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Por Rogério Castro.*
É uma
espécie de consenso na realidade brasileira contemporânea a constatação
de uma tendência que registra uma crescente inflexão de setores médios
da sociedade para o pensamento conservador. Apontar algumas das raízes
desse fenômeno são o objetivo desse esboço que pretende apenas
apresentar de modo sintético alguns pontos ou linhas gerais do problema.
Durante o
ano de 2013, em São Paulo, o Movimento (juvenil) Passe Livre (MPL) saiu
às ruas para protestar contra o reajuste da tarifa do transporte público
na capital paulista – administrada desde então pelo prefeito Fernando
Haddad, PT. À época, articulistas da grande mídia, notadamente o senhor
Arnaldo Jabor, no seu hoje praticamente extinto comentário no telejornal
de final de noite da TV Globo, ironizaram aqueles jovens de “classe
média” alegando ser “tudo aquilo” (referência aos protestos) por apenas
“20 centavos” – era a diferença monetária entre o valor antigo e o
reajustado da tarifa. Tal movimento, ao contrário do que prescrevia os
sábios articulistas da grande mídia, muito bem pagos, diga-se de
passagem, para “defender suas convicções”, adensou-se, ganhou novas
pautas, chegou ao Rio de Janeiro, e teve alguns picos – na capital
fluminense, um no dia 17 de junho e outro no dia 20 de junho de 2013. O
Brasil estava prestes a sediar o evento da FIFA, Copa das Confederações,
e muito se falava na grande mídia a respeito das obras majoradas dos
estádios de futebol e sobre a utilidade dos mesmos após a realização da
Copa do Mundo, realizada no país no ano seguinte. Em São Paulo, por
exemplo, a FIFA havia exigido a construção de um novo estádio, o que
acabou ocorrendo (“Itaquerão”), e, apesar de blindado pela Rede Globo, o
mundo ficara sabendo que o ex-presidente da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, havia cobrado propina, segundo o
ex-presidente da AF (Federação Inglesa de Futebol) Triesman, para apoiar
a candidatura da Inglaterra para sediar a Copa do Mundo em 2018 –
apesar do esforço em poupá-lo, o mencionado dirigente chegou a desdenhar
do que se falava sobre ele fora do Jornal Nacional, Teixeira acabou
entregando o cargo, sob, desde então, uma avalanche de denúncias e
investigações. A situação na saúde e educação públicas apareceram, de
modo espontâneo, naquele Movimento, que passara a ser conhecido como Jornadas de Junho.
O Brasil saiu às ruas contra [aquele] “atual estado de coisas” – ou
seja, era mais ou menos esse o sentimento genérico da maioria das
pessoas que saía de suas casas para protestar de maneira espontânea.
Evidentemente que, conforme observava na época o ex-presidente da
Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ), Mauro Iasi,
aquilo era a expressão maior de um conjunto de contradições que se
desenvolvia de modo latente no seio da sociedade brasileira, e que, uma
hora, iria explodir, como explodiu. A repressão brutal da Polícia
Militar paulista, posteriormente esquecida por significativa parcela da
classe média paulistana refém dos direcionamentos da grande mídia, foi
outro motivo que impulsionara as pessoas a reagir, movidas também pela
indignação contra a truculência oficial do Estado. Tal revolta com a
Polícia logo fez surgir, no seio da juventude, sempre mais afeita (e
cheia de gás) a rebelar-se contra injustiças, jovens dispostos a
enfrentar a PM com máscaras de gás, vinagre – para proteger-se das
bombas de gás lacrimogêneo – e artefatos caseiros, como coquetéis molotov. O Brasil conheceu a ideologia Black Bloc (bloco
de pessoas trajando preto), que, em Seatle, EUA, durante os protestos
anti-globalização, em 1999, havia demonstrado a tática de ação direta
que – segundo seus membros – tinha como objetivo “gerar prejuízos ao
capitalismo”, destruindo corporações consideradas “símbolos do sistema”.
Como grupo de pessoas (mascaradas, em grande parte, talvez para
protegerem-se da repressão das inúmeras câmeras de vigilância situadas
em toda a parte) que se unem e se identificam pela cor da vestimenta
(preta), basicamente para a ação direta, despertaram a atenção pela
destruição a bancos e ao patrimônio privado aqui no Brasil em 2013. A
esquerda brasileira, confusa ou até estupefata diante do fenômeno
inusitado e desacostumada com manifestações não coordenadas por ela,
muito mais pela peculiaridade de ação do grupo do que pela dimensão que a
manifestação tomou, oscilou em suas posições entre uma rejeição
enérgica, em grande parte pequeno-burguesa, à destruição, e uma posição
de encarar aquilo como produto da dinâmica do próprio capitalismo, como
fora a reação espontânea dos trabalhadores de destruição às máquinas no
século XIX, ainda que movidos pelo temor da iminente perda de emprego
para o maquinário, e com menos sentimento de culpa ou responsabilidade;
alguns chegaram a descrever os black blocs como neoludistas,
em referência ao ludismo inglês. A guerra de rua, com a utilização de
barricadas, repetiu-se em São Paulo, mas, antes de arrefecer, teve maior
incidência na zona sul do Rio de Janeiro, cidade que teve a sua Câmara
Municipal ocupada no decorrer dos acontecimentos em prol da CPI dos
Transportes e cuja manobras da maioria governista impediria uma
investigação descomprometida, batalha travada pela oposição liderada
pelo PSOL, que pretendia investigar o magnata dos transportes do Rio,
Jacob Barata; dada a desproporcionalidade de forças, foram muitas as
prisões, inquéritos e outras medidas judiciais – diga-se de passagem,
ainda há encarcerados no Rio de Janeiro, em decorrência dos protestos.
Em síntese, as Jornadas de Junho,
se compiladas, embora tenham tais demandas surgidas imprevisivelmente e
espontaneamente, podem ser precisadas como lutas contra o transporte
público de modelo concessionário (a bandeira do MPL é passe-livre
universal), por mais investimentos em educação e saúde públicas (uma das
palavras de ordem mais comuns que se ouvia nas ruas do Rio era “Da Copa
(do Mundo) eu abro mão, quero dinheiro para saúde e educação!), e,
intimamente ligado à isso, a revolta era movida pelos gastos
astronômicos com a construção ou reformas dos estádios das 12
cidades-sedes da Copa do Mundo. O Movimento ganhou dimensão nacional,
dias depois de ter aumentado de proporção em São Paulo e no Rio de
Janeiro, e, como uma maré montante, explodiu no dia 20 de junho de 2013
levando mais de um milhão de pessoas às ruas do país – a imagem da
tomada do Congresso Nacional, em Brasília, chegou a ser descrita por
alguns como a Tomada da Bastilha, na França, em 1789, mas, movidos por
sentimentos mais difusos do que os revolucionários franceses que queriam
derrubar a monarquia feudal (ou eram guiados por um polo consciente
desse propósito), aqueles jovens mostravam-se muito mais intrincados ao
então filme “clássico” entre as novas gerações “V de Vingança”. As
máscaras vistas nas ruas, nas convocações do grupo Anonymous e
inspiradas no filme, que revela-se tão difuso e, em certa medida,
confuso nos seus propósitos e na sua crítica ao regime social (não só
confusa, como rasa e sem coerência crítico-analítica), mostravam-nos
que, se se quisesse entender o que movia parcela daquela juventude,
ter-se-ia que se mergulhar no universo da mesma, e este não era, entre
os mais novos principalmente, os livros que tinham como objeto de
crítica a sociedade engendrada pelo padrão industrial e suas várias
mutações, mas sim o filme cujo título expressa o sentimento da revolta –
vingar, por vingar-se (as tentativas de incendiar Casas Legislativas
eram muito mais uma demonstração da vingança com os políticos do que uma
ação consciente com o intuito de derrubar o Estado e reconstruí-lo
revolucionariamente, como se viu em Paris no ano de 1871, ainda que seja
uma reconstrução com vias estratégicas na sua desconstrução futura, ou
uma ação que mostra a hegemonia do pensamento anarquista de esquerda,
que projeta a destruição imediata do Estado, na juventude brasileira,
ainda que a zona de influência e tal corrente política tenha saído
fortalecida, também entre os professores da rede estadual de ensino,
principalmente no Rio de Janeiro).
O ambiente horizontal e descentralizado da internet, como caracteriza os estudiosos da cibercultura,
corretos na descrição de tal evento, principalmente com o advento das
redes sociais e da circulação instantânea de informações, contribui para
dificultar a apreensão das linhas motoras, ainda que espontâneas, do
Movimento em questão; mas, creio que, ainda que espontâneo, uma das
linhas motoras da juventude brasileira em 2013 tenha sido o filme “V de
Vingança” – principalmente no momento em que o Movimento atingiu o auge.
No Rio, por exemplo, não se pode descartar que a simpatia de fortes
segmentos sociais com o deputado Marcelo Freixo na eleição para prefeito
no ano anterior, o seu trabalho de denúncia ao modelo de cidade-negócio
desenvolvido, ou seja, o rescaldo de 2012, não tenha tido relação com a
composição original dos protestos de junho ali realizados e não tenha
sido – também – uma das linhas motoras do Movimento – em seu primeiro
momento, especialmente no dia 17 de junho. Como há um farto conteúdo
sobre as Jornadas, com reflexões, como o livro Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (Boitempo, 2013), ou como a análise empírica da cobertura da mídia no livro Vozes Silenciadas
(Intervozes, 2014) – outro ponto sensível e decisivo para a manipulação
da opinião pública –, assim como uma infinidade de artigos que exploram
a infinidade de fatos aqui sequer mencionados, na Internet, o
importante a reter aqui é que, de um modo geral, ainda que difuso em
alguns momentos, o polo impulsionador dos protestos foi a
esquerda, o sentimento da luta contestatória; nos momentos difusos, em
que a força motriz hegemônica passou a se identificar com o “V de
Vingança”, tal hegemonia não parecia incomodar-se com a presença da
esquerda, o que não quer dizer que nutrisse as maiores simpatias.
Indiferença, e não desprezo ou rejeição enérgica, talvez traduzisse a
situação – mas isso até que a presença das bandeiras dos partidos de
esquerda não desse início às turbulências e fissuras. Em parte, aquilo
era a manifestação do que o filósofo Carlos Nelson Coutinho chamava de
despolitização da sociedade, provocada pela ideologia neoliberalista e a
imposição do pensamento único, que só a forma social atual é possível –
ou melhor, irreversível. A incapacidade de a esquerda ler aquela
situação ficou patente na sua falta de protagonismo político e
iniciativa como força consciente e motora que se atualiza conforme os
fatos – o problema teórico da compreensão do real a partir do ponto de
vista da totalidade, como assinala Lukács desde 1923, nos parece ser
ainda um dos principais entraves para tal superação. A ausência de
quadros qualificados, e, por conseguinte, de um polo consciente para
extrair as potencialidades daquela ebulição social, iria também, em
grande parte, expressar e ser responsável pela não-observância na
consolidação ou no surgimento de uma liderança pública, tal qual fora
nas expressivas manifestações em 1992, ou nas manifestações operárias
nos anos 1978-80. Evidentemente que aqui se interpõe o problema da
composição social das manifestações de 2013, e também os limites; mas o
fato é que não está dado ou pressuposto no começo os rumos e a evolução
de uma crise social como a que se ensaiou em Junho de 2013 – a situação
poderia evoluir, ter ganhado outro eixo dinâmico, mas, apesar de ter
conseguido o êxito da redução das passagens no Rio e em São Paulo (que
pouco depois seriam novamente majoradas), no Rio, a evolução
condensou-se de modo mais expressivo na exigência – esta não exitosa –
da saída do governador estadual Sérgio Cabral.
O fato é que
a direita não ficou em casa assistindo às manifestações pela TV – outro
fato inovador nesses protestos, a cobertura em tempo real teria sido,
em parte, estimulada pela concorrência e contraponto das coberturas em
tempo real (via internet) feitas pelos ativistas da Mídia Ninja
e dos meios de informação da chamada mídia alternativa. A guerra na
Avenida Paulista contra o vermelho das bandeiras, ou mesmo no Rio de
Janeiro no dia 20 de junho de 2013, não era apenas uma manifestação do
“independentismo” dos movimentos juvenis em rejeição às supostas (e às
vezes reais) manobras dos líderes dos partidos, ou o receio de ser massa
de manobra de interesses pejorativamente chamados de partidários; não
era também uma rejeição às hierarquias e aos comandos ou instâncias
partidárias superiores, cuja resposta são movimentos como o próprio MPL,
que prima pela chamada horizontalização. A guerra contra as bandeiras
vermelhas – e contra os partidos de esquerda – tinha como polo propulsor
sentimentos e pensamentos conservadores que já há algum tempo vinham
sendo gestados na sociedade brasileira – e que ganhou potencialidade com
o poder de difusão da internet. A ação, ou a “grande estreia”, do
pensamento conservador nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro na
quadra atual deu-se pegando carona ou usurpando um Movimento que, apesar
do adensamento espontâneo posterior, teve como polo deflagrador a
esquerda – apesar das reivindicações de independência e horizontalismo, o
próprio MPL, com o desdobramento dos fatos, assumiu, e isto é um
inevitável desdobramento necessário, ser um movimento anti-capitalista.
Tal observação se faz importante aqui, pois, como é praxe na trajetória
das forças conservadoras, as Manifestações de Junho de 2013 não foram
por elas organizadas/convocadas, algo totalmente diferente do que se diz
nesses dias de 2015. A entrada pesada e triunfal das forças
conservadoras nos protestos deu-se, portanto, graças à polêmica das
bandeiras, isolando e sufocando, com isso, a esquerda, que não fora
capaz de sair-se dela. Com palavras de ordem despolitizadoras e com uma
defesa abstrata do Brasil, como se o país não fosse todos nós e, a causa
do dissenso social, não tivesse relação alguma com os habitantes daqui e
o papel desempenhado por cada um deles na estrutura social, as
manifestações, ainda que não totalmente influenciadas decisivamente por
esta nova força motriz atuante, passaram a receber sua influência, e,
ainda que não de modo inteiramente consciente pelos agentes dispersos
deste polo, passaram a galvanizar importantes contingentes para uma zona
de influência com polo alimentador conservador e reacionário – e o
importante aqui, para o nosso propósito, é o desenvolvimento do ativismo
militante de direita pela internet.
A questão é que após as Jornadas de Junho,
os governos, inclusive o federal, passaram a dar respostas às
reivindicações que vieram das ruas. O passe-livre, ainda que como
política social focalizada, foi instituído, apesar das tarifas de
transporte urbanas terem sido reajustadas – e muito – no período
seguinte. A questão posta na forma do “direito à cidade” passou a ser
tratada como “mobilidade urbana”. Em São Paulo, por exemplo, a
prefeitura instalou dezenas de quilômetros de ciclovia. Na saúde, o
governo federal, apesar de seguir na sua obstinada obediência ao
superávit fiscal, lançou o Programa “Mais Médicos”, que levou médicos à
áreas remotas do país. Na educação, o governo sancionou o projeto que
destina 75% dos royalties e 50% do Fundo Social do Pré-Sal, após o mesmo
ter sido aprovado pela Câmara dos Deputados. Naquela época, vale dizer,
a rejeição geral era aos políticos (vide a docilidade com que o
Congresso encaminhou respostas às ruas), diferente de hoje. Em relação à
corrupção, propôs-se uma Assembleia Constituinte Exclusiva para a
realização de uma Reforma Política, mas que por resistência do PMDB, e
também da oposição conservadora, foi travada. A defesa por parte do PT
do financiamento público de campanha – bandeira esta também defendida
pelo PSOL (aliás, aqui encontra-se um ponto para iluminar aqueles que
localizam o PT, em todos os aspectos, como parte do campo conservador)
–, bem como a defesa de uma consulta popular via plebiscito para decidir
pela realização ou não de uma Assembleia Constituinte Exclusiva, foi
inteiramente rechaçada. Aqui, vale um parêntese, revela-se a hipocrisia e
o caráter anti-democrático dos setores que nos dias de hoje falam em
“combate à corrupção” e em tentativa de transformar o Brasil numa
“ditadura bolivariana” – aos moldes da Venezuela. Ora, se a maioria da
propina “cobrada” pelos partidos são “pagas” pelas empreiteiras sob a
rubrica de “doações (oficiais ou não) de campanha”, por que então alguns
partidos colocam-se contra essa clara tentativa de contenção da
promiscuidade entre as agremiações e o poder econômico? Desde quando um
plebiscito com participação popular direta é algo tirânico e ditatorial?
Revela-se aqui uma assombrosa dissimulação no trato do problema com
vistas ao seu equacionamento, assim como fica evidenciado que tal
discussão só pode ser vedada ao conjunto da opinião pública por
sofisticados mecanismos de controle e por articulistas mais engajados a
um determinado ponto de vista do que comprometidos com o debate do
problema até as suas últimas consequências. E é aqui que surge a
proposta, defendida pelo PT e também pelo PSOL, de regulação dos meios
de comunicação ou “democratização da mídia”, dado a forma como
editorialmente os jornalistas são controlados e domesticados pelas
redações pertencentes a monopólios e oligopólios, que, por conseguinte,
acabam controlando a informação. A desfaçatez aqui se revela da seguinte
maneira – a regulamentação da mídia inibe a liberdade de expressão; o
Estado não pode controlar a informação – esbravejam –, mas um punhado de
empresários da comunicação e políticos, sim.*
Ascensão conservadora
Passada as
manifestações, pelo lado da sociedade civil (não no sentido hegeliano), a
intransigência à esquerda passou a girar em torno do Conselho Federal
de Medicina e a oposição ao “Programa Mais Médicos” – pelo programa
importar médicos estrangeiros, e em sua maioria cubanos. O ódio ao
regime cubano passou a acusar o governo brasileiro de cumplicidade com
uma “ditadura sanguinária”. A questão a ser dita aqui é que, no geral, o
crescimento desse sentimento anti-esquerda não pode ser compreendido
como um fenômeno despropositado, sem a interferência ativa, consciente e
sistemática de um polo propulsor, e muito menos, em alguns
casos, como um saudosismo de quem supostamente viveu “bem” entre os anos
de 1964-1985. Refiro-me aqui, em linhas gerais, a um polo intelectual
de jornalistas e escritores brasileiros que são, hoje, a força motriz da
escalada do pensamento e da ação liberal-conservadora e
ultra-conservadora (reacionária), bem como as consequências da entrada
das Igrejas Evangélicas no “debate público” nacional.
No campo editorial, o ex-jornalista da revista Veja,
Leandro Narloch, é responsável por uma sistemática “releitura” do
mundo, da América Latina (em parceria com Duda Teixeira, jornalista e
editor-assistente de internacional de Veja) e do Brasil – os chamados Guias Politicamente Incorretos. O encarregado de escrever a “releitura” da História da Filosofia, proposta impensável para um ex-jornalista de Veja,
é o filósofo e professor da PUC-SP, Luiz Felipe Pondé, co-autor do
título “comovente”, e sugestivo, “Porque virei a direita – três
intelectuais explicam sua posição pelo conservadorismo” (2012), junto
com João Pereira Coutinho, que acaba de lançar no Brasil “As ideias
conservadoras – explicadas a revolucionários e a reacionários” (2014), e
Denis Rosenfield, professor da UFRGS e autor de “Reflexões sobre o
direito à propriedade – condição de liberdade” (2007). Outro “Guia
Politicamente Incorreto” é o “Livro Politicamente Incorreto da Esquerda e
do Socialismo”, lançado em 2013, de Kevin Williamson (este livro no
site da Livraria Saraiva estava na lista dos mais comprados). Temos
ainda como combatente do front editorial conservador o
historiador, também da USP, Marco Antônio Villa, que, pela Editora Leya
Brasil, lançou, em 2012, o livro “Mensalão – o Julgamento do Maior Caso
de Corrupção da História Política Brasileira”, cuja capa, vista em todos
os recantos do bombardeio publicitário que é a internet, chama a
atenção, por trazer uma mulher trajando um atraente vestido com a
bandeira brasileira cercada por políticos com olhares sedentos e
parcialmente fantasiados num baile de carnaval. Villa também escreveu
“Década perdida”, pela Editora Record, no ano de 2013, e cujo trabalho
se encontra na 8ª edição, bem como “Um país partido: 2014 – a eleição
mais suja da História” (Leya, 2014). Outro autor, que se autoproclama um
“liberal sem medo da polêmica”, é o economista Rodrigo Constantino,
também alçado pela Veja como colunista no front da
internet, o que lhe rende uma legião de “seguidores”. Constantino – que
também é presidente do Instituto Liberal no Brasil – acaba de lançar
“Contra a maré vermelha” (Record, 2015), livro em que colige artigos
publicados por ele no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, entre
os anos de 2009 a 2014. Mas o seu sucesso editorial mesmo é “Esquerda
Caviar” (2013), que está na sua 8ª edição e vendeu mais de 40 mil
exemplares, além de ter figurado nas listas da Veja, Época e O Globo.
Rodrigo escreveu também “Privatize já: pare de acreditar em intrigas
eleitorais e entenda como a privatização fará o Brasil um país melhor”
(2012), “Liberal com orgulho” (2011), “Economia do indivíduo: o legado
da escola Austríaca” (2009), “O poder das ideias – A vida, a obra e as
lições de Ludwing von Mises” (2010), dentre outros. Constantino também
apresenta o livro “Nossa Cultura.. ou o que Restou Dela”, de Theodore
Dalrymple, lançado este ano. A “Escola Austríaca”, “O Essencial de Von
Mises”, ambos lançados em 2010, “A mentalidade anti-capitalista”, de
Ludwing von Mises, 2013, são obras que confirmam que a escalada
conservadora no campo editorial é articulada. O jornalista Reinaldo
Azevedo, hoje blogueiro de Veja e colunista da Folha de S. Paulo,
e que conta, segundo sua página na enciclopédia virtual Wikipédia, com
150 mil acessos diários em seu blog, mostrando assim uma influência não
desprezível, lançou, em 2012, “O País dos Petralhas- II”, uma reunião de
ensaios e artigos sobre política, mas também sobre aborto,
homossexualismo, discriminação das drogas, etc., temas para os quais ou
tem posição contrária e conservadora, ou polemiza negativamente com os
movimentos organizados (gays). No flanco extremo dessa plêiade
conservadora, destaca-se aqui o mais velho de todos os “novos
conservadores” brasileiros: o filósofo e entusiasta do regime militar,
Olavo de Carvalho. “O mínimo que você precisa saber para não ser um
idiota”, lançado no ano de 2013, é uma obra que reúne textos do autor
que, além de ser articulista do site direitista Mídia sem Máscara, há alguns anos dá cursos e grava vídeos divulgados pelo YouTube alarmando seus ouvintes, dentre outras, para os riscos do Foro de São Paulo e a “ameaça” do comunismo na América Latina.
No campo do
jornalismo, apesar de alguns dos autores acima serem colunistas em
alguns jornais, revistas e telejornais, destacaremos aqui os dois mais
raivosos dos liberais: Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino. Ambos são
blogueiros da revista Veja, do grupo Abril, e se destacam por
produzirem artigos, com audiência não desprezível, quase inteiramente
panfletários e com o objetivo exclusivo de atacar o pensamento de
esquerda. Azevedo e Constantino, como jornalistas, poderiam ser chamados
de estalinistas de sinal contrário; isto é, submetem a ciência à
propaganda, suas pautas deixam de ser guiadas naturalmente pelos fatos
que emanam da dinâmica social para partirem do princípio obsessivo de
atacar a qualquer custo o pensamento de esquerda (propaganda). E para
ilustrar o seu ataque não apenas ao governo federal, podemos citar aqui
as duras críticas dirigidas por Constantino à Vladimir Safatle, filósofo
da USP e militante do PSOL, ou mesmo a censura raivosa e radical de
Reinaldo Azevedo aos protestos contra o Leilão do Campo de Libra, em
2013, ao PSOL e ao PSTU (os destaques nos textos de ambos são sempre
feitos em azul, e nunca em vermelho, mostrando, fato dito abertamente
pelos mesmos, a que nível rebaixado de intolerância chegaram). Se
pegássemos dois renomados articulistas da grande mídia, como Miriam
Leitão e Elio Gaspari, e comparássemos com os dois, veríamos um
contraste entre o ataque premeditado e obsessivo destes dois últimos com
uma oposição à esquerda mais equilibrada, sutil e até mais racional
daqueles – por partirem e argumentarem dos fatos e não pura e
simplesmente do ataque obsessivo e até mais irracional. É aqui,
portanto, a nosso ver, que está a base intelectual do ódio e da
intolerância mais radical à esquerda, vistos nos protestos de 15 de
março de 2015. Outra que se destacaria na mais nova legião de
reacionários é a jornalista Rachel Sheherazade, comentarista da rádio
Jovem Pan, em São Paulo, e do SBT. Ela se destacou por tentar, mesmo
sendo mulher, defender o militar da reserva e deputado federal, Jair
Bolsonaro, de sua fala infame de que não estupraria a deputada Maria do
Rosário (PT) por “ela não merecer”, e por defender jovens de classe
média do Rio de Janeiro que amarraram um garoto negro a um poste após o
mesmo praticar um pequeno furto.
No andar de
baixo, as inflexões de dois roqueiros brasileiros ao pensamento
conservador não podem ser entendidas sem a compreensão desse caldo
cultural de direita. Lobão, que até escreveu um livro chamado “Manifesto
do Nada na Terra do Nunca”, antes de ter sido doutrinado por Olavo de
Carvalho, era um artista que aparentava possuir algum tipo de
credibilidade intelectual; mas, submetido a doutrinação barata e ao seu
ímpeto de querer ser sempre maior do que realmente é ou pode ser,
mostrou ser alguém de diminuta estatura intelectual, de frágil formação
filosófica – a sua conversão fora precedida, anos antes, de uma luta
contra a exploração das gravadoras sobre os artistas, da luta contra a
hipócrita “guerra às drogas” e mesmo de uma prisão por porte de
entorpecente. Não se imaginava que alguém que tecesse tão lucidamente
uma crítica ao modo burguês de vida (“Sua vida burguesa é um romance/um
roteiro de intrigas/para Fellini filmar”) pudesse se reencantar tão
credulamente. O suposto comediante Danilo Gentili, com quase 10 milhões
de seguidores no Twitter, famoso por ser um dos precursores do gênero comédia stand-up
no Brasil, é outro que pode ser considerado um influente produto do
caldo cultural direitista que vem se instalando no Brasil. Numa de suas
apresentações ao estilo do “Politicamente Incorreto”, vê-se, além da
baixeza dos seus argumentos e que denuncia a sua pífia formação
cultural, um discurso altamente preconceituoso, como o que critica Lula
por não saber, segundo ele, ler (como se ele, Gentili, fosse exímio
conhecedor da cultura universal), e dirigido premeditadamente contra a
esquerda – no stand-up citado, ele diz não fazer sentido algum a
esquerda ter lutado contra a ditadura, desdenha da tortura e das
guerrilhas, bem como acusa Plínio de Arruda Sampaio, ex-candidato do
PSOL à presidência, de ser “um rico comunista que quer dividir as
terras, mas não as suas” (o evento ocorrera em 2010, na cidade de
Brasília). Ao lado de Gentili na trincheira anti-esquerda encontra-se o
roqueiro Roger (Ultraje a Rigor), que desfere, em outras palavras, o
mesmo pensamento de Danilo e do caldo cultural direitista, mostrando,
também, com isso, pífio conhecimento histórico e fraquíssima formação
filosófica – condições basilares para se fazer arte de verdade.
A legião de
seguidores que estes indivíduos possuem nas redes sociais e o caldo
cultural ao qual se encontram envoltos e que reproduzem são suficientes
para, já que eles ou são formadores de opinião, ou exercem pressão sobre
ela, se constituírem fortes “correntes de opinião” conservadoras. Não é
à toa que se ouve falar nos dias correntes em “bolsa-ditadura”, ou nos
“crimes cometidos pelos militantes de esquerda” durante o regime militar
– para ficar só com esses exemplos. A ignorância histórica, a
superficialidade e a estupidez professadas por esses argumentadores só
merecem atenção aqui pelos estragos que têm feito sobre as referidas
audiências. Faixas cobrando menos “doutrinação marxista” nas escolas, ou
mesmo “menos Paulo Freire”, ou ainda “Mais Mises, menos Marx”, durante
os protestos do dia 15 não são casuais; antes são reflexo não apenas
desse caldo cultural, como também resultado da pregação de seus
agitadores conservadores, como Rodrigo Constantino (é só ir ao blog do
presidente do Instituto Liberal, no site de Veja). A comparação
com o regime militar e os pedidos de intervenção não podem ser
inteiramente compreendidos sem a observância dos textos, áudios e vídeos
– com relativa audiência – do defensor do golpe militar de 1964, Olavo
de Carvalho, que “milita em prol do Brasil” direto dos EUA. Longe de
bobo, Carvalho, que mostra conhecer o marxismo ao falar que o único
componente racional de sua teoria é a sua explicação do mundo social a
partir do trabalho, na sua lógica conspirativa, apregoa em seus vídeos
que, enquanto os militares pensavam ter “aniquilado” a esquerda no
Araguaia, ela estava com o PCB fazendo a revolução cultural,
imiscuindo-se na cultura nacional, por já ter lido A. Gramsci; é daí que
se entende porque alguns chegam a dizer hoje ser grandes jornais, como a
Folha de São Paulo e O Globo, jornais “contaminados” pelo pensamento de esquerda (ver entrevista de Olavo à Veja,
03/04/2011). É a visão de um totalitarista.. de uma direita com aversão
ao debate lógico e racional – e, por conseguinte, não democrática. E
aqui, uma vez mais, estariam dadas as condições para o ressurgimento do
ódio e da tolerância zero à esquerda.
Em amplo
sentido, essas diversas correntes de opinião de direita acabaram por se
expressar nos últimos tempos em grupos para a ação prática – uma espécie
de oposição extra-parlamentar conservadora. Atuando majoritariamente
nas redes sociais, grupos como “Movimento Brasil Livre”, ou mesmo
“Revoltados On Line” (com quase 750 mil seguidores no Facebook) e cujo
líder, Marcello Reis, defendera a intervenção militar e extinção de
partidos, “Vem pra rua” (os articuladores do “panelaço” contra Dilma)
apregoam, volta e meia, ataques à Venezuela, Cuba (cartazes contra Cuba e
anti-revolução bolivariana não são aleatórios), e a tudo que possa
lembrar Marx, a esquerda ou o comunismo (“A nossa bandeira jamais será
vermelha”, não foi uma palavra-de-ordem inflamada à toa), onde refletem o
mesmo ódio do caldo cultural conservador e reacionário gestado por seus
intelectuais (“Olavo tem razão”, é o que dizia uma dos cartazes). Em
entrevista à BBC, a líder do MBL afirma com todas as letras não ser
apenas anti-PT, mas ser a favor da privatização da Petrobras e liberal.
As redes sociais são a condição para a rápida proliferação de suas
mensagens na selva que se tornou a internet, principalmente para o
cidadão médio. Não foi por acaso que viu-se, semanas atrás, um cartaz
com a promessa de se recompensar por um líder do MST “vivo ou morto”, ou
mesmo tanta gritaria por Lula, na ABI, dias atrás, ter falado em
convocar o “exército” do MST e a sua fala ter sido distorcida do sentido
metafórico para o literal. Tais fatos não podem ser compreendidos
desconexos do ambiente de exasperação que vem sendo gestado no país.
O outro polo
que nutre o pensamento conservador no Brasil atual é o evangélico.
Fundado em verdades previamente reveladas, e portanto avessas ao exame
empírico característico da ciência na era moderna, o pensamento
religioso, por isso, é dogmático; crer, contra qualquer evidência
empírica, antes e acima de tudo, na existência de um Ser Supremo. O seu
guia são as Escrituras Sagradas – Bíblia. E, por elas conterem antes e
acima de tudo a verdade, que fora previamente revelada, não só defendem
ardorosamente o Pecado Original ou o Fim do Mundo, mas têm exigido de
seus seguidores uma conduta sempre compatível com as suas interpretações
do evangelho. Silas Malafaia é no Brasil de hoje um dos mais engajados
na Cruzada da Fé contra os ímpios e detratores da “Palavra de Deus”. Não
por outro motivo, inclusive nas últimas eleições com o candidato Pastor
Everaldo, que em temáticas mais gerais era uma espécie de linha
auxiliar de Aécio Neves tamanha identificação com a linha neoliberal,
sumamente diziam ser “família, homem e mulher, a favor da vida do ser
humano desde a sua concepção e contra a legalização das drogas”; era uma
referência clara à temas postos na ordem do dia por movimentos sociais
brasileiros. Qualquer componente de racionalidade para esse setor – que
inclusive hoje preside a Câmara dos Deputados – é facultativo; a fala de
Eduardo Cunha de que o aborto só seria discutido na Casa Legislativa
“após passar por cima do seu cadáver” pode ser vista como mais do que
uma declaração carregada de sentido político; ela parece refletir muito
mais o sentimento religioso de sobreposição do dogma e da fé sobre o
diálogo racional, traço constitutivo do debate científico e público
modernos; e o problema aqui é que isso não nos parece ser um caso
isolado – André Singer, em palestra realizada em São Paulo em 2012
(disponível no YouTube) sobre a ascensão do conservadorismo,
pontua para a ascensão das confissões evangélicas e a relativa
identificação destas com o pensamento conservador, bem como observa a
decaída do pensamento progressista na Igreja Católica e a perda de sua
influência no país – é só contrastar, por exemplo, o humanismo de Frei
Beto e Leonardo Boff com o dogmatismo e conservadorismo de Silas
Malafaia, Marco Feliciano ou o Pastor Everaldo, este último conhecido em
2014 pelo bordão “vou privatizar tudo!”.
A confluência dessas ações em vários fronts
– como aqui salientado – tem como desaguadouro a criação do Partido
NOVO – “um partido político sem políticos”, como se auto-definem, como
se a defesa da “redução da área de atuação do Estado [leia-se:
privatização dos serviços públicos], a “diminuição da carga tributária”
[para os empresários?] ou a defesa do “livre mercado” não fossem uma
“ação política”. O Partido, fundado em 2011, sem dar destaque para a
presença de nenhum trabalhador não-intelectual (vide Página oficial na
Internet), com mais de 750 mil seguidores no Facebook, já aguarda, desde
o ano passado, o registro oficial junto ao TSE. Quem preside o NOVO,
cuja inovação se resume a um ressuscitar das velhas ideias liberais do
século XVIII, é João Amoedo, administrador e conselheiro do Itaú-BBA. Em
entrevista ao autor de “Privatize já”, Rodrigo Constantino, Amoedo diz
que não há por que o Estado está envolvido em exploração de petróleo,
manutenção de estradas e bancos, defendendo, em outras palavras, sem o
menor pudor, a privatização total da Petrobras, da Caixa Econômica
Federal e do Banco do Brasil. Amoedo vai mais além e diz que o Estado
deve focar apenas na Educação Básica, posiciona-se contra as cotas
raciais, destituindo qualquer componente histórico da análise (o passivo
colonial), contra o Bolsa Família, pelo Programa não ter “uma porta de
saída” (como se os programas de transferência de renda não tivessem
conexão alguma com o atual estágio da economia capitalista, na geração
da pobreza), defende a flexibilização das leis trabalhistas (FGTS
opcional), além de defender o desenvolvimento de mais iniciativa privada
na saúde. Por mais carência de substância teórica que exista nessas
análises, o que não quer dizer que seus formuladores sejam leigos e
aventureiros, longe disso (são leitores de Friedman e Mises), a forma
desavergonhada com que falam de um “Estado menos babá”, ou seja, menos
direitos sociais e maior ênfase na “meritocracia” (os demitidos da
Volkswagen e Mercedes-Benz no Brasil perderam seus empregos por serem
todos eles não merecedores!) e na “liberdade” do indivíduo – a velha
compreensão do liberalismo clássico de indivíduos iguais (Locke, etc.),
possível de ser defendida apenas no plano abstrato, visto que a
desigualdade entre proprietários e não-proprietários enuncia desde
sempre a desigualdade concreta entre os indivíduos (fato observado por
Karl Marx desde o século XIX) – deve ser compreendida como expressão no
campo da política desse caldo cultural conservador que vem sendo
adensado nos últimos anos, para o qual há relativa aderência em
crescentes camadas da sociedade brasileira, alimentadas e
retroalimentadas pelo mesmo caldo, principalmente nos setores médios (a
polêmica promovida por um estudante da USP, em vídeo gravado pelo
próprio, acusando jovens negros de “discurso vitimizador” quando da
passagem em sala para a defesa das cotas raciais é ilustrativa para o
que estamos chamando a atenção aqui referente ao caldo cultural
conservador e a um movimento síncrono).
Muito do que
se viu, portanto, nas manifestações de 15 de março de 2015, não foram
eventos meramente espontâneos, casuais ou sem ligação com o caldo
cultural conservador aludido; ao contrário, foram a mais forte expressão
dele. Há em curso no Brasil de hoje o renascimento de um discurso
conservador (“renovado”), impulsionado por gente mais nova, e que não
tem constrangimento – ainda que por ignorância histórica, isso aqui não é
preponderante – de defender ideias conservadoras e retrógradas. O ódio à
esquerda, a recusa ao contraditório e ao debate são questões que devem,
a nosso ver, não apenas ser objeto de preocupação da esquerda
brasileira, mas de firme combate.
* No livro História secreta da Rede Globo, Daniel Herz mostra a forma como outorgas de rádio e televisão foram concedidas a vários políticos no Brasil. O documentário Muito além do cidadão Kane também nos dá uma boa mostra do controle da opinião pública brasileira exercido pelas Organizações Globo.
***
Rogério Castro
é Doutorando em Serviço Social pela ESS/UFRJ. Mestre em Serviço Social
pela UFAL. Pesquisador da obra do filósofo húngaro György Lukács.
Professor universitário, jornalista e bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CAPES.
***
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