O escândalo da Cambridge Analytica e da rede social continua concentrado sobre as responsabilidades de ambas as empresas, que são investigadas por vários países europeus e pelo Legislativo norte-americano
26/03/2018 11:10
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No Reino Unido, um juiz da Corte Suprema aceitou um pedido para que polícia possa vasculhar os escritórios da sede londrina da empresa Cambridge Analytica, para obter documentos sobre a possível utilização da informação de mais de 50 milhões de usuários da rede social Facebook, com o objetivo de influir nas campanhas políticas do Brexit e da última eleição presidencial estadunidense. Por isso, a Comissão de Energia e Comércio da Câmara de Representantes estadunidense formalizou o pedido para que Mark Zuckerberg compareça para dar explicações sobre o “uso indevido” de dados pessoais dos integrados à rede.
A ordem da Corte britânica nasceu de um pedido do Departamento de Informação (ICO, por sua sigla em inglês), responsável por velar pela proteção de dados no Reino Unido. A diretora-chefe do órgão é Elizabeth Denham, que solicitou a investigação nos escritórios com a intenção de ter acesso às bases de dados e servidores, já que a companhia se resistia em entregar a informação solicitada pelas autoridades britânicas.
Em paralelo, o diário The Guardian publicou o testemunho de Brittany Kaiser, uma antiga trabalhadora da Cambridge Analytica (CA), que revelou como a empresa manteve contatos com a campanha Leave EU (“deixar a União Europeia”), favorável ao Brexit e impulsada pelo empresário britânico Arron Banks, um militante do eurofóbico Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP). “Não fomos os únicos responsáveis pela campanha (do Brexit), e talvez nosso trabalho sequer tenha sido utilizado”, alegou ela, que foi diretora de Desenvolvimento de Negócios da CA – que, por outro lado, assegurou que foram realizadas algumas análises a partir dos dados levantados por sua empresa.
Kaiser também revelou que criaram cerca de 10 mil publicidades diferentes a favor do atual presidente dos Estados Unidos e então candidato republicano Donald Trump, e que vazou um documento onde mostra de que forma a companhia planteou o uso de ferramentas como Google, Snapchat, Twitter, YouTube e Facebook para fazer campanha a favor do republicano. Se trata de um documento de 27 páginas obtido pelo The Guardian, no qual detalham as técnicas utilizadas pela campanha do magnata para bombardear os eleitores estadunidenses com “mensagens personalizadas”.
A ex-empregada da consultora disse que um dos anúncios mais efetivos foi uma publicação que pretendia revelar “10 verdades incômodas sobre a Fundação Clinton” e que apareceu durante várias semanas nos estados decisivos para a campanha.
Além disso, também foi revelado que o Facebook proporcionou dados de usuários da rede social solicitados em 2011 pelo laboratório da Universidade de Cambridge, então dirigido por Aleksandr Kogan, o acadêmico que está no centro do escândalo da consultora britânica por desenvolver o aplicativo “This is your digital life” (“esta é sua vida digitar”), através do qual se obteve aquela informação privada. Ontem, o CEO do Facebook reconheceu que a obtenção de informação através desse mecanismo criou “uma brecha de desconfiança”.
No Congresso dos Estados Unidos, os legisladores Greg Walden (republicano) e Frank Pallone (democrata) enviaram uma carta ao criador da rede social para formalizar a sua declaração, e detalharam os pontos que querem esclarecer. “A audiência examinará a coleta e venda de informação pessoal de mais de 50 milhões de usuários do Facebook, potencialmente sem seu aviso ou consentimento, e em violação da política de privacidade”, diz o texto da notificação.
Além de ter que comparece à Câmara de Representantes estadunidense, Zuckerberg também foi convocado pela Euro Câmara e pelo Comitê de Assuntos Digitais, Cultura, Meios de Comunicação do Parlamento Britânico. Por sua parte, a ministra de Justiça da Alemanha, Katarina Barley, informou que o Facebook poderia receber uma multa de até 4% de seu lucro a nível mundial (cerca de 49 bilhões de dólares), com base nas novas regulações de privacidade da União Europeia.
Nesta semana, o diretor geral da Cambridge Analytica, Alexander Nix, foi suspenso depois de fazer comentários a um repórter encoberto do canal 4 da televisão britânica sobre vários serviços fora da lei que a empresa ofereceu aos seus clientes. Vários meios revelaram que a Cambridge Analytica desenhou um software com base nessas informações coletadas no Facebook, com a qual impulsou a campanha eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos.
Em comunicado oficial, a empresa negou ter atuado de forma ilícita e que afastou de forma temporária o seu principal executivo, Alexander Nix, que apareceu nas imagens gravadas com câmera oculta, expondo os diversos modos com os quais se podia ajudar os candidatos políticos a influir nas campanhas eleitorais.
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