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sexta-feira, 20 de abril de 2018

Datafolha com Lula preso: o que a pesquisa projeta para a eleição, por José Roberto Castro.


16 Abr 2018
(atualizado 17/Abr 18h51)

Ex-presidente segue na liderança. Seu provável impedimento abre disputa por votos de centro-esquerda. Percentual de eleitores sem candidato é recorde

Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters
Apoiadores de Lula protestam em Curitiba, onde o ex-presidente está preso
Apoiadores de Lula protestam em Curitiba, onde o ex-presidente está preso
O jornal Folha de S.Paulo divulgou em sua edição de domingo (15) o resultado da primeira pesquisa do instituto Datafolha após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida uma semana antes, em razão do cumprimento da pena da condenação por corrupção e lavagem de dinheiro no caso tríplex em Guarujá.
Além de ser o primeiro levantamento com Lula preso, foi também o primeiro depois de 7 de abril, data-chave da eleição, a partir de quando quem não estiver filiado a um partido não pode mais concorrer. Além disso, é quando governadores, prefeitos e ministros que querem disputar a eleição têm de deixar seus cargos no Executivo.
O fim do prazo para a filiação ou para a renúncia aos cargos produziu o seguinte: o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa se filiou a um partido; Luciano Huck, não; Geraldo Alckmin, governador paulista, e Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, deixaram seus cargos de olho no Palácio do Planalto.
As entrevistas do Datafolha foram realizadas entre quarta-feira (11) e sexta-feira (13), com 4.194 eleitores em 227 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O resultado dos cenários apresentados mostra que Lula terá papel central na disputa, sendo candidato ou não, estando ou não preso.

O papel de Lula é central

Lula lidera todos os três cenários com seu nome. A pontuação varia entre 30% e 31% das intenções de voto, independemente de quem venha a ser o candidato oficial do governo, se o atual presidente Michel Temer ou se o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
A intenção de votos no petista é o dobro da registrada pelo segundo colocado, o deputado Jair Bolsonaro (PSL), que tem 15% no cenário principal.

Liderança

Os cerca de 30%, no entanto, são menores do que Lula obteve na pesquisa anterior. No final de janeiro, depois de ser condenado em segunda instância judicial no caso tríplex, o petista aparecia com cerca de 37%. Os dois números, porém, não são estatisticamente comparáveis porque os cenários simulados são diferentes, segundo o Datafolha.
A pesquisa mostra ainda que dois de cada três eleitores de Lula dizem que certamente votariam em um candidato indicado por ele. Isso significa que, de seus 31%, Lula teoricamente conseguiria entregar uma intenção de voto de cerca de 20% a alguém que venha apoiar publicamente. Essa votação seria suficiente para dar a qualquer candidato a liderança nos cenários sem Lula.

O que esperar a partir de agora

Lula venceria também em todas as simulações de segundo turno, mas é improvável que ele chegue lá. Isso porque o petista foi condenado em segunda instância em uma decisão colegiada - dada por mais de um magistrado -, e assim deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Por enquanto, o PT mantém o discurso de que não pensa em uma alternativa, ou seja, Lula é o candidato. O registro das candidaturas deve ser feito até o dia 15 de agosto. A partir desse momento, o Tribunal Superior Eleitoral pode analisar a situação do petista. Lula será impugnado e julgado na Justiça Eleitoral.
Se Lula for cassado até 20 dias do primeiro turno, marcado para 7 de outubro, o PT poderá apresentar outro nome. Depois disso, o partido fica sem candidato ao Palácio do Planalto.
Na teoria, ele pode disputar a eleição mesmo preso, assim como pode obter liminares judiciais capazes de mantê-lo na corrida presidencial mesmo após ser impugnado. Mas esse cenário é improvável.

Sem Lula

Sem Lula nos cenários, o pré-candidato mais bem colocado é Jair Bolsonaro, deputado federal (PSL-RJ) com discurso de extrema-direta. O número de pessoas dispostas a não votar em ninguém cresce de forma significativa.

Os votos nulos e brancos estão altos

O Brasil vive uma crise de representatividade agravada pela Operação Lava Jato, que a partir de março de 2014 passou a escancarar grandes esquemas de corrupção que acabaram por atingir as principais figuras da República, além de praticamente todos os grandes partidos.
Nessa perspectiva, Lula é o único pré-candidato que mantém um alto índice de intenção de voto. Quando ele deixa a pesquisa, nos outros cenários aplicados, nem Fernando Haddad nem Jaques Wagner, candidatos alternativos do PT, ultrapassam 2%.
Um terço dos eleitores de Lula declararam, inclusive, que preferem votar em branco ou anular o voto caso o ex-presidente não consiga se candidatar. Com isso, cria-se uma legião de eleitores que não têm candidato.
Segundo o Datafolha, faltando seis meses para a eleição, o número de eleitores que não têm candidato é o maior da história.

Número inédito

O que esperar a partir de agora

Com mais de um quarto do eleitorado se declarando sem candidato no cenário sem Lula, começa a disputa pelos indecisos. Os candidatos identificados à centro-esquerda, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), aparecem entre os favoritos na disputa pelos votos dos eleitores órfãos do ex-presidente.
É importante lembrar que dois terços dos eleitores do líder petista afirmam que votariam com certeza em um nome indicado por ele. Apesar de Jaques Wagner e Fernando Haddad serem cotados como plano B do PT, uma indicação formal de Lula ainda não aconteceu.

Joaquim Barbosa é o ‘outsider’ viável até aqui

Até a data limite para a filiação, em 7 de abril, uma candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República era apenas uma especulação. No fim do prazo, sem estardalhaço, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal se filiou ao PSB mesmo sem ter a garantia de que seria candidato.
Sem nunca ter disputado uma eleição e sem qualquer atuação política, Joaquim Barbosa aparece com 8% das intenções de voto no cenário com Lula, e 9% na simulação sem o ex-presidente. O resultado acontece mesmo sem ele ter oficializado a pré-candidatura.
Barbosa foi o primeiro ministro negro da história do Supremo, indicado por Lula em 2003. Ele ganhou notoriedade, porém, quando foi escolhido relator do processo do mensalão e ajudou na condenação de alguns dos principais assessores do ex-presidente. Barbosa decidiu deixar o Supremo por conta própria em 2014 e, desde então, trabalha como advogado.
O resultado da primeira pesquisa feita depois de filiação animou seus novos companheiros de partido. O líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG), vê a candidatura do ex-ministro como irreversível depois da pesquisa. O presidente da legenda, Carlos Siqueira, acha que o novo filiado tem um potencial ainda maior do que o apresentado na pesquisa. Joaquim Barbosa aparece numericamente à frente, por exemplo, de pré-candidatos que estão em ritmo de campanha como Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).

O que esperar a partir de agora

Apesar da animação dos líderes do PSB, a pré-candidatura de Joaquim Barbosa ainda não está oficializada. Poucos dias antes da divulgação da pesquisa, Carlos Siqueira dizia que faltava “uma eternidade” até a confirmação da candidatura do ex-ministro. Oficialmente, os partidos têm até 15 de agosto para fazer o registro.
O PSB pode optar ainda por formar uma chapa com algum outro candidato. O governador de São Paulo, Márcio França, sugeriu que o novo companheiro de partido forme uma dupla com Geraldo Alckmin. Outra possibilidade seria uma aliança com Marina Silva, que foi candidata do PSB à Presidência em 2014, antes de fundar o próprio partido, a Rede.
As alianças são importantes não apenas pela soma de forças políticas, mas também pela soma de tempo de propaganda de TV dos partidos aliados.

Marina e Ciro crescem numa eleição sem Lula

A ausência de Lula aumenta o número de brancos e nulos a um patamar inédito na história, mas parte dos votos do ex-presidente migra para candidatos de centro-esquerda: principalmente Marina Silva e Ciro Gomes.
Marina tem origem no PT. Foi filiada ao partido por décadas e foi ministra do Meio Ambiente de Lula. Ciro, com a oposição que fez ao impeachment de Dilma Rousseff e ao governo de Michel Temer, se aproximou do eleitorado de esquerda. Ele também foi ministro de Lula, ao ocupar a pasta da Integração Nacional a partir de 2003.
Os dois pré-candidatos já disputaram eleições presidenciais, são conhecidos de boa parcela do eleitorado e são os maiores beneficiados diretamente pela ausência de Lula, segundo a pesquisa.

Maiores beneficiados

O que esperar a partir de agora

A disputa pelo eleitor de esquerda vai depender de até quando o PT vai conseguir manter a candidatura de Lula e, principalmente, da capacidade de transferência de votos do ex-presidente preso.
O Datafolha mostra que nenhum dos candidatos alternativos do PT tem atualmente um eleitorado significativo. Mas parte da explicação pode estar no fato de que Lula não fez qualquer movimento para indicar um sucessor.

A centro-direita patina nas pesquisas

Com ou sem Lula no páreo, o resultado da mais recente pesquisa Datafolha foi ruim para os candidatos identificados com a agenda de reformas do atual governo Michel Temer. Seja com o próprio presidente ou com seu antigo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a candidatura governista varia apenas entre 1% e 2% das intenções de voto.
Outros defensores das reformas de Temer também aparecem mal na pesquisa. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fica sempre em 1% das intenções de voto. O ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro (PSC) também tem entre 0% e 1%.
O tucano Geraldo Alckmin, que governou por 13 anos o estado mais rico do país e já foi candidato à Presidência em 2006, tem entre 6% e 8% das intenções de voto.
O PSDB ajudou na ascensão de Temer durante o impeachment de Dilma, apoiou suas reformas, mas tenta se afastar de um governo impopular, apesar de ainda ter nomes no primeiro escalão do Executivo federal, como o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.
Nenhum dos candidatos da direita ou centro-direta, no momento, se aproxima de Jair Bolsonaro (PSL). O deputado de extrema-direita tem entre 15% e 17% em todos os cenários testados.

O que esperar a partir de agora

Com resultados ruins nas pesquisas de intenção de voto, não se sabe quantas nem quais candidaturas governistas vão conseguir se viabilizar. O MDB de Temer e Meirelles não tem voto, no momento, mas como uma das maiores bancadas do Congresso pode emprestar seu tempo de televisão a um aliado.
O mesmo vale para o DEM, de Rodrigo Maia. O partido diz oficialmente que quer lançar uma candidatura, mas apoiou todos os candidatos do PSDB desde 1994.
Alckmin aparece como provável beneficiário de uma união da centro-direita. Ele seria o cabeça-de-chapa em caso de uma aliança mais ampla. Depois, surge um outro desafio: os votos do PSDB são, atualmente, divididos com Bolsonaro, em especial no estado de São Paulo, o mais populoso do Brasil e principal reduto eleitoral dos tucanos.

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