16 Abr 2018
(atualizado 17/Abr 18h51)
Ex-presidente segue na liderança. Seu provável impedimento abre disputa por votos de centro-esquerda. Percentual de eleitores sem candidato é recorde
O jornal Folha de S.Paulo divulgou em sua edição de domingo (15) o resultado da primeira pesquisa do instituto Datafolha após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida uma semana antes, em razão do cumprimento da pena da condenação por corrupção e lavagem de dinheiro no caso tríplex em Guarujá.
Além
de ser o primeiro levantamento com Lula preso, foi também o primeiro
depois de 7 de abril, data-chave da eleição, a partir de quando quem não
estiver filiado a um partido não pode mais concorrer. Além disso, é
quando governadores, prefeitos e ministros que querem disputar a eleição
têm de deixar seus cargos no Executivo.
O fim do prazo para a
filiação ou para a renúncia aos cargos produziu o seguinte: o
ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa se filiou a um
partido; Luciano Huck, não; Geraldo Alckmin, governador paulista, e
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, deixaram seus cargos de olho no
Palácio do Planalto.
As entrevistas do Datafolha foram realizadas
entre quarta-feira (11) e sexta-feira (13), com 4.194 eleitores em 227
municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou
para menos. O resultado dos cenários apresentados mostra que Lula terá
papel central na disputa, sendo candidato ou não, estando ou não preso.
O papel de Lula é central
Lula
lidera todos os três cenários com seu nome. A pontuação varia entre 30%
e 31% das intenções de voto, independemente de quem venha a ser o
candidato oficial do governo, se o atual presidente Michel Temer ou se o
ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
A intenção de votos no
petista é o dobro da registrada pelo segundo colocado, o deputado Jair
Bolsonaro (PSL), que tem 15% no cenário principal.
Liderança
Os cerca de 30%, no entanto, são menores do que Lula obteve na
pesquisa anterior. No final de janeiro, depois de ser condenado em segunda instância judicial
no caso tríplex, o petista aparecia com cerca de 37%. Os dois números,
porém, não são estatisticamente comparáveis porque os cenários simulados
são diferentes, segundo o Datafolha.
A pesquisa mostra ainda que
dois de cada três eleitores de Lula dizem que certamente votariam em um
candidato indicado por ele. Isso significa que, de seus 31%, Lula
teoricamente conseguiria entregar uma intenção de voto de cerca de 20% a
alguém que venha apoiar publicamente. Essa votação seria suficiente
para dar a qualquer candidato a liderança nos cenários sem Lula.
O que esperar a partir de agora
Lula
venceria também em todas as simulações de segundo turno, mas é
improvável que ele chegue lá. Isso porque o petista foi condenado em
segunda instância em uma decisão colegiada - dada por mais de um
magistrado -, e assim deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Por
enquanto, o PT mantém o discurso de que não pensa em uma alternativa,
ou seja, Lula é o candidato. O registro das candidaturas deve ser feito
até o dia 15 de agosto. A partir desse momento, o Tribunal Superior
Eleitoral pode analisar a situação do petista. Lula será impugnado e
julgado na Justiça Eleitoral.
Se Lula for cassado até 20 dias do
primeiro turno, marcado para 7 de outubro, o PT poderá apresentar outro
nome. Depois disso, o partido fica sem candidato ao Palácio do Planalto.
Na
teoria, ele pode disputar a eleição mesmo preso, assim como pode obter
liminares judiciais capazes de mantê-lo na corrida presidencial mesmo
após ser impugnado. Mas esse cenário é improvável.
Sem Lula
Sem Lula nos cenários, o pré-candidato mais bem colocado é Jair
Bolsonaro, deputado federal (PSL-RJ) com discurso de extrema-direta. O
número de pessoas dispostas a não votar em ninguém cresce de forma
significativa.
Os votos nulos e brancos estão altos
O
Brasil vive uma crise de representatividade agravada pela Operação Lava
Jato, que a partir de março de 2014 passou a escancarar grandes esquemas de corrupção que acabaram por atingir as principais figuras da República, além de praticamente todos os grandes partidos.
Nessa
perspectiva, Lula é o único pré-candidato que mantém um alto índice de
intenção de voto. Quando ele deixa a pesquisa, nos outros cenários
aplicados, nem Fernando Haddad nem Jaques Wagner, candidatos
alternativos do PT, ultrapassam 2%.
Um terço dos eleitores de Lula
declararam, inclusive, que preferem votar em branco ou anular o voto
caso o ex-presidente não consiga se candidatar. Com isso, cria-se uma
legião de eleitores que não têm candidato.
Segundo o Datafolha, faltando seis meses para a eleição, o número de eleitores que não têm candidato é o maior da história.
Número inédito
O que esperar a partir de agora
Com mais de um quarto do
eleitorado se declarando sem candidato no cenário sem Lula, começa a
disputa pelos indecisos. Os candidatos identificados à centro-esquerda,
como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), aparecem entre os favoritos
na disputa pelos votos dos eleitores órfãos do ex-presidente.
É
importante lembrar que dois terços dos eleitores do líder petista
afirmam que votariam com certeza em um nome indicado por ele. Apesar de
Jaques Wagner e Fernando Haddad serem cotados como plano B do PT, uma
indicação formal de Lula ainda não aconteceu.
Joaquim Barbosa é o ‘outsider’ viável até aqui
Até
a data limite para a filiação, em 7 de abril, uma candidatura de
Joaquim Barbosa à Presidência da República era apenas uma especulação.
No fim do prazo, sem estardalhaço, o ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal se filiou ao PSB mesmo sem ter a garantia de que seria
candidato.
Sem nunca ter disputado uma eleição e sem qualquer
atuação política, Joaquim Barbosa aparece com 8% das intenções de voto
no cenário com Lula, e 9% na simulação sem o ex-presidente. O resultado
acontece mesmo sem ele ter oficializado a pré-candidatura.
Barbosa
foi o primeiro ministro negro da história do Supremo, indicado por Lula
em 2003. Ele ganhou notoriedade, porém, quando foi escolhido relator do
processo do mensalão e ajudou na condenação de alguns dos principais
assessores do ex-presidente. Barbosa decidiu deixar o Supremo por conta
própria em 2014 e, desde então, trabalha como advogado.
O
resultado da primeira pesquisa feita depois de filiação animou seus
novos companheiros de partido. O líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado
(MG), vê a candidatura do ex-ministro como irreversível depois da
pesquisa. O presidente da legenda, Carlos Siqueira, acha que o novo
filiado tem um potencial ainda maior
do que o apresentado na pesquisa. Joaquim Barbosa aparece numericamente
à frente, por exemplo, de pré-candidatos que estão em ritmo de campanha
como Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).
O que esperar a partir de agora
Apesar
da animação dos líderes do PSB, a pré-candidatura de Joaquim Barbosa
ainda não está oficializada. Poucos dias antes da divulgação da
pesquisa, Carlos Siqueira dizia que faltava “uma eternidade” até a confirmação da candidatura do ex-ministro. Oficialmente, os partidos têm até 15 de agosto para fazer o registro.
O
PSB pode optar ainda por formar uma chapa com algum outro candidato. O
governador de São Paulo, Márcio França, sugeriu que o novo companheiro
de partido forme uma dupla com Geraldo Alckmin.
Outra possibilidade seria uma aliança com Marina Silva, que foi
candidata do PSB à Presidência em 2014, antes de fundar o próprio
partido, a Rede.
As alianças são importantes não apenas pela soma
de forças políticas, mas também pela soma de tempo de propaganda de TV
dos partidos aliados.
Marina e Ciro crescem numa eleição sem Lula
A
ausência de Lula aumenta o número de brancos e nulos a um patamar
inédito na história, mas parte dos votos do ex-presidente migra para
candidatos de centro-esquerda: principalmente Marina Silva e Ciro Gomes.
Marina
tem origem no PT. Foi filiada ao partido por décadas e foi ministra do
Meio Ambiente de Lula. Ciro, com a oposição que fez ao impeachment de
Dilma Rousseff e ao governo de Michel Temer, se aproximou do eleitorado
de esquerda. Ele também foi ministro de Lula, ao ocupar a pasta da
Integração Nacional a partir de 2003.
Os dois pré-candidatos já
disputaram eleições presidenciais, são conhecidos de boa parcela do
eleitorado e são os maiores beneficiados diretamente pela ausência de
Lula, segundo a pesquisa.
Maiores beneficiados
O que esperar a partir de agora
A disputa pelo eleitor de
esquerda vai depender de até quando o PT vai conseguir manter a
candidatura de Lula e, principalmente, da capacidade de transferência de
votos do ex-presidente preso.
O Datafolha mostra que nenhum dos
candidatos alternativos do PT tem atualmente um eleitorado
significativo. Mas parte da explicação pode estar no fato de que Lula
não fez qualquer movimento para indicar um sucessor.
A centro-direita patina nas pesquisas
Com
ou sem Lula no páreo, o resultado da mais recente pesquisa Datafolha
foi ruim para os candidatos identificados com a agenda de reformas do
atual governo Michel Temer. Seja com o próprio presidente ou com seu
antigo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a candidatura governista
varia apenas entre 1% e 2% das intenções de voto.
Outros
defensores das reformas de Temer também aparecem mal na pesquisa. O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fica sempre em 1% das
intenções de voto. O ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro
(PSC) também tem entre 0% e 1%.
O tucano Geraldo Alckmin, que
governou por 13 anos o estado mais rico do país e já foi candidato à
Presidência em 2006, tem entre 6% e 8% das intenções de voto.
O
PSDB ajudou na ascensão de Temer durante o impeachment de Dilma, apoiou
suas reformas, mas tenta se afastar de um governo impopular, apesar de
ainda ter nomes no primeiro escalão do Executivo federal, como o
ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.
Nenhum
dos candidatos da direita ou centro-direta, no momento, se aproxima de
Jair Bolsonaro (PSL). O deputado de extrema-direita tem entre 15% e 17%
em todos os cenários testados.
O que esperar a partir de agora
Com
resultados ruins nas pesquisas de intenção de voto, não se sabe quantas
nem quais candidaturas governistas vão conseguir se viabilizar. O MDB
de Temer e Meirelles não tem voto, no momento, mas como uma das maiores
bancadas do Congresso pode emprestar seu tempo de televisão a um aliado.
O
mesmo vale para o DEM, de Rodrigo Maia. O partido diz oficialmente que
quer lançar uma candidatura, mas apoiou todos os candidatos do PSDB
desde 1994.
Alckmin aparece como provável beneficiário de uma
união da centro-direita. Ele seria o cabeça-de-chapa em caso de uma
aliança mais ampla. Depois, surge um outro desafio: os votos do PSDB
são, atualmente, divididos com Bolsonaro, em especial no estado de São Paulo, o mais populoso do Brasil e principal reduto eleitoral dos tucanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário