Texto publicado originalmente pelo Portal Comunique-se.
Fonte e checagem permeiam o “mundo jornalístico” na produção de
notícias desde sempre. Nos tempos atuais ganham ainda mais importância
diante de um novo fenômeno no mundo digital da internet: as chamadas
fake news — ou notícias falsas. Elas são a distribuição deliberada de
desinformação e boatos por meio, principalmente, da internet. A intenção
é enganar e obter vantagens, ganhos financeiros ou políticos, muitas
vezes com manchetes sensacionalistas, exageradas e, mais grave, falsas.
O tema tem impactado o mundo jornalístico. Preocupa. Muito por conta
dos seus efeitos danosos, sobretudo, na destruição de reputações. Diante
disso, nunca foi tão importante fazer checagem. Aliás, o jornalismo se
faz com checagem das fontes, conversas “olho no olho”, muitas vezes
demoradas, com a confirmação de dados apresentados pela fonte. É
simplesmente uma obrigação. Em um mundo cada vez mais veloz em que a
internet exige que a notícia seja publicada “imediatamente”, segundos ou
minutos após a produção (antigamente era um dia depois, nos casos dos
jornais impressos), a prática de esmiuçar, “destroçar” algo que a fonte
passou para ser publicada passa despercebida. Uma grande falha pode
custar caro.
Sem fonte não há notícia. Sem checagem não há a possibilidade de
descobrir “o mínimo de verdade”. Leon Sigal (1979) conclui que a notícia
não é aquilo que os jornalistas pensam, mas o que as fontes dizem.
Notícia sem fonte pode ser notícia? Notícia falsa pode ser notícia? Se é
falso é notícia?
Há, sem dúvida, muitos questionamentos a fazer sobre esse tema
polêmico. Para ser notícia exige checagem; notícia é algo novo, uma
novidade. É a matéria-prima essencial do jornalismo. A divulgação se dá
por critérios jornalísticos, daí a responsabilidade de quem a divulga.
Portanto, se é falso pode ser tudo (qualquer nome que se queira dar ao
fenômeno), menos notícia.
Combater as fake news é fundamental para o bem da democracia, do
direito de “clarear a cena dos fatos” para que o cidadão possa tirar
suas conclusões. É bem verdade que há uma discussão longa sobre
imparcialidade (que pode não ser neutralidade) — mas que deixaremos para
uma próxima discussão.
E quando se reconhece que é preciso ir contra as fake news devemos
redobrar cuidados para “que a dose do remédio não seja tão forte que
deixe o paciente ainda mais debilitado do que já está”.
Há uma linha tênue entre o desejo do combate e a possibilidade de um
controle de conteúdos que pode se aproximar de censura, em alguns casos.
Há projetos de lei na Câmara dos Deputados que, se não forem bem
avaliados, podem, de alguma maneira, prejudicar, no futuro, a liberdade
de expressão.
É importante saber: o que é notícia falsa? Mais importante ainda:
quem vai dizer se a notícia é falsa? Vamos transformar o cidadão em um
juiz ou julgador? Ou vamos atribuir a entidades privadas ou públicas
essa responsabilidade? Ou aos órgãos de comunicação?
Quem julga está livre de interesses futuros? Quem julga está isento de motivações econômicas e políticas?
Portanto, o assunto é cheio de controvérsias, repleto de polêmicas e
questões que ainda teremos de responder. Por hora, é importante que o
cidadão consiga ser um pouco “investigador”, ao ler algo na internet que
não seja notícia.
Duvide dos exageros, do sensacionalismo. Veja se o que está lendo tem
fonte primária, quem é o autor; se puder não leia somente o título
(leia a matéria completa) e, antes de compartilhar, veja se o assunto
está, por exemplo, em sites de notícias (pode ser feita pesquisa no
Google).
**
Edgar Leite Elegancia é jornalista formado pela UMC.
É editor-chefe do Jornal Diário de Suzano. Mestre em Ciências Sociais
Políticas (PUC-SP), especialista em Jornalismo Político (PUC-SP) com
curso de extensão em Jornalismo e Políticas Públicas Sociais (ECA-USP).
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