Direto com a agulha no vinil, nesta manhã nebulosa e cabulosa de São
Paulo: “As rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que
roubam de ti.” O poeta Cartola está certíssimo quando o assunto é o amor
por uma mulher. Na política, porém, a floricultura fala muito, berra
como um bezerro desmamado perdido entre veredas e murunduns. Repare como
são histéricas as flores enviadas para o velório dos inimigos e/ou
adversários. Preste atenção nos floreios verbais e nas coroas de
homenagem que chegam à família do ministro do STF Teori Zavascki.
A começar pelo líder do governo Temer no Senado, Romero Jucá, o
“Caju” da lista da Odebrecht, um dos primeiros a entrar na fila das
condolências: “O falecimento do ministro Teori Zavascki é uma grande
perda para o País, em especial para a justiça brasileira”, tuitou. “O
ministro sempre desempenhou um trabalho com precisão técnica e discrição
necessária.”
No áudio de maior sucesso da temporada, o edificante diálogo entre o nobre parlamentar e o enroladíssimo Sérgio Machado,
o vivo Zavascki é o demônio que desataria o “acordão” para salvar a
pele dos políticos citados nas delações da empreiteira. Duvida? Play it
again, Sam, na fita cassete mais bombástica da Lava Jato.
As rosas dos velórios falam alto, Cartola, como em um samba de morro
na voz de Bezerra da Silva. As rosas simplesmente deduram as sacanagens
dos bastidores de Brasília. Sábias rosas histéricas.
Os floreios, em missa de corpo presente ou nas redes sociais, seguem
nas bocas daqueles raivosos senhores que cercaram a residência do gaúcho
no ano passado em Porto Alegre. Que fofos, agora. Nem parecem os
manifestantes daquela faixa amarela “Teori traidor”. O ministro acabara
de determinar que o juiz Sergio Moro
enviasse para o STF as investigações da Operação Lava Jato que
envolviam o ex-presidente Lula. Carapuças neles, como diz meu
amigo-padre Lopes Gama!
Conspiração Paraty
Pelo direito sagrado de conspirar. Somente os sem-imaginação ou
interessados em abafar supostos crimes espiam, de cara, com olhos frios e
técnicos. Do alto da sua pedreira espiritual em Curitiba, o
samurai-polaco Paulo Leminski dá a letra:
“Confira/ tudo que/ respira/ conspira”.
Como não desconfiar de certos crimes que superam os enredos dos mais absurdos seriados da tevê?
Bote conspiração nisso. Ora, historicamente temos razões de sobra
para qualquer delírio nos episódios mortais. Você sabe, por exemplo, meu
prezado, o dono de fato e de direito do avião que matou o ex-governador
Eduardo Campos, em plena campanha eleitoral de 2014? Ninguém e muito menos Pernambuco.
Conspirai-vos uns aos outros. Essa aprendi como o meu cronista de
costumes espanhol predileto, Mariano José de Larra (Madrid, 1809-1837),
autor do livro “El arte de conspirar”. Gracias, amigo Álvaro Costa e
Silva, El Marechal, pelo regalo editorial. Gracias. E que as
conspirações nos leve longe, além muito além das frias autópsias que não
esclarecem os acontecimentos.
Xico Sá, jornalista e escritor, é autor de
“Caballeros Solitários rumo ao sol poente” (Editora do Bispo), um
romance brasileiro em portunhol selvagem. Comentarista dos programas
“Papo de Segunda” (GNT) e “Redação Sportv”.
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