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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

FETO, por ALEXANDRE MEIRA (POESIA).



Manhã escura hoje

prematuramente sóbria

pra quem escreve

como quem conta piadas.

Mas eu talho sempre




as mesmas anedotas

mal acabadas,

recém abreviadas,

venereamente inoculadas

no útero do primeiro raio

de sol.



Não houve parto

e a grávida acordou com frio

coberta pela nebulosa úmida

tal qual saliva virou véu

na minha janela,

Ela vem e

implora piadas

com um assobio,

minuano grávido de sorriso

ora aborto condensado no vidro

do meu cativeiro vil de auroras.


Além do torpe sadismo

alheio a dor do parto,


o horizonte nega seu firmamento

em forma de tormenta

precipitando cristais de gelo.


T
orrente aurora,

chia-me baixo como se risse

de mais uma piada ruim

até embaçar de vez esse viveiro,

negando luz ao prisioneiro,

e esfriar o peito materno

carente de sol como acácia.


Congela assim este feto

como imagem sem sentido

numa janela escura, 

         tal frasco de vidro
   
         que é a poesia.

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