sab, 20/01/2018 - 10:00
Atualizado em 22/01/2018 - 08:48
Foto: Ismael Gobbo
Por Marcos Villas Boas
Apelo de um (ex-)espírita para que a Federação Espírita Brasileira mude
Por que deixei de seguir o movimento espírita para seguir Kardec e o espiritualismo?
Este blog foi iniciado em maio de 2017 com o nome “Ciência Espírita” e
passou a se chamar “Ciência e Filosofia Espiritualista” alguns dias
atrás. Aproveitando para explicar as razões aos leitores, gostaria de
contar um pouco da trajetória espiritual que me fez deixar de seguir o
movimento espírita para ficar com Allan Kardec e me abrir ao
espiritualismo.
Há 2 anos comecei as leituras espíritas, como muitos fazem, pelo
livro Nosso Lar, do espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier, e
fiquei encantado por aquela e outras literaturas fantásticas devido aos
detalhes que nos traziam acerca do plano astral e de como nós,
encarnados, somos afetados pelos desencarnados.
Daí advieram várias consequências muito boas e outras muito ruins, as
quais merecem uma análise cuidadosada Federação Espírita Brasileira
(FEB) e do movimento espírita de um modo geral, pois, segundo constatei,
se repetem frequentemente.
O espiritismo me fez descobrir textos magníficos produzidos pelo
grande estudioso Kardec, que buscava compreender o mundo dos
desencarnados e suas relações com os encarnados numa perspectiva
eminentemente científico-filosófica, e não religiosa no sentido
tradicional, como ele fez questão de deixar muito claro na Revista
Espírita e no livro, pouco lido, “O espiritismo em sua expressão mais
simples”.
Kardec estudava de tudo: os gregos antigos, as diferentes religiões
da época, ia atrás de todo tipo de manifestação mediúnica etc. Se vivo
hoje, é indubitável que ele estaria frequentando e buscando compreender
todos os fenômenos espirituais, assim como colhendo conhecimento dos
espíritos, em todas religiões e filosofias espiritualistas que surgiram
depois, como a umbanda e a teosofia. Kardec não era conservador, não
tinha amarras. Para ele, interessava buscar mais saber.
O espiritismo me deu conhecimentos interessantes sobre energia,
vibração, a importância da oração e vários outros assuntos. Com isso,
minha mediunidade foi ganhando mais corpo e, com o aumento da
sensibilidade, vêm consequências agradáveis e desagradáveis, imperando
as primeiras ou as segundas de acordo com o nível vibratório que cada um
consegue manter.
Se a pessoa tem um bom autoconhecimento, se fez análise ou
autoanálise, se estudou sua psique, ela tem boas chances de manter um
alto padrão vibratório. Do contrário, não há religião que, por si só,
deixe a pessoa no seu melhor e em paz consigo. Aliás, muitas vezes, o
tom moralista e limitador das religiões causa exatamente o efeito
oposto.
Um dos problemas é que o espiritismo de Kardec, apesar de trazer um
conhecimento muito bom para entendermos a vida de forma mais ampla,
ajudando a avançar em diversas questões ocultas fundamentais da vida
humana, tem pelo menos 150 anos. Como o próprio codificador do
espiritismo dizia, seria preciso que aquele conhecimento acompanhasse os
avanços científico-filosóficos, o que, de um modo geral, não foi feito.
A Psicologia, por exemplo,mal existia quando Kardec desencarnou em
1869. Freud tinha 13 anos e Jung nasceria 6 anos depois.
Inúmeros aspectos da obra de Kardec, apesar de fazerem sentido
racionalmente, começaram a deixar de manter coerência ou se mostraram
superficiais com o aumento de complexidade do conhecimento humano, o que
era evidente que aconteceria.
A escala espírita, por exemplo, que estabelece graus de um modo
bastante linear e superficial, colocando uns espíritos como superiores
aos outros, é veementemente criticada por diversos desencarnados sábios,
como se vê no diálogo abaixo:
Muito do que está hoje em livros psicografados e diálogos gravados
com espíritos sábios atualiza de forma estrondosa o que estava em Kardec
ou em Chico Xavier, não sendo isso nenhum demérito para eles. O
conhecimento é assim e sempre será. Tudo está em movimento e progride,
já dizia uma das leis herméticas quase 5.000 anos atrás. É curioso como
não se fala, por exemplo, em hermetismo no meio espírita.
O espiritismo veio, sobretudo, como uma reinterpretação
espiritualista do cristianismo, para redirecionar, no mundo ocidental
(frise-se!), especialmente a Igreja Católica e a Igreja Protestante, que
disputavam ferrenhamente o domínio religioso nos países do Ocidente.
O espiritismo era e continua sendo praticamente desconhecido em todo o
lado oriental, e eles são muito mais avançados em termos de
espiritualidade e interessados no tema há bem mais tempo do que os
ocidentaisem geral.
Textos da filosofia espiritualista oriental datam de muito antes de
Cristo, como aqueles referentes aos ensinamentos de Hermes
Trimegisto,Lao-Tsé, Confúcio e Siddartha Gautama (Buda). O conhecimento
sobre os chakras, por exemplo, existe lá, com riqueza de detalhes, há
muito tempo. Os espíritas, contudo, de um modo geral, desconhecem essa
literatura, assim como eu a desconhecia em grande parte até mais ou
menos 1 ano.
Lê-se muito mais o Evangelho segundo o Espiritismo, por conta da
prática do evangelho nos centros espíritas e nos lares, e lê-se alguns
livros soltos de Chico Xavier. É a tradição religiosa imperando, até
porque o evangelho é a reinterpretação dos sábios desencarnados acerca
de trechos da Bíblia.
Participei também de diversos grupos de whatsapp e em Facebook com
espíritas, nos quais pude perceber, em curto espaço de tempo e com
clareza, como muitos são fechados, ao contrário do que pensam e
propagam, e tão ou mais conservadores do que outros religiosos.
Quando falta o autoconhecimento e a consciência é pouco aberta, é
natural que se acredite fazer algo que não se faz, sendo o discurso bem
distinto da prática, que nega os princípios das própria doutrina tão
ferrenhamente defendida.
Ao afirmar algumas vezes que seria importante para os espíritas
estudarem a teosofia, nas obras brilhantes de Helena Blavatsky e Annie
Besant, autorasestudiosas que se debruçaram profundamente sobre as
religiões e sobre o espiritualismo universalista, foi-me dito por
espíritas que não poderíamos fazer isso se não lêssemos toda a obra de
Kardec com cuidado primeiro.
Dizer algo assim é como falar que não devemos estudar Jung, porque
primeiro precisamos conhecer tudo de Freud com cuidado,indicando um
fanatismo inconsciente e um pensamento que tende a ocasionar uma
limitação de conhecimento assustadora.
Assim como Jung atualizou e corrigiu Freud, o conhecimento teosófico,
umbandista e outros atualizam e corrigem Kardec em diversos pontos, e
isso não faz Kardec nem o espiritismo menores de forma alguma, a não ser
para os guiados puramente pelo ego, que acham sua religião melhor do
que as demais e impassível de equívocos.
A imensa maioria dos espíritas acredita que o espiritismo é o
“Consolador Prometido” que veio para unificar todas as religiões, e que
não demora para isso acontecer. Já acreditei nisso e sinto-me
arrependido hoje, mas não me culpo, pois a culpa é um sentimento denso e
aprender faz parte do nosso processo. Todos aprenderemos, mas cada um
caminha em seu tempo, de modo que o respeito por nós e pelos demais é
essencial.
O mestre ascensionado Serapis Bey lembra bem, no final do vídeo
abaixo, que o espiritismo é um conhecimento importante e que as obras de
Kardec servirão como ricas fontes de estudo por um bom tempo, mas é só
isso. Os livros espíritas são mais uma fonte, muito relevante, mas,
ainda assim, uma dentre tantas outras:
Os próprios espíritos idolatrados por muitos espíritas tiveram
diversas outras encarnações nas quais atuaram em outras religiões ou
filosofias. Há certo consenso, e isso é dito por diferentes espíritos
sábios, que São Francisco de Assis foi João, o Evangelista, importante
codificador da Bíblia, e veio a ser depois o mestre da grande
fraternidade brancaKuthumi, atual “governante do planeta”, que passou
sábios ensinamentos em vídeo recentemente publicado no programa Diálogo
com os Espíritos:
A FEB e o movimento espírita de um modo geral poderiam se abrir para
os outros conhecimentos, em lugar de permanecerem limitados e repletos
de ilusões. Ao pedir a uma amiga espírita recentemente para que me
ajudasse a dar palestras em centros espíritas, ela disse que não poderia
me ajudar, pois não concorda com minha postura “multifacetada” e acha
que só se deveria falar de espiritismo em centros espíritas. A que ponto
chegamos? Kardec concordaria com isso?
O pensamento espiritualista mais avançado se baseia no conhecimento,
existente há muitos séculos, desde bem antes do espiritismo, sobre
autoconhecimento, automelhoramento, despertar da consciência e
transmutação de energias, emoções e sentimentos, conhecimento este
utilizado por Jung para construir a sua psicanálise. Em tempos de
transição planetária, é preciso falar de alquimia, Saint Germain, ego,
self (Eu superior), ilusões de Maya, agregados de Buda e vários outros
temas pouco lembrados pelos espíritas.
A brilhante série psicológica de Joanna de Angelis recorre à ciência e
à filosofia mais atuais, remetendo em diversos momentos a conhecimentos
orientais, porém ela é pouco conhecida entre os espíritas e tida por
uma leitura difícil. Claro que é. Não obtendo o conhecimento prévio
necessário para entendê-la, parece incompreensível.
Os livros dessa série de Joanna, psicografados por Divaldo Franco,
desenvolvem a Psicologia Transpessoal e são um marco em termos de
autoconhecimento e despertar da consciência, dois temas muito mais
comuns e profundos nas filosofias espiritualistas orientais do que no
espiritismo, que tem uma ideia de reforma íntima ainda pouco
aprofundada.
Como os religiosos tradicionais, muitos espíritas cansam de falar em
amor, humildade, caridade, tolerância, paciência etc., mas não
compreendem bem esses sentimentos e sua prática, nem os efetivam. Hoje
percebo como compreendia superficialmente esses sentimentos e com uma
visão moralista quando estava muito preso às obras espíritas.
Outro ponto é que, além de os espíritas em geral pregarem essas
máximas de uma forma genérica e superficial, não há uma busca das casas
por conhecerem detalhadamente cada espírito encarnado e desencarnado que
ali frequenta, pois pessoas com diferentes características não podem
ser tratadas de modo igual.
Os tratamentos espíritas não funcionam muitas vezes por conta disso. O
atendimento fraterno nos centros invariavelmente manda a pessoa
fazerdesobsessões, tomar passes, beber água fluidificada, fazer a
reforma íntima, o evangelho do lar, ler Kardec e Chico Xavier.
Tudo isso é muito bom, mas quais as energias que regem aquela pessoa?
Quais estarão imperando em cada momento? Como parece se expressar a sua
essência, ou self, ou Eu Superior? Como seu ego se apresenta agora e
quanto está distanciado do self? Tudo isso é, em regra, deixado de lado,
em detrimento, muitas vezes, de pregações de cunho religioso mais
tradicional: “meu irmão, reze para Deus, nosso pai, que o amor de Jesus
Cristo tudo resolve”.
Mapa astral, numerologia, uso de oráculos, consultas com espíritos da
luz; tudo isso, quando feito em locais sérios, em busca de
autoconhecimento, automelhoramento e ajuda ao próximo, ao invés de busca
por satisfazer curiosidades sobre o passado e o futuro, pode ajudar
imensamente as pessoas a encontrarem seu melhor, os caminhos que tinham
previsto seguir antes de encanarem, tornando-as, então, finalmente
plenas, pondo fim às ansiedades, angústias, medos e depressões.
Quando estava muito focado no espiritismo e, sobretudo, quando não
tinha aprofundado em Kardec, não percebia nada disso. Ficava envolto por
noções religiosas, que remontam mais ao catolicismo tradicional do que
ao espiritualismo.
Via pessoas palestrando em centros espíritas e falando mal da Umbanda
e dos evangélicos, apesar de elas mesmas se dizerem abertas a tudo e
amorosas. Achava tudo aquilo estranho, mas não tinha base de
conhecimento teórico, nem experiencial para questionar.
Somente depois de frequentar outros locais, ainda que inicialmente
repleto de moralismos incutidos pelo movimento espírita, é que pude
começar a me desfazer de algumas ilusões e limitações que prendiam meu
ego e me faziam viver muito pior do que poderia. A umbanda me ampliou
imensamente a consciência!
Continuo me considerandoum kardecista, enquanto estudioso do
espiritismo, sobretudo de Kardec, mas, na mesma linha do que disse o
médium Roberto Barbosa em estudo realizado com ele e com o Dr. Fritz
nele incorporado, não posso seguir o movimento espírita com suas
restrições a todas as técnicas de cura que surgiram nas últimas décadas,
mas que são rechaçadas por não estarem na obra de Kardec. Segue link
para o vídeo mencionado:
Assim como espírita, considero-me teosofista, budista,
umbandista,yogi e adepto de todas as demais linhas espiritualistas que
possam me ajudar e ajudar o próximo, pois não preciso de algo que me
limite.
Somos todos obras e partes de Deus. Os nossos limites são colocados
por nós mesmos. Sobretudo quando pautados no amor incondicional, que é
pura abertura e conexão com tudo e todos, não faz sentido se fechar numa
doutrina. Daí vem o apelo à FEB e ao movimento espírita de um modo
geral.
É preciso tomar cuidado com aventureiros, com místicos sem
embasamento, com aqueles que têm fins meramente individualistas e
deve-se, sim, ter uma institucionalização do movimento; mas, ele não
pode se tornar tão engessado que prejudique os seus objetivos maiores:
autoconhecimento, automelhoramento e ajuda ao próximo que lhe dê
plenitude e autonomia, não o deixando dependente de religião, nem de
centros, nem de ninguém.
Controles demais, regras demais, poder demais na mão de alguns
poucos, fechamento excessivo, repetição dos palestrantes e dos temas,
falta de transreligiosidade, busca por adeptos, tentativa de converter
pessoas; tudo isso tem dificultado a própria difusão e efetividade
prática do espiritismo nas consciências das pessoas. Quando o
espiritismo se abrir conforme Kardec propôs, crescerá muito mais.
Evidentemente, diversos espíritas, como o próprio Roberto Barbosa
acima citado, são exceções, ainda que minoria, e este texto não é uma
crítica ou um julgamento dos demais, mas uma amorosa proposta de
reflexão. Muitos desses que são minoriativeram que manter suas casas,
por todo o Brasil, fora da FEB, pois esta não tolera em seus quadros
centros com tratamentos reconhecidamente exitosos como reiki e banhos de
ervas, por estarem“fora dos padrões doutrinários”.
Perguntem, dentro de centros espíritas, a quaisquer espíritos de
maior sabedoria se o reiki, os banhos de ervas, os cristais, a
cromoterapia e outras terapias espiritualistas não ajudam na cura.
Dificilmente haverá um que será contrário ao seu emprego nos tratamentos
dos necessitados dentro dos próprios centros.
Como já disse neste blog, no Grupo Espírita Francisco de Assis
(GEFA), localizado em Groaíras/CE, onde tive a honra de servir por curto
espaço de tempo, trabalham espíritos de freis e padres que ficaram
renomados na história, pretos velhos, caboclos, exus, espíritas, extra
terrestres etc. São usadas práticas espíritas, como o evangelho e a água
fluidificada, mas também cirurgias espirituais, banhos de ervas,
cromoterapia e técnicas especiais de desobsessão, havendo uma grande e
rara efetividade no tratamento de casos muito complexos.
Uma casa como essa, com tanto a compartilhar em termos de cura, não
pode fazer parte da FEB, o que a isola de todas as demais e dificulta a
difusão das técnicas que podem até salvar vidas.
Outra estranheza é que há pouca comunicação com desencarnados nos
centros espíritas em geral para efeitos de estudos
científico-filosóficos, muito menos para estudos que avancem na doutrina
espírita. As comunicações, em regra, se resumem às mesas de desobsessão
e às mensagens psicografadas.
Toda a codificação espírita foi elaborada com base na oralidade, em
estudos de perguntas e respostas junto com os desencarnados, porém hoje
se entende isso muitas vezes como algo errado no movimento espírita.
O programa Diálogo com os Espíritos, produzido desde 2012 pelo
dedicado Jefferson Viscardi, é um marco na história do espiritualismo.
Ele conversa com diferentes espíritos sábios, por meio de dezenas de
médiuns que, em geral, não se conhecem entre si e localizados em
distintas partes do Brasil e de outros países. Nunca houve um trabalho
tão próximo daquele feito por Kardec na humanidade. Não ficaria admirado
se o espírito Kardec fosse mentor do trabalho.
Recentemente, após 700 diálogos já publicados, estão sendo postados
estudos com alguns dos mestres ascensionados, como Hilárion, Ananda,
SerapisBey, El Morya Khan e Kuthumi. Não faz sentido esses diálogos não
serem detidamente estudados e debatidos pelo movimento espírita.
Por que tantos espíritos dedicariam tempo gravando para esse
programa? A sabedoria das mensagens, de um modo geral, é inquestionável,
de modo que, independentemente do nome do espírito, não dá para negar o
nível de elevação dos que participam do programa.
O espiritismo traz um conhecimento belíssimo e de grande valia para a
humanidade. É preciso, numa atitude de amor e humildade, colocá-lo lado
a lado com os demais, buscando uma maior inter-relação para efeito de
aprendizado de todos, espíritas e não espíritas. Nesse sentido, a FEB é o
órgão mais indicado para iniciar as mudanças que poderiam ser feitas.
Manter a segregação entre o espiritismo e as demais religiões e
filosofias espiritualistas parece cometer erros muito semelhantes aos do
passado religiosos da humanidade, mas pensando que se está fazendo
muito diferente.
Torçamos todos para que possa haver uma maior integração entre os
espiritualistas e para que, assim, a palavra dos espíritos sábios possa
ser levada com mais rapidez a um maior número de pessoas, fazendo com
que seus ensinamentos despertem mais consciências de modo a realizar a
transmutação de vibrações de que o planeta carece neste processo de tra
Concordo plenamente com sua visão. Pois já havia reparado há muito tempo esta situação no espiritismo. Anos atrás eu era umbandista, hoje sou umbandista universalista (estudo de tudo), e me sinto um espírito livre.
ResponderExcluir