Acordo ou Leões? A batalha final entre a 'Aliança do Coliseu' e a política
por Ricardo Cappelli
Acompanharam os movimentos? Prestem atenção:
1 – O Ministro Dias Toffoli libera para pauta do STF o debate sobre
o fim do foro privilegiado. O placar já está em 8 x 0 pelo fim do foro.
Toffoli pediu vista já sabendo do resultado. O que o levou a liberar o
processo agora? Sem foro, o processo da maioria dos políticos acusados
pela Lava Jato irá para primeira instância.
2 – É aí que entra Gilmar Mendes e o grande acordo para salvar a
política. O Estadão divulgou o novo placar no STF. Segundo o jornalão, o
fim da prisão em segunda instância ganharia hoje por 6 x 5. Votariam
contra a prisão Toffoli, Celso De Mello, Marco Aurélio, Rosa Weber,
Lewandowski e... Gilmar, o único a mudar de posição. Sem foro e com o
fim da prisão em segunda instância, todos os processos iriam para a
primeira instância. Prisão? Só após o longo processo até o STJ.
3 – O jornal mineiro "O Tempo" divulga que Aécio não será candidato
este ano. Por que correria o risco de uma prisão rápida, em segunda
instância, abrindo mão do foro? O Tucano está contando que a decisão
será revertida, o que torna o caminho para uma eventual prisão muito
mais lento.
4 – Este acordo beneficiaria Temer, Aécio, Lula e uma infinidade de
políticos atacados pela Lava Jato. Soltaria também empresários. Temer
disse a Meirelles que sua atividade política está voltada para a sua
própria proteção. Sabe o que o espera quando deixar o governo se as
condições atuais não forem alteradas.
5 – Acordo costurado, entra em cena a Aliança do Coliseu formada
pela Globo com setores antinacionais da burocracia estatal que deseja
jogar aos leões a política brasileira. A Globo exige em novo editorial a
prisão de Lula. Entope a caixa postal dos ministros do STF com posições
contra a alteração da prisão em segunda instância. Coloca no ar uma
exclusiva com a Presidente Cármen Lúcia reafirmando sua posição
contrária. É guerra!
6 – Cármen Lúcia reafirma que não pautará a revisão da prisão em
segunda instância. Diz, entretanto, que qualquer um pode levar um habeas
corpus específico para ser julgado no plenário da corte. Porém, este
julgamento será sobre as particularidades do caso específico, sem
repercussão geral. Segundo a Ministra, a jurisprudência atual se
manteria inalterada.
7 – A posição irredutível de Cármen Lúcia "empena" o acordo. Nenhum
dos Ministros quer levar ao plenário da corte apenas o HC de Lula ou de
outro personagem. Ninguém quer assumir o desgaste de um caso
específico. E o mais importante, para o acordo fechar tem que alterar a
jurisprudência para todos, não só para Lula.
8 – No auge do enfrentamento entra em ação a tropa de choque da
Aliança. Com a Globo exigindo sangue aos Leões, o juiz Marcelo Bretas
ataca Gilmar numa rede social. O Torquemada Deltan Dallagnol segue o
mesmo caminho. Usa a grande mídia para dizer que a "Cruzada Santa" está
ameaçada pelo fim da prisão em segunda instância.
9 – A execução brutal de Mariele amplia o receio da repercussão de
uma eventual prisão de Lula. Ninguém sabe como um doente vai reagir à
terapia de choques sucessivos. Um padre chamado de filho da puta no
meio de uma missa no Rio por defender a vereadora sinaliza como está o
clima no país.
10 – A imprensa puxa também Azeredo para a cena. O "fantasma Tucano
de Minas" até hoje aguarda sua prisão. O encarceramento de Lula abrirá
definitivamente a caixa de pandora. Com o ex-presidente preso mais
prisões, de todos os lados, devem acontecer. Vai ficar insustentável
apenas Lula preso. Zé Dirceu, Azeredo, Paulo Preto, Serra, alguns
ocupantes do Planalto e muitos outros aguardam na fila preocupados.
11 – Esta semana o Ministro Luiz Fux acelerou o processo de
Bolsonaro no STF. Se condenado pelo Supremo Tribunal Federal, o fascista
pode também ser impedido de registrar sua candidatura. Não se enganem.
Ele incomoda também o sistema. Bate tanto na Globo como na esquerda.
Seria a vitória total da Aliança, uma eleição de escolhidos numa
democracia de fachada.
12 – Ameaçado o acordo da política, Celso de Mello, o decano,
convoca uma reunião pouco usual com os Ministros para discutir a crise.
Desafia subliminarmente a autoridade de Cármen Lúcia. A presidenta
cancela o encontro na prática ao não convocá-lo. A crise se aprofunda.
13 – No acordo Lula não seria preso, mas estaria impedido de
disputar as eleições. Continuaria, solto, como o maior cabo eleitoral do
pleito.
É a batalha final entre dois campos. Não existe espaço para visões
ingênuas e puristas. De um lado a prevalência da política, da soberania
popular através do voto, mesmo com o impedimento de Lula. Na batalha, se
não pode ganhar tudo, minimizar as baixas e manter um Marechal na linha
de frente pode ser um bom caminho.
Do outro lado a marcha da insensatez, a caminhada de ódio que tirou
o gênio do fascismo da garrafa e envenenou a sociedade brasileira.
Destruiu nossa economia. Jogou pessimismo em nosso horizonte. Prometem
um amanhã colorido após jogarem a política aos Leões. O que desejam
colocar no lugar? Uma tecnocracia positivista antinacional e antipovo.
O embate ganha contornos decisivos. Nada está definido. Que a política saia vitoriosa.
Ricardo Cappelli - Secretário da Representação do
Governo do Maranhão em Brasília, jornalista especialista em
administração pública
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