Jornal GGN – Testes apontam que a internet, o meio
de comunicação mais veloz já existente, está moldando o cérebro das
pessoas, fazendo com que a razão humana funcione com características do
mundo digital.
O grande problema nesse processo é que, ao mimetizar o
funcionamento dos computadores, a humanidade tende a perder
peculiaridades analógicas de empatia, solidariedade e respeito à opinião
alheia. O alerta é do neurocientista Miguel Nicolelis, feito em
entrevista exclusiva, que você poderá acompanhar na íntegra, quarta
(28), aqui no GGN.
Segundo o pesquisador, as mentes de bilhões em todo o mundo podem
estar sendo moldadas pela imersão contínua no mundo virtual. “As pessoas
estão cada vez mais se comportando como se fossem máquinas”, reforça,
afirmando que é capaz de provar como isso acontece:
“Eu sincronizo os cérebros dos meus macacos num laboratório quando
dou estímulos visuais comuns, de forma muito rápida. O meio, como diz
Marshall Mcluhan [teórico da comunicação], é a mensagem, e uma vez que
essa mensagem entra no seu cérebro e no meu, e bate com nossos
preconceitos inerentes e nossa visão de mundo crua, é que nem um vírus,
infecta e começa a ser broadcast [transmissor] pelo cara que foi
infectado. Então, você começa a amplificar um grupo de indivíduos que
pensa igual”.
Nicolelis afirma que, nos anos 1960, Mcluhan foi capaz de prever o
momento em que a humanidade chegaria hoje. “Ele previu que os
grupamentos sociais iam começar a fragmentar a sociedade, porque os
grupos de interesse iam começar a se auto referenciar no momento em que
houvesse um meio de mídia capaz de ser rápido o suficiente para
sincronizar as pessoas na ordem da magnitude de funcionamento do
cérebro”.
Não por acaso, completa o neurocientista, é cada vez maior a
existência de espaços dentro do Facebook “cujos integrantes acham que
seu grupo é mais importante do que o país”.
Para Nicolelis, ao contrário do que muitos cientistas da área de
inteligência artificial defendem, a mente humana jamais poderá ser
clonada pelos sistemas digitais, até porque um computador nunca terá a
capacidade intuitiva de uma pessoa. Porém, um meio de comunicação
rápido, e bem instruído para um público específico, pode reforçar
padrões preconcebidos e, a partir disso, aumentar a concepção de que seu
modo de pensar é verdadeiro, não abrindo espaço para reflexão e
desconstrução de ideias.
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