A crise fiscal que atinge o governo federal e a tentativa do
presidente Michel Temer de limitar o crescimento das despesas reativaram
o debate sobre o sistema tributário brasileiro.
Um dos argumentos
mais comuns entre os que se opõem ao congelamento dos gastos do governo
é a necessidade de aumentar os impostos, principalmente sobre os mais
ricos, para ajudar o país a fechar a conta.
Mesmo sem consenso, a tributação de lucros e dividendos é sempre abordada nas discussões sobre reforma tributária.
Um estudo
da Consultoria Legislativa da Câmara de 2015 estima que a cobrança de
Imposto de Renda sobre os dividendos distribuídos a pessoas físicas
poderia gerar uma receita extra entre R$ 30 bilhões e R$ 63 bilhões ao
ano. Entenda como ocorre a tributação dos lucros e dividendos atualmente
no Brasil.
A tributação dos lucros
O
lucro obtido por uma empresa é tributado. Mas quando essa empresa
distribui uma parte ou a totalidade do lucro (pós tributação) na forma
de dividendos a seus sócios ou acionistas, estes declaram os valores
como pessoa física e não pagam Imposto de Renda sobre eles. O argumento
para justificar a isenção, criada pela lei 9249 de 1995, é evitar a bitributação.
Veja como funciona:
- Empresas pagam imposto sobre lucros
- Após tributados, esses lucros podem ser distribuídos aos acionistas
- Os sócios que recebem os dividendos os declaram, mas não pagam imposto sobre esse rendimento
Segundo
os defensores dessa forma de tributar, como há cobrança de impostos
sobre o lucro das empresas, a tributação desses valores, quando vão para
as mãos dos sócios, resultaria em bitributação.
“Nosso sistema tributário é extremamente complexo e tem muito mito, como o de que dividendo não paga Imposto de Renda. Como todo mito na retórica da política, ele é meio verdadeiro e meio falso. Com dividendos, no resto do mundo, há uma alíquota baixa para as empresas e depois se tributa nas famílias. No Brasil se faz toda a tributação na empresa, evita sonegação.”
O
modelo de tributação apenas no nível da empresa praticado no Brasil é
contestado. A grande discussão é se a tributação não deveria incidir
sobre a empresa e também sobre seus sócios. E se a opção for tributar os
dois, o debate é sobre que parcela caberá a cada parte.
Comparação
Juros sobre capital próprio
Existe outra maneira de as
empresas distribuírem seus ganhos, os chamados "juros sobre capital
próprio". Esses repasses são tributados de maneira diferente: os
acionistas pagam 15% sobre o valor.
Argumentos pela mudança
Até
1995, o governo cobrava impostos sobre o lucro na empresa e sobre
dividendos distribuídos. O sistema de cobrança adotado pelo Brasil é
defendido por alguns sob o argumento de que facilita a cobrança e evita a
sonegação de impostos. Quem critica, diz que o modelo favorece os mais
ricos.
Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra, por exemplo que dos 71 mil brasileiros mais ricos, 51 mil receberam dividendos
em 2013. Na visão dos que querem mudar a regra, isso causa uma
distorção, fazendo com que grande parte do que os ricos ganham não seja
tributada. Os ricos têm uma parte maior de sua renda proveniente do
capital do que do trabalho, como mostra esse artigo do jornal O Globo.
Este
argumento, entretanto, não liquida o debate sobre a escolha pela
taxação no nível da empresa ou de ambos, empresa e acionista.
“À medida em que você vai subindo na faixa de renda, a renda do capital passa a ser dominante e como não incide imposto, isso faz com que as alíquotas para os muito ricos comecem a cair”
A
estimativa é que essa parcela mais rica, que recebe mais de R$ 1,3
milhão por ano, pague cerca de 6,7% em tributos. Para quem fatura entre
R$ 162 mil e R$ 325 mil, o imposto chega a 11,8%.
No início do
segundo mandato de Dilma Rousseff, quando a então presidente tentava
fazer seu ajuste fiscal, parlamentares de esquerda tentaram emplacar
projetos de revisão da isenção do imposto sobre dividendos. Mas a
ex-presidente, assim como seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, não
adotaram a ideia. Agora, com o governo Michel Temer, o projeto está
ainda mais longe de voltar à pauta já que a atual equipe econômica quer
acertar as contas reduzindo gastos.
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