Novamente, em um dia trinta e um. Dia da Revolução, outrora batizado
assim pelos golpistas civis-militares de 1964, agora chamado de
impeachment pós-moderno, sem a truculência física e bélica, por
enquanto.
Hoje, dia trinta e um de agosto de 2016, cinquenta e dois anos após
aquela tenebrosa Rebelião Brasileira Moderna, inicia-se mais uma
Revolução no Brasil: o capitalismo mesquinho retorna com todo o seu
furor ao Poder.
O pretexto desta vez não foi o perigo do "comunismo devorador de
criancinhas", embora no discurso da acusação, nas palavras da
destemperada e objetal (melhorar abjetal), Janaína Paschoal – figurinha
jurídica usada pelos artífices da farsa revolucionária contemporânea –,
faça alusões diretas à Pátria venezuelana e aos "netinhos" da Presidente
Dilma, durante a sessão de 29 de agosto de 2016, no Plenário do Senado
Federal, onde Dilma se defendeu por mais de quinze horas, refutando
todas às acusações a ela impetradas.
O Capitalismo obsceno e impiedoso triunfou novamente, atropelando
qualquer possibilidade discursiva "contrarrevolucionária", pois acima
das palavras e da ética, as cifras da moeda são imperativas, num país
assolado e atolado no mercado de compra e venda do caráter e da
dignidade humana. O valor se sucumbiu ao preço.
O Brasil se tornou um grande feirão, vendem-se e compram-se até as
almas, não interessa se o comprador é Deus ou o Diabo. Cada qual quer o
seu quinhão, desde a pequena banca de frutas até mascate-mor da banca do
Banco.
Pobre de nós brasileiros de baixo, que não sonhamos com os paraísos
fiscais da Suíça nem do Caribe, muito menos com centros comerciais de
Miami para escoar o dinheiro ganho em "escabrosas transações". A nós foi
destinado a chibata no lombo com o recompensador pão, circo e álcool
tributados. Quem diria, àqueles que sustentam o funcionamento do sistema
gerador de lucros para os perversos da pirâmide social soçobram-lhes as
migalhas residuais para nutrir as forças de seu trabalho e o veneno
líquido para entorpecerem as suas existências indignas, embora insistam
em repetir o refrão capitalista: "o trabalho dignifica o homem".
Esse é o circo cujos tristes palhaços riem de si mesmos.
Uma nova Revolução se deflagra hoje, absolutamente consentida pela
materialidade mental da infraestrutura brasileira que bradou aos quatro
cantos da "nossa pátria tão adorada" intensamente nos últimos dois anos:
"Fora Dilma", "Fora PT", "Abaixo a Corrupção".
Ao contrário do que pensa esse povo incontente vociferante –
inconscientemente masoquistas – portanto perversos subjacentes às suas
histerizações fenomenais em face aos seus algozes hipnotizadores
perversamente sádicos, a nova Revolução iniciada hoje é fruto das
cabeças cifradas mercantis pensantes. Esse povo que vociferou
ululantemente foi apenas o meio utilizado para o triunfo do capital
despótico. Agora os dois estão a brindar os seus feitos, os primeiros
ajoelhados em frentes aos "patos de plásticos das Fiesps" – o símbolo
contemporâneo de sua alienação –, os segundos com as patas sujas de
sangue e de ouro, nos seus castelos da Flórida e de Wall Street.
A cobra engoliu o seu próprio rabo, o mato está limpo e seco outra vez.
O barulho da porta da senzala que foi silenciado nos últimos catorze
anos já está rangendo novamente. É o sinal da Revolução de 2016 com o
seu áspero toque de recolher.
Onde está a pólvora?
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