Há seis meses, parecia à direita (e a muitos setores da esquerda,
também) que Jair Bolsonaro era apenas um tigre de papel, que na hora
certa – seja pela falta de estrutura partidária, tempo de televisão ou
por radicalismo – se dissolveria, dando passagem a um candidato do
“centro” ou “do mercado”.
E que este”salvador”, claro, tinha a ameaçá-lo apenas Lula que, por
isso, teria de ser retirado da disputa pela via judicial, deixando de
influenciar as eleições como uma lâmpada que se apaga deixa de iluminar.
Vai ficando claro, a quatro meses das eleições que dificilmente será assim.
O clima de guerra e radicalização em que, há vários anos se incubam
os processos eleitorais no Brasil – a rigor, desde que 2006 foi a
primeira esperança frustrada de volta da direita ao poder – espantou
tanto que até os “outsiders” do sistema, Luciano Huck e Joaquim Barbosa,
fugiram da empreitada.
Bolsonaro tem, de fato, limites ditados pela sua boçalidade, mas o
Brasil, está evidente, dá mostras de viver uma época de boçalidade sem
limites. Sua presença num segundo turno já deixou de ser um sonho de
imbecis e de primários para se tirnar um pesadelos para todos os
minimamente lúcidos.
De outro lado, a luz que se apagaria, Lula, não perdeu absolutamente
nada de sua capacidade de ser desejada pelo eleitor, mantendo sempre
algo perto de um terço das intenções de voto mesmo quando o dão como
inelegível.
O que ontem à noite foi dito aqui, hoje encontra uma magnífica
expressão na sensibilidade do cartunista Renato Aroeira, através da
imagem que ilustra o post.
Lula pode não sair da cadeia em que o prendem, mas tem a chave das
eleições. Candidato, mantém um impasse judicial que é sua única defesa,
quando todo o sistema de tribunais parece unânime na vontade de
excluí-lo ou, para ser mais preciso, no medo de contrariar o “Mestre
Moro”, a criatura de que se serviu como símbolo de sua prepotência e sua
ambição de controla da vida brasileira.
Não se pode exigir, nem mesmo se deve esperar que ele jogue fora sua
liderança e sua capacidade de encarnar desejos e vontades de imensas
massas populares do país. Sua candidatura não é, como o raciocínio “muy
amigo” dos colunistas da grande mídia insinuam, um “isolacionismo” e
muito menos um egoísmo político.
É uma tolice – ou pior, aí sim, uma prova de mesquinharia eleitoreira
– a história de que estaria “inviabilizando alianças”. Tolice seria ele
antecipar-se ao impasse que se criou e virar um mero coadjuvante de
fundo de palco, recolhido como está ao silêncio.
O gesto estóico de manter uma candidatura contra toda a máquina que o
condena ou de, na hora em que isso for decisivo, transferi-lo a um
candidato do PT vai ocorrer na hora certa: a hora da tomada de decisão
do povo brasileiro.
Não antes e nem depois, como arrependimento, algo que hoje vai
crescendo entre os que ajudaram a histeria parir o monstro do qual
perderam o controle.
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