Fitava-a há semanas. Dias de condor, selecionada a presa, era só alçar o rasante.
Não
demorou para que a visse novamente no escritório. Fichários, crachás e
documentos, as salas fervilhavam ao gosto do marasmo.
Era
só cercá-la, em um canto, em um corredor. Era tão certo quanto assinar o ponto
na saída, quanto a sede da vagina.
Logo
ela passou por mim. Fez que não viu, mas era o código, era a lenha. Entre
cumprimentos e telefonemas ela passou por mim, sim, e ainda pude ver o seu decote.
Ousado decote.
A
gravata me apertava, a hora demorava a passar. Assinaturas sem capricho me levavam entre
termos, despachos, entre leituras rápidas e goles de café. Ousado decote.
Poucos
a conheciam, mas muito se falava à boca miúda. Mulher discreta, mas de
sorrisos, de batom vermelho forte, de cheiro e gosto. Nossos poucos encontros e
nossas poucas frases, eram a sede do outro dia, eram a ereção durante a noite.
Eram o sabor da carne.
"Ela tá te dando mole!" disse o
invejoso, quando a viu me olhar por mais de um momento. Ela estava sim... Ela
está.
Dispensei
a estagiária mais cedo, menina nova..., mas... muito nova.
Quatro
e meia. Faltava pouco para o dia morrer no escritório, para as luzes sumirem e
esconderem as salas.
Ela
passava sempre às cinco. Sempre. Sei por que marquei... ela sempre olhava cá
para dentro, e me via olhando para ela. Sempre. Às vezes dava um tchau bobo. Às vezes
só olhava, mas que olhar... olhar de Lilith... olhar de vontade.
Como
era nova no escritório, era caxias demais,
queria ser a última a sair. E eu... também.
Cinco
e cinco, puta que pariu, não agüentei. Fui até o corredor. A sala dela ainda
estava com a luz acesa.
Voltei.
Ajeitei o crachá e a gravata. Chefe. Era pra dar uma presença.
Hoje. Tinha que ser hoje. Sexta-feira, sempre rola o chope da galera, mas não
fui. Os outros caras ficaram me sacaneando. Rir por último, sempre.
Cinco
e dez.
As
batidas do salto me alertaram. Corri para porta da sala, quando a surpreendi de
frente no corredor. "Me assustou" disse ela entre um sorriso.
"Saindo tarde..." brinquei olhando para a sua boca. Que boca.
Acompanhei-a
até o elevador. Ajeitei novamente o terno com estilo. O crachá, também com estilo. Saia
justa, meia calça, blusa apertada sob o blazer,
e o decote. O cabelo solto e o cheiro me trouxeram pra perto. A espera do
elevador, olhamo-nos sem dizer nada por alguns segundos. Ela riu. Ri também. Só
enxergava aquela boca.
O
rosto definido e sua bela voz rouca estavam ali. Na minha frente. "Não me
olhe assim...", brinquei. Ela riu. O elevador chegou. Ela realmente estava
me dando mole.
Entramos.
A porta fechou e eu a travei, truque de elevador manual. Ela riu e disse que
tinha medo de elevador, tirando o blazer.
Era
o rasante. Trouxe-a contra meu peito. Beijei a boca com toda a língua, com todo
gosto, com toda aquela tarde. Ela beijava e me apertava, esfregava. O batom
sumiu do lábio, e desabotoando minha camisa, sorvi-lhe o pescoço, a nuca, o colo,
tudo que havia.
Tinha
tanta fome quanto eu. Tinha mais, sede, tanta quanto a minha. Degustávamos ali, onde só nós sabíamos.
Lembrei da galera do chope.
Seios
descobertos, o sutiã era o último limite. Ultrapassei-o com o sabor forte daquele
perfume. Eram bons, diferentes, mas muito bons.
Minutos
nos levavam, quando esbarrei na sua mão, travando a minha, diante do fecho de
sua saia. O seu sorriso. Olhava para mim dizendo "que pressa?!"
Acariciou-me
o peito, esbarrando no crachá. Leu. E rindo surpresa, perguntou-me rouca:
- José Carlos?!
Respondi
beijando-lhe o pescoço, sentindo-a inteira com minhas mãos. Pensava onde
poderia terminar aquela noite, onde a mão dela não mais seria o limite do fecho
da saia. Suas coxas. Estava louco. Estava bêbado.
A
chave do carro, o dinheiro, tudo a favor. Apertando-lhe, sorri. Como se
chamaria aquela noite?
Mais
controlado. Abotoei a blusa, e antes de perguntar-lhe aonde iríamos, indaguei
tirando o crachá:
- Mas, e o seu nome? Até hoje não descobri...
Respondeu-me
seca e nos olhos:
- Tá no seu crachá, meu amor,
o mesmo que o seu...
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