictatorship

LE MONDE, França

Bolsonaro ou a vingança do "brasileiro médio". Um parlamentar desprezado por seus colegas, famoso por sua indignação e vulgaridade, o ex-presidente militar eleito no domingo se beneficiou da mudança do eleitorado para o voto de protesto. O Brasil vira à extrema direita.

https://www.lemonde.fr/ameriques/article/2018/10/29/election-au-bresil-bolsonaro-ou-la-revanche-du-bresilien-moyen_5375973_3222.html

https://www.lemonde.fr/ameriques/article/2018/10/29/jair-bolsonaro-elu-president-le-bresil-prend-le-virage-de-l-extreme-droite_5375879_3222.html

L’HUMANITÉ, França

O Brasil vai para as sombras: o ultradireitista Bolsonaro é eleito presidente.

https://www.humanite.fr/le-bresil-sombre-lextreme-droite-bolsonaro-elu-president-662861

L’HUMANITÉ, França

Bolsonaro é visto como o cavalo branco que vai salvar o país da corrupção

https://www.humanite.fr/bolsonaro-est-vu-comme-le-chevalier-blanc-qui-va-sauver-le-pays-de-la-corruption-662590

LES ECHOS, França

O Brasil vai para a extrema direita. Jair Bolsonaro é eleito presidente.

https://www.lesechos.fr/monde/ameriques/0600051284398-le-bresil-bascule-a-lextreme-droite-bolsonaro-elu-president-2217438.php

TRIBUNE DE GENÈVE, Suíça

Brasil vai mudar modelo econômico. Paulo Guedes, anunciado como o futuro ministro das Finanças, prometeu um grande programa de privatização e mais controle sobre os gastos públicos.

https://www.tdg.ch/monde/Le-Bresil-va-changer-de-modele-economique/story/19756236

LE NOUVEL OBSERVATEUR, França

A autópsia de um desastre. Lula está na prisão, o Partido dos Trabalhadores é odiado e os brasileiros acabam de eleger, neste domingo, um líder de extrema direita, Jair Bolsonaro, no comando do país. Como chegamos aqui?

https://www.nouvelobs.com/monde/20181026.OBS4553/bresil-autopsie-d-un-desastre.html

LE FIGARO, França

Bolsonaro promete liberalizar a economia com seu assessor econômico, discípulo do ultraliberalismo da Escola de Chicago.

http://www.lefigaro.fr/international/2018/10/29/01003-20181029ARTFIG00008-bresil-le-nouveau-president-bolsonaro-promet-de-liberer-l-economie.php

LE FIGARO, França

Um giro pelo mundo nos países afetados pela onda de populismo. Das Filipinas para os Estados Unidos, via Brasil, onde Jair Bolsonaro foi eleito presidente no domingo, líderes polêmicos, prometendo derrubar o "sistema", estão abalando a vida política de seus países.

http://www.lefigaro.fr/international/2018/10/27/01003-20181027ARTFIG00028-tour-du-monde-des-pays-atteints-par-le-populisme.php

EL PAÍS, Espanha

O ultradireitista Bolsonaro vence as eleições e será presidente do Brasil. O exmilitar obtém 55% dos votos com 99% contados enquanto o progressista Haddad (do PT) obtém 44%. É a eleição mais polarizada, tensa e violenta em décadas.

https://elpais.com/internacional/2018/10/28/america/1540749476_160477.html

EL PAÍS, Espanha

As propostas de Bolsonaro em segurança, meio ambiente, economia e educação. A extrema-direita propõe uma mão dura contra os criminosos e medidas amigáveis aos mercados.

https://elpais.com/internacional/2018/10/28/america/1540762334_768212.html

EL PAÍS, Espanha

Partido dos Trabalhadores: o colapso de um titã. O PT enfrenta uma árdua tarefa de reconstrução após o encarceramento de Lula e a derrota eleitoral.

https://elpais.com/internacional/2018/10/28/america/1540765638_445060.html

EL DIÁRIO, Espanha

O ultradireitista Bolsonaro ganha as eleições no Brasil.

https://www.eldiario.es/internacional/ultraderecha-Bolsonaro-elecciones-Brasil-escrutinio_0_829767459.html

EL MUNDO, Espanha

A extrema direita brasileira desperta os fantasmas da ditadura militar

https://www.elmundo.es/internacional/2018/10/29/5bce16f722601d98408b45dc.html

ABC, Espanha

Bolsonaro: uma agenda do governo cheia de contradições. O próximo presidente brasileiro tem se confundido na campanha para ganhar votos muito diferentes e se juntar à rejeição do PT.

https://www.abc.es/internacional/abci-bolsonaro-agenda-gobierno-llena-contradicciones-201810281245_noticia.html

LA REPUBBLICA, Itália

Bolsonaro é o novo presidente. Salvini elogia e pede a extradição de Battisti.

https://www.repubblica.it/esteri/2018/10/28/news/brasile_exit_poll_bolsonaro_al_56_haddad_al_44_-210262492/

RFI, França

Voto dos evangélicos, ódio ao PT e violência: imprensa internacional analisa vitória de Bolsonaro. O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, está na capa dos principais jornais do mundo, que destacam sobre os riscos da chegada da extrema-direita ao poder.

http://m.br.rfi.fr/brasil/20181029-brasil-vira-extrema-direita-e-imprensa-internacional-questiona-e-agora

RFI, França

Presidente do STF diz que Bolsonaro e Mourão devem fidelidade à Constituição. Assim que justiça oficializou o resultado das urna, o presidente do Supremo Tribunal Federal falou dos desafios políticos que o Brasil tem pela frente, a começar pela unificação do país: ''É preciso respeitar aqueles que não lograram êxito nessas eleições, bem como a oposição que se forma. É preciso moderação dos dois lados. O país precisa de união. Não pode haver ódio'', afirmou Dias Toffoli.

http://m.br.rfi.fr/brasil/20181029-presidente-do-stf-diz-que-bolsonaro-e-mourao-devem-fidelidade-constituicao

ESQUERDA.NET, Portugal

O candidato de extrema-direita Bolsonaro venceu as eleições no Brasil com 55,15% dos votos contra os 44,87% de Haddad. Os 57.796.972 de votos em Bolsonaro põem a democracia no país em risco e são um grande sinal de alerta.

https://www.esquerda.net/artigo/bolsonaro-vence-eleicoes/57710

SPUTNIK NEWS, Rússia

Eleição de Bolsonaro trará enfrentamentos sociais, diz cientista político. Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito presidente da República neste domingo (28) ao derrotar em segundo turno o petista Fernando Haddad.

https://br.sputniknews.com/noticias-eleicoes-2018-brasil/2018102812544480-jair-bolsonaro-enfrentamentos-sociais-cientista-politico-eleicoes2018-/

PÚBLICO, Portugal

Com Bolsonaro, o risco não é de golpe, é de erosão da democracia. A eleição de um Presidente de extrema-direita não é o primeiro sinal de degradação democrática no maior país da América do Sul. Mas pode levar a uma grande aceleração negativa.

https://www.publico.pt/2018/10/29/mundo/noticia/bolsonaro-risco-nao-golpe-erosao-democracia-1849184

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Portugal

Bolsonaro é o novo presidente do Brasil: à direita e mais à direita volver. Bolsonaro vence Haddad por 10 pontos percentuais, é confirmado 38.º presidente do país e promete interromper "o flirt com o comunismo e o socialismo", além de respeitar a Bíblia, a Constituição e a propriedade privada

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/29-out-2018/interior/brasil-a-direita-volver-10100674.html

THE ECONOMIST, Inglaterra

Como conter Bolsonaro. Um presidente com instintos autoritários deve ser desafiado por uma oposição democrática unida.

https://www.economist.com/leaders/2018/10/27/containing-jair-bolsonaro

AMÉRICA DO NORTE

MONTREAL GAZETTE, Canadá

Jair Bolsonaro, congressista de direita, vence presidência do Brasil apesar de favorecer a ditadura antiga. Sua vitória refletiu a raiva generalizada contra a classe política após anos de corrupção, uma economia que tem lutado para se recuperar após uma recessão severa e um surto de violência.

https://montrealgazette.com/news/world/right-wing-congressman-jair-bolsonaro-wins-brazilian-presidency-despite-favouring-old-dictatorship/wcm/6b1f1db7-dd04-4df5-b4eb-1498003d086a

THE NEW YORK TIMES, EUA

Jair Bolsonaro, populista de extrema direita, eleito presidente do Brasil.

https://www.nytimes.com/2018/10/28/world/americas/jair-bolsonaro-brazil-election.html?action=click&contentCollection=world&region=rank&module=package&version=highlights&contentPlacement=2&pgtype=sectionfront

THE NEW YORK TIMES, EUA

O novo presidente polemizador do Brasil, Jair Bolsonaro, em suas próprias palavras.

https://www.nytimes.com/2018/10/28/world/americas/brazil-president-jair-bolsonaro-quotes.html?rref=collection%2Fsectioncollection%2Famericas&action=click&contentCollection=americas&region=stream&module=stream_unit&version=latest&contentPlacement=3&pgtype=sectionfront

THE WASHINGTON POST, EUA

Bolsonaro vence as eleições presidenciais no Brasil.

https://www.washingtonpost.com/world/the_americas/brazilians-go-the-polls-with-far-right-jair-bolsonaro-as-front-runner/2018/10/28/880dd53c-d6dd-11e8-8384-bcc5492fef49_story.html?utm_term=.9acd4dd0aab4

LOS ANGELES TIMES, EUA

O populista de extrema direita Jair Bolsonaro vence as eleições no Brasil.

http://www.latimes.com/world/la-fg-brazil-election-20181028-story.html

THE GLOBE AND MAIL, Canadá

Deputado de extrema direita Bolsonaro vence as eleições presidenciais no Brasil

https://www.theglobeandmail.com/world/article-brazilians-voting-for-new-president-yearn-for-change-but-some-see/

THE INTERCEPT, EUA

Bolsonaro eleito presidente do Brasil. Liam suas posições extremistas pelas suas próprias palavras.

https://theintercept.com/2018/10/28/jair-bolsonaro-elected-president-brazil/

AMÉRICA LATINA

PÁGINA 12, Argentina

A tristeza não é só brasileira. O ultradireitista Jair Bolsonaro foi o primeiro presidente brasileiro eleito sem o voto da população mais pobre, mas também venceu: 55% contra Fernando Haddad, o candidato de Lula. Como se no meio da Guerra Fria, ele prometesse combater "o comunismo, o socialismo e o populismo".

https://www.pagina12.com.ar/151755-la-tristeza-no-es-solo-brasilera

PÁGINA 12, Argentina

O país que sobra ou o que resta do país. Pela primeira vez um presidente venceu sem o voto dos mais pobres ou destituídos. O país que permanece ou o que resta do país. Os eleitores, e sobretudo os eleitores, que ganham menos de dois salários mínimos, não votaram em Bolsonaro, apesar do mergulho nas sombras de 55%: a bancada militar e policial supera qualquer outra.

https://www.pagina12.com.ar/151751-el-pais-que-queda-o-lo-que-queda-del-pais

EL ESPECTADOR, Colômbia

Brasil virou à direita e elegeu Bolsonaro como presidente.

https://www.elespectador.com/noticias/el-mundo/brasil-giro-la-derecha-y-eligio-bolsonaro-como-presidente-articulo-820692

EL ESPECTADOR, Colômbia

Brasileiros elegem presidente movido por rejeição. O que as pesquisas indicaram durante as eleições é que os candidatos geram muita antipatia. O que eles não querem? Em poucas horas, o novo presidente será conhecido e tudo parece indicar que haverá uma virada à direita.

https://www.elespectador.com/noticias/el-mundo/el-rechazo-lo-que-mueve-el-voto-en-brasil-articulo-816165

EL TELÉGRAFO, Equador

Bolsonaro, o fervoroso defensor da ditadura vence eleições no Brasil

https://www.eltelegrafo.com.ec/noticias/mundo/8/bolsonaro-ferviente-defensor-dictadura-gana-elecciones-en-brasil

EL MERCÚRIO, Chile

Jair Bolsonaro, o polêmico ultra-nacionalista eleito presidente do Brasil, foi promovido a salvador de um país corrompido pela violência, pela corrupção e pela crise econômica. A maioria acreditou nele e o escolheu, embora muitos temam a chegada ao poder de um presidente racista, homofóbico e nostálgico da ditadura.

https://www.emol.com/noticias/Internacional/2018/10/28/925557/Jair-Bolsonaro-el-polemico-ultranacionalista-que-sera-el-proximo-presidente-de-Brasil.html

LA JORNADA, México

Trump convoca Bolsonaro para trabalharem juntos na América Latina.

http://www.jornada.com.mx/ultimas/2018/10/28/trump-llama-a-bolsonoro-a-trabajar-lado-a-lado-por-al-3947.html

LA JORNADA, México

Direita da América Latina parabeniza Bolsonaro; Venezuela pede respeito.

http://www.jornada.com.mx/ultimas/2018/10/28/la-derecha-de-al-felicita-a-bolsonaro-venezuela-le-pide-respeto-6346.html

LA JORNADA, México

Bolsonaro oferece mão dura e erradicar o "extremismo de esquerda"

http://www.jornada.com.mx/ultimas/2018/10/28/bolsonaro-promete-cambiar-el-destino-de-brasil-2491.html

EL PAÍS, Uruguai

No Mercosul só Uruguai não parabenizou Bolsonaro ontem. Pelo menos em público não houve saudação; sim, Macri, Piñera e Abdo Benítez falaram.

https://www.elpais.com.uy/informacion/politica/mercosur-uruguay-felicito-ayer-bolsonaro.html

2 - ARTIGOS/ENTREVISTAS

Eric Nepomuceno (Página 12, Argentina)

“Adeus, meu país, adeus!”

https://www.pagina12.com.ar/151757-adios-mi-pais-adios

Martin Granovsky  (Página 12, Argentina)

“É uma cagada, cara.”

https://www.pagina12.com.ar/151756-es-una-cagada-viejo

Mercedes López San Miguel (Página 12, Argentina)

“Tempos de censura para a imprensa”

https://www.pagina12.com.ar/151752-tiempos-de-censura-para-la-prensa

Olivier Campagnon, entrevista (L’Humanité, França)

https://www.humanite.fr/bolsonaro-allie-neoliberalisme-outrancier-et-conservatisme-societal-662778

Lamia Oulalou (L’Humanité, França)

“Os evangélicos conduziram a ideologia para a direita”

https://www.humanite.fr/lamia-oualalou-les-evangeliques-ont-pousse-les-ideologies-vers-la-droite-662634

Maud Chirio (L’Humanité, França)

“Jair Bolsonaro é um fenômeno fascista”

https://www.humanite.fr/maud-chirio-jair-bolsonaro-est-un-phenomene-fasciste-661731

Thiery Ogier (Les Echos, França)

“O irresistível crescimento das igrejas evangélicas”

https://www.lesechos.fr/monde/ameriques/0600050346808-bresil-lirresistible-croissance-des-eglises-evangeliques-2217240.php

Samuel Candler Dobbs (RFI, França)

“Bolsonaro representa uma continuidade do que está acontecendo hoje no Brasil”

http://m.br.rfi.fr/brasil/20181029-bolsonaro-representa-uma-continuidade-do-que-esta-acontecendo-hoje-no-brasil-diz-his

Jorge Almeida Fernandes (Público, Portugal)

“A breve lua de mel de Bolsonaro”

https://www.publico.pt/2018/10/29/mundo/comentario/breve-luademel-bolsonaro-1849213

Manuel Carvalho (Público, Portugal)

“Um dia negro para a democracia”

https://www.publico.pt/2018/10/28/mundo/editorial/dia-negro-democracia-1849212

Stephanie Nolen (The Globe and Mail, Canadá)

“Um adeus ao Brasil, país de sonhos quebrados.”

https://www.theglobeandmail.com/opinion/article-a-farewell-to-brazil-country-of-broken-dreams/

MAIS MATÉRIAS

https://www.theguardian.com/world/2018/oct/29/bolsonarianos-take-to-the-streets-in-awe-of-new-law-and-order

https://www.lemonde.fr/ameriques/article/2018/10/29/election-au-bresil-l-opposition-en-miettes_5375976_3222.html

https://www.lemonde.fr/ameriques/portfolio/2018/10/29/election-au-bresil-les-bolsonarianos-laissent-eclater-leur-joie_5375920_3222.html

https://www.lesechos.fr/monde/ameriques/0600053240901-elu-bolsonaro-promet-de-respecter-la-constitution-2217460.php

https://www.tdg.ch/monde/Bolsonaro-veut-changer-le-destin-du-Bresil/story/12509792

https://www.nouvelobs.com/monde/20181029.OBS4592/bolsonaro-elu-president-le-bresil-bascule-a-l-extreme-droite.html

http://www.lefigaro.fr/conjoncture/2018/09/17/20002-20180917ARTFIG00316-bresil-les-defis-cruciaux-du-futur-president.php

https://elpais.com/internacional/2018/10/29/america/1540768337_254056.html

https://elpais.com/internacional/2018/10/28/america/1540763314_762438.html

https://www.lavanguardia.com/internacional/20181028/452583006784/brasil-elecciones-bolsonaro-ultraderecha-pronosticos.html

https://www.lavanguardia.com/internacional/20181029/452615064968/jair-bolsonaro-elecciones-brasil-video-seo-lv.html

https://www.elmundo.es/internacional/2018/10/28/5bd5dec8ca474126698b457c.html

https://www.abc.es/internacional/abci-jair-bolsonaro-gana-elecciones-55--por-ciento-y-gobernara-brasil-hasta-2022-201810282337_noticia.html

https://www.elconfidencial.com/mundo/2018-10-28/bolsonaro-se-impone-en-elecciones-brasil_1637252/

https://www.telegraph.co.uk/news/2018/10/28/brazils-right-wing-candidate-jair-bolsonaro-sweeps-election/

https://www.repubblica.it/esteri/2018/10/28/news/elezioni_brasile-210197882/

https://www.corriere.it/esteri/18_ottobre_27/brasile-va-ballottaggio-bolsonaro-destra-assaporano-gia-vittoria-713d2eb0-da08-11e8-81e3-2cc49421c289.shtml

http://m.br.rfi.fr/brasil/20181029-rio-de-janeiro-reduto-de-bolsonaro-vive-noite-de-festa-apos-resultado-da-eleicao-0

https://pt.euronews.com/2018/10/29/eleicoes2018-jair-bolsonaro-e-o-38-presidente-do-brasil

https://br.sputniknews.com/eleicoes-2018-brasil/2018102812527473-eleicoes-2018-bolsonaro-presidente/

https://www.dn.pt/mundo/interior/brasil-dividido-elege-novo-presidente-10099057.html

https://www.publico.pt/2018/10/29/mundo/noticia/converter-bolsonaro-guru-mercados-convencer-brasil-1849132

https://www.liberation.fr/planete/2018/10/29/vous-valez-mieux-que-bolsonaro-un-soir-d-election-sous-tension-au-bresil_1688510

https://www.lejdd.fr/International/Ameriques/bresil-jair-bolsonaro-le-candidat-qui-menace-la-planete-3787817

https://www.ilfattoquotidiano.it/2018/10/29/brasile-jair-bolsonaro-e-il-nuovo-presidente-lex-capitano-dellesercito-trionfa-con-il-552/4726746/

http://www.eldesconcierto.cl/2018/10/28/la-ultraderecha-se-impone-en-sudamerica-con-57-millones-de-votos-bolsonaro-llega-al-poder-en-brasil/

https://www.pagina12.com.ar/151747-el-comienzo-de-una-hermosa-amistad

https://www.pagina12.com.ar/151750-manuela-savia-nueva-para-la-politica

https://www.pagina12.com.ar/151753-el-fenomeno-movilizador

https://www.pagina12.com.ar/151695-el-sinodo-no-habla-de-la-comunidad-lgbt

https://www.pagina12.com.ar/151749-la-leccion-de-brasil-fascismo-y-voto-electronico

https://www.pagina12.com.ar/151688-tendremos-una-tarea-enorme-en-el-pais-como-oposicion

https://www.elespectador.com/noticias/el-mundo/asi-es-bolsonaro-el-donald-trump-tropical-articulo-806299

https://www.elespectador.com/noticias/el-mundo/colombia-felicita-bolsonaro-por-su-victoria-como-presidente-de-brasil-articulo-820707

https://www.emol.com/noticias/Internacional/2018/10/28/925549/Bolsonaro-se-compromete-a-cambiar-juntos-el-destino-de-Brasil-tras-ser-electo-Presidente.html

http://www.jornada.com.mx/ultimas/2018/10/28/brasil-primeros-resultados-dan-victoria-a-bolsonaro-con-56-7818.html

https://www.telesurtv.net/news/elecciones-presidenciales-brasil-resultados-segunda-vuelta-20181028-0030.html

http://www.ultimasnoticias.com.ve/noticias/internacionales/america/con-mas-de-55-millones-de-votos-bolsonaro-gana-eleccion-en-brasil/

https://www.elpais.com.uy/mundo/brasil-jugo-bolsonaro.html

https://www.elpais.com.uy/mundo/desafios-economicos-gobierno-bolsonaro.html

https://www.elpais.com.uy/mundo/presidente-llega-aplicar-mano-dura-brasil.html

https://www.nytimes.com/2018/10/29/world/americas/jair-bolsonaro-brazil-profile.html?rref=collection%2Fsectioncollection%2Famericas&action=click&contentCollection=americas&region=stream&module=stream_unit&version=latest&contentPlacement=1&pgtype=sectionfront

https://www.washingtonpost.com/world/the_americas/more-than-fear-brazils-lgbt-community-dreads-looming-bolsonaro-presidency/2018/10/26/c9e7ac26-d890-11e8-a10f-b51546b10756_story.html?utm_term=.a0284c1606d9

https://www.truthdig.com/articles/brazil-elects-far-right-bolsonaro-to-presidency/

https://torontosun.com/news/world/brazil-elects-far-right-congressman-jair-bolsonaro-to-presidency/wcm/9ae43ca6-1124-453d-ad35-8fb63ce0ac05

https://www.bostonglobe.com/news/world/2018/10/28/brazilians-elect-far-right-populist-president/yhmFucldkubuhqcazOBD0K/story.html