por Rogério Maestri
Discussões éticas e morais sobre assuntos como aborto, eutanásia,
movimento de libertação das mulheres, LGBT e outras não deixam de ser
importantes para qualquer sociedade civilizada, entretanto centralizar
as discussões políticas nestes temas simplesmente está servindo de cunha
para a entrada de programas políticos retrogradas em economia,
educação, segurança alimentar, combate a miséria e mais dezenas de
assuntos que devem ser resolvidos para a próxima semana. A guetização
destes assuntos servem mais para isolá-los do que para resolvê-los.
Muitos setores esquerdizantes colocam toda a sua militância política
em assuntos não centrais que seriam resolvidos naturalmente com a
evolução da educação e da cultura na sociedade.
Mas qual o problema de centralizar o debate em questões mais éticas e morais do que problemas mais prementes de nossa sociedade?
Simplesmente porque estas discussões servem de cunha para penetrar
nas discussões mais centrais e confundem até os militantes destas causas
no posicionamento político e geral dos mesmos. Por exemplo, há
militante de causas LGBT que se aliam a partidos chefiados por
intransigentes direções pentecostais, mesmo sabendo que para estes a
sodomia é considerada uma aberração e que segundo preceitos religiosos
sodomitas deveriam ser apedrejados.
Fica muito engraçadinho a Luciana Genro em 2014 centralizando o
debate das eleições com o retardado do Fidelix sobre sexualidade, para
ganhar 1,55% dos votos, enquanto isto direitista vestidos de pele de
cordeiro atinge mais de 23% dos votos, e pior cria-se uma bancada
reacionária e conservadora que ocupa aproximadamente o mesmo número de
deputados que o número citado.
A particularização de direitos humanos que deveriam ser estendidos a
todas as pessoas que recebem algum tipo de discriminação são discutidos
individualmente grupo a grupo como que mulheres, LGBTs e negros no
Brasil não fossem pessoas que per si tem direitos inalienáveis por
simplesmente serem humanos.
Porém a divisão em grupos serve de cunha para a entrada na política de elementos altamente conservadores, reacionários.
Discussões pontuais servem para atrair quadros de cidadãos bem postos
na sociedade e afastarem pessoas que por motivos religiosos e morais
acham que a Bíblia deve ser maior do que a constituição federal na
organização do Estado.
O que representa isto é uma verdadeira armadilha, ou mesmo uma
manobra diversionista, que afasta da discussão política os assuntos que
devem ser prioritários num Estado Laico, pois estas discussões são
permeadas de religiosidade.
Outro exemplo é a batalha contra o porte de armas. Engajam-se em
grandes discussões sobre a conveniência ou não do porte de armas criando
o que se chama a bancada da Bala. Como todos sabem que o problema no
Brasil é mais a existência de uma polícia mal treinada extremamente
corrupta e não que alguém vá comprar uma arma para sua pseudodefesa.
Desloca-se o eixo da discussão da falta de republicanismo, truculência e
falta de preparo da polícia para um tema secundário, a liberdade ou não
de um cidadão comprar uma arma. Bernie Sanders, o candidato a
presidente da república nos Estados Unidos, foi atacado pela militarista
Hillary Clinton, exatamente porque como vindo de um estado de caçadores
era contra a limitação de compra de armas, ele mesmo dizia que no seu
estado as pessoas compravam armas para caçar veados e não para atirar
nos vizinhos.
Porém, a intransigência de grande parte da esquerda sobre a compra de
armas, permite uma formação de uma bancada da bala em que 90% de seu
discurso é a liberdade das armas, mas 90% de sua atividade parlamentar é
em proteger a truculência das polícias, a pena de morte e mais um monte
de imundícies.
O que chamo a atenção, que uma série de direitos dos cidadãos das
mais diversas tendências possíveis devem ser garantidos por algo maior
do que campanhas pontuais contra isto e contra aquilo, pois isto tira o
foco do principal e age como uma cunha para que discursos também
pontuais em sentido contrário sejam escondidos.
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