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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A volta do Incrível Huck, por Luiz Huffato.

Luciano Huck
Luciano Huck em homenagem pelo seu aniversário no 'Caldeirão'. Rede Globo

A ala neoliberal brasileira, que, mancomunada com o Poder Judiciário, organizou e orquestrou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, levou um enorme susto com a divulgação da pesquisa Datafolha, no último dia 31 de janeiro. Esperavam que, diante da iminência da prisão do ex-líder sindical, incriminado por corrupção e lavagem de dinheiro, haveria uma queda significativa das intenções de voto no candidato petista à Presidência da República e uma reconfiguração do quadro eleitoral.
O que se viu, entretanto, foi que o prestígio de Lula permanece inalterado: seu nome arrebanha mais que o dobro das intenções de voto do segundo colocado, o líder fascista Jair Bolsonaro, 34% contra 16%. Pior: Geraldo Alckmin, o candidato tucano que deveria exercer o papel de contraponto a Bolsonaro, não se mexe, estacionado nos 6%. Sem Lula, o páreo fica embolado: Bolsonaro sobe a 18%, crescem as candidaturas de Marina Silva (13%) e Ciro Gomes (10%), o PT desaparece, e Alckmin fica lá atrás, com 8%. Qual a solução? Ressuscitar a candidatura natimorta do apresentador de televisão, Luciano Huck...

Preocupado com a inexpressividade de Alckmin, já uma vez derrotado por Lula, em 2006, a ala neoliberal havia ensaiado, no começo do ano passado, inflar a candidatura do prefeito de São Paulo, o também tucano João Dória. Espetaculoso e fanfarrão, Dória largou de lado a administração da maior cidade do Brasil para tentar se cacifar nacionalmente. O resultado foi que ele não só perdeu espaço dentro do PSDB – bateu de frente com o grupo de Alckmin –, como também viu triplicar a desaprovação à sua gestão: 39% dos paulistanos consideram-na ruim ou péssima.
Então, todos os olhos se fixaram no jovem e carismático Luciano Huck. O apresentador de programa de auditório da Rede Globo de Televisão surgiu no horizonte como um dos articuladores do RenovaBR, movimento que, dizendo-se preocupado com “a profunda crise econômica, política e moral” do país, se propõe “a promover a renovação política, trazendo novos nomes e novas práticas”, deixando claro que “não somos e nem nunca vamos ser” um partido político. Em maio do ano passado, sem alarde, o nome de Huck já surgia com 3% das intenções de voto numa pesquisa Datafolha.
No entanto, após entusiasmar a ala neoliberal com a possibilidade de uma candidatura alternativa, Huck publicou um texto na Folha de S. Paulo, em 21 de novembro, intitulado “No rumo”, no qual afirmava claramente que, após ouvir “meus pais, minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos”, havia decidido que não iria “pleitear espaço nesta eleição para Presidente da República”. “Contem comigo. Mas não como candidato a presidente”, concluía o artigo. Com isso, as atenções se voltaram novamente para o julgamento de Lula e suas consequências eleitorais.
Em 25 de janeiro, um dia após a condenação do líder petista pelo TRF-4, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, embora presidente de honra do PSDB, vem apadrinhando de maneira nada discreta as pretensões de Luciano Huck, disse, em entrevista ao jornal Valor, que acreditava que, se o candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, não decolasse, abria-se a possibilidade para pensar de novo no nome de seu amigo apresentador de televisão. Na entrevista, curiosamente, Fernando Henrique admitia que considerava Huck “muito cru para ser presidente da República”.
Dito e feito: na pesquisa Datafolha de 31 de janeiro, Luciano Huck ressurge, com 8% das intenções de voto, o mesmo percentual de Alckmin. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, o apresentador de televisão teria comemorado o resultado, o que poderia ser um sinal de que ele voltará atrás na decisão de não ser candidato à sucessão do presidente não eleito, Michel Temer. Aliás, ele já estaria em contato direto com o marqueteiro francês Guillaume Liegy, responsável pela campanha vitoriosa do presidente francês Emmanuel Macron, no ano passado.
Se Luciano Huck revir sua posição, vindo a se candidatar à Presidência da República, estará contrariando frontalmente o que escreveu em seu artigo “No rumo”, onde constatava que “o Brasil está sofrendo demais para ficarmos passivos e reféns deste sistema político velho e corrupto”, pois assim agiria exatamente como os políticos deste sistema velho e corrupto, começando sua carreira com uma enorme farsa. Além disso, aceitando a candidatura como uma espécie de missão, estaria contradizendo o que condenou no programa Domingão do Faustão, do dia 7 de janeiro: “Não adianta a gente achar que vai ter um salvador da pátria que vai resolver os problemas do país. Quem falar isso é mentira”.
Restaria a Huck, neste caso, fazer como seu mentor, Fernando Henrique Cardoso, e pedir para os eleitores esquecerem o que ele escreveu. O ex-presidente jura de pés juntos que nunca disse essa frase, publicada pela Folha de S. Paulo no dia 9 de junho de 1993, e que teria sido pronunciada após um almoço com empresários no restaurante Rubayat. Fernando Henrique afirma que tem a seu favor o fato de que a entrevista não foi gravada e então o que vale é sua palavra contra a do repórter. No caso de Luciano Huck, nem o benefício da dúvida restará...

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