Paulista de nascimento e
cearense de criação, Ciro Gomes já foi prefeito, deputado estadual,
deputado federal, governador e ministro dos governos Itamar Franco e
Lula. Hoje ele enche a boca para dizer que tem 37 anos de vida pública e
é a pessoa mais preparada para ser presidente do Brasil.
"Mais
que todos", afirma, sem modéstia, dizendo que o fato de aparecer
estacionado em torno de 5% nas pesquisas de intenção de votos, é
"provisório".
Hoje no PDT, ele já passou por sete diferentes
partidos. Defende-se dizendo que falta identidade partidária a "100% dos
políticos brasileiros", inclusive ao ex-presidente Lula.
Dono de
um estilo franco e impulsivo que há anos lhe rende a fama de
"destemperado", ele admite que tem medido mais as palavras. Ao falar do
deputado federal Jair Bolsonaro lembra que este lhe deu um voto na
disputa presidencial de 2002 e diz que atualmente ele cumpre um papel
importante ao atrair os antipetistas, afastando-os dos tucanos.
Mas
Ciro Gomes continua sem poupar adjetivos mais contundentes quando se
refere a nomes como o do presidente Michel Temer, do ex-presidente Lula,
e do prefeito de São Paulo, João Doria. Diz que não sabe ao certo "se
Temer chefia uma quadrilha ou um bando de patetas". Doria, por sua vez, é
um "farsante". E Lula, para ele, "é o grande responsável por este
momento político trágico que o Brasil está vivendo".
Questionado
se tem medo de "bater" em Bolsonaro, Ciro dispara: "Eu tenho medo de
quê, mulher? Eu tenho coragem de mamar em onça. A guerra entre a turma
dele e a minha na internet é uma coisa selvagem. Mas eu não. Tu achas
que vou me preocupar com isso? Estou preocupado é com o Brasil", disse à
BBC Brasil, em Londres.
Na Inglaterra, o ex-governador participa
do Brazil Forum UK, evento que reúne neste fim de semana acadêmicos,
políticos e economistas para falar do Brasil. Ele diz que não quer se
encontrar com o juiz Sérgio Moro, um "garoto" deformado pelo "aplauso e
pela juventude" que "sucumbiu" e foi arrastado por Lula para a arena
política. Ele afirma estar mais interessado na palestra do economista
André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Ciro Gomes à BBC Brasil em Londres.
BBC Brasil: Como o senhor prefere ser chamado? Ministro, ex-governador, tem alguma preferência?
Ciro Gomes:
Ciro. Ciro é minha preferência. Se você quiser ser agradável, gentil,
você chama pelo maior cargo de acesso popular que a pessoa terá tido.
BBC Brasil: Então é governador.
Ciro Gomes: Isso. Mas eu prefiro Ciro.
BBC Brasil:
O senhor estava trabalhando para a Transnordestina Logística, da CSN.
Largou o emprego logo após a posse do governo então interino Michel
Temer e voltou a fazer política em tempo integral. O senhor se considera
uma antítese do que muito eleitor parece estar procurando neste
momento? Já que está na moda eleger iniciantes ou aqueles que insistem
em dizer que não são políticos?
Ciro Gomes: Alguns defeitos assim
chamados meus, da minha vida pública, tipo uma certa franqueza, uma
certa aspereza nas palavras, hoje são vistos como um valor, como
não-hipócrita. E esse é um valor procurado. Mas eu, evidentemente, não
aceito entrar nessa onda mentirosa, mistificadora de que um político não
faz política ou quem faz política é um não-político. Isso é tudo uma
leitura de marketing barato para tentar ser idiota e presumir que o povo
é idiota. Na verdade, eu represento um projeto alternativo para o
Brasil há muitos anos. Esse projeto tem se aperfeiçoado, tem se
aprofundado, tem um pouco mais de lucidez, com os pontos nevrálgicos da
questão socioeconômica brasileira e isso faz a diferença da minha
personalidade no processo de debate no Brasil.
BBC Brasil:
Falando em se colocar como uma terceira via, ou como uma possibilidade,
o senhor tem dito que só sai candidato à presidente da República se o
seu atual partido, o PDT, quiser. Mas as pesquisas mais recentes colocam
o deputado federal Jair Bolsonaro e o prefeito de São Paulo, João
Doria, como os únicos em condições de competir com o ex-presidente Lula.
Como o senhor avalia esses resultados? O fato de o senhor estar
estanque nos 5% das intenções de votos hoje pode ser motivo suficiente
de o PDT desistir de lançar o seu nome?
Ciro Gomes:
Sei bastante bem com minha experiência o que isso significa. Uma pessoa
que pensa o que eu penso, que fala o que eu falo, que tem os conflitos
que eu tenho ao longo de uma vida de 37 anos de experiência... Não tenho
sequer um inquérito para ser absolvido e isso não é nada mais que uma
obrigação, mas nesses tempos horríveis que o Brasil está vivendo é um
adicional de atributos que o país está procurando. Essas pesquisas, com a
experiência que tenho, não representam absolutamente nada, a não ser o
retrato desse momento. E esse retrato é o de um povo machucado, 14,3
milhões de desempregados, quase 9 milhões de brasileiros empurrados para
a informalidade, para o biscate, o trabalho na rua. A política para
essas pessoas é um ruído, associado com esse escândalo de corrupção e,
na hora própria, isso vai se alterar profundamente. Isso não quer dizer
que eu inverta as coisas, mas isso tudo é provisório.
BBC Brasil: E quando é a hora própria quando a gente pode começar a considerar as pesquisas, de fato?
Ciro Gomes:
No Brasil, quando você começa a colocar na prateleira as alternativas
concretas, reais e suas personas políticas, seus acompanhamentos e seus
signos. O que que representa A, B, C ou D... Você vai ver claramente que
isso só vai acontecer lá para julho de 2018. Hoje, por exemplo, se você
fizer uma pesquisa espontânea, que você não induz as pessoas a
repetirem o nome mais conhecido, o nome mais comentado presentemente,
você vai ver que está todo mundo ali meio que japonês.
BBC Brasil:
Mas tem algo que pesa contra o senhor que é a rejeição. Pesquisa
recente, divulgada essa semana, colocou o senhor com 56% de rejeição. O
senhor se considera um adversário de si mesmo?
Ciro Gomes:
Não, não. Hoje você deveria ler as pesquisas com uma mistura de
notoriedade, ou seja, de nível de conhecimento, menção espontânea, que é
preferência, e rejeição espontânea, que é aquela que conhece, mas não
aceita. Evidentemente, a minha rejeição nesse momento é que eu não sou
conhecido. Não estou no elenco de opções das pessoas, apesar de estar na
estrada há tanto tempo e de ter sido candidato.
BBC Brasil: O senhor atribui a rejeição à fama de destemperado?
Ciro Gomes:
Eu deveria merecer. Mas sou atacado não pelo que falo eventualmente de
sangue quente. Eu realmente sou uma pessoa indignada. Na verdade, é uma
coisa que se faz para desqualificar o que digo de sangue frio. Eu vivo
contando aos brasileiros com números aquilo que é uma grande perversão
do nosso país: o estado nacional brasileiro está montado como mecanismo
de transferência de renda de quem trabalha e produz para quem especula.
Só que os especuladores são dez mil famílias abastadas do país que
controlam a grande mídia, que controlam os financiamentos das campanhas,
as mediações tradicionais do país.
BBC Brasil: O senhor acha que essas
posições mais à esquerda repercutem ou soam de forma diferente para
quem compartilha dessas ideias? Minha pergunta é: quem é de direita ou
mais conservador, tolera determinadas coisas, por exemplo, o Bolsonaro, e
quem é de esquerda tem um pouco mais de resistência?
Ciro Gomes:
Com certeza. Eu sou considerado um comunista para a direita e sou
considerado um direitista para a esquerda. Ou seja, estou na posição
correta.
BBC Brasil: O que o senhor é? Como o senhor se define?
Ciro Gomes:
Sou um socialista democrático em permanente revisão. No Brasil, até os
adjetivos esquerda e direita são mal versados. Se você olhar, por
exemplo, a economia política do PT, dos 13 anos Lula-Dilma, foi
extremamente conservadora. Evidentemente com políticas sociais
compensatórias de largo alcance que não estavam previstas no Consenso de
Washington ou no Tatcherismo. No Brasil tem essa peculiaridade, é uma
política social compensatória aquilo que qualifica a solidariedade aos
mais pobres.
BBC Brasil: Se eu entendi direito, o
senhor acha que o Estado tem um papel importante a cumprir,
principalmente para fazer justiça social. Mas do ponto de vista da moral
e dos costumes, o senhor tem posições claras sobre aborto, união
homoafetiva...
Ciro Gomes: É claro. A gente
precisa aprender no século 21 a ser tolerante, a respeitar a
diversidade, a respeitar as diferenças. E o chefe de Estado tem que dar
exemplo disso. Evidentemente não tem que ser candidato a guru de
costumes. Eu respeito a sociedade brasileira como ela é. Temos uma
igreja católica que é extremamente solidária com os pobres, mas
extremamente cripto-conservadora nesses termos de costumes. O chefe de
Estado tem que entender isso, tem que compreender e respeitar isso. Mas,
evidentemente, ninguém vai contar com minha opinião para estigmatizar
seja quem for diferente, seja por qual razão.
BBC Brasil: Se o senhor tiver que se definir: união homoafetiva, a favor ou contra?
Ciro Gomes:
Eu pessoalmente já tenho uma opinião disso publicada em todas as áreas e
a ideia é ser tolerante. Respeito a tolerância e a diferença, respeito
todas as formas de amor. Acho que a mulher tem direito ao respeito a seu
próprio corpo. O aborto é uma tragédia humana, social, mas, antes de
tudo, é uma tragédia de saúde pública. As ricas fazem [aborto] na hora
que querem nas clínicas clandestinas, sem problemas, e as pobres estão
morrendo. Tenho certeza que se o Estado acolhesse, aconselhasse,
oferecesse uma adoção, se fizesse a mediação dos traumas familiares que
as adolescentes experimentam ao se verem grávidas sem planejar, a
quantidade de abortos cairia profundamente.
BBC Brasil: Retomando
o que o senhor disse, que é um comunista para a direita e um
conservador para a esquerda, o senhor acha que o seu desempenho por ora
nas pesquisas pode estar relacionado ao fato de ter passado por vários
partidos? As pessoas têm um pouco de dificuldade de identificar o
senhor...
Ciro Gomes: Em absoluto, se tem um
político que tem uma linha de vida coerente, sou eu. Agora, de novo,
como não podem dizer que sou um imoral, envolvido em corrupção, num
escândalo, seja qual for. Como não se pode dizer que não fui um
governante eficiente. Fui o mais popular, o melhor aprovado prefeito das
capitais ao meu tempo. Quando ministro da Fazenda, administrei a
economia brasileira e entreguei com inflação zero, praticamente com
pleno emprego. Tem que se inventar um estigma qualquer...
BBC Brasil: Mas lhe falta identidade partidária?
Ciro Gomes: Falta a todos os políticos brasileiros, a 100% deles.
BBC Brasil: Ao Lula também, por exemplo?
Ciro Gomes:
Absolutamente. Olhe o que o Lula dizia, o que pensava e o que o PT
representava antes do poder e o que é hoje. Veja a enorme distância
entre uma coisa e outra. Veja o que o PSDB representava, quando nós
fundamos o PSDB, e veja o que é hoje. Só mudo de partido para me manter
coerente com minha linha de raciocínio, princípios, minha integridade
moral e com meus compromissos ideológicos. Veja como os critérios são
diferentes. Pergunto qual político, tirando aqueles que não fizeram seu
próprio partido como o Lula, que fez sua própria central sindical, qual o
político brasileiro não mudou de partido nos últimos 20 anos? Nenhum. A
Marina esteve em três partidos nos últimos três anos.
BBC Brasil: O senhor já passou por 7 partidos. Sete é muito.
Ciro Gomes: Mas eu tenho 37 anos de vida pública.
BBC Brasil: Vamos dividir 37 por 7...
Ciro Gomes: Não é essa a questão não. Já fui incoerente alguma vez na vida? Veja uma opinião minha dita há 25 anos e compara com hoje.
BBC Brasil:
Falando em incoerência. Numa entrevista, em maio do ano passado, na
qual lhe perguntaram se queria ser candidato e se o senhor concorreria
contra o Lula, o senhor disse que se o 'Lula for, melhor ainda'. Em
entrevistas mais recentes, percebi que o senhor tem adotado uma outra
posição. O senhor mudou de ideia do ano passado pra cá?
Ciro Gomes: Não. Se você reparar, é
a mesma. Os fatos são complexos. Enquanto isso, uma certa imprensa
nacional brasileira gosta muito de resumo e explicitações maniqueístas.
Às vezes pago um pouco por isso. Não faz mal, estou acostumado. Eu só
dependo de uma circunstância para ser candidato ou não: o PDT, o meu
partido decidir que eu sou. Dito isso, tenho dito que não gostaria de
ser candidato se o Lula for. Por quê? Não é propriamente uma homenagem a
ele, é porque na hora em que for candidato ele racha o país em bases
odientas, rancorosas, violentas, como nós estamos assistindo aos
lulistas e antilulistas. E o país não tem ambiente para discutir seu
futuro. O Brasil precisa desesperadamente de um projeto novo, de novas
práticas, de experimentar novas premissas do jogo político.
Desesperadamente, precisamos disso.
BBC Brasil: Desculpa insistir com o senhor, mas o senhor falou claramente: se for com o Lula, melhor ainda...
Ciro Gomes:
Às vezes você diz isso no calor da emoção. Mas eu estou dizendo a você
que eu tenho me preparado para ser presidente do Brasil. Correndo o
risco de ser mal compreendido, eu duvido que alguém tenha treinado mais
do que eu, tenha se qualificado mais do que eu ou conheça mais do que eu
as alternativas para o país. Mas isso é minha presunção. O povo
brasileiro está hoje induzido por essa novela moralista, explosiva, em
tempo nobre da televisão, a olhar o mundo pelo filtro do lulismo e do
antilulismo. Isso acaba com o país.
BBC Brasil:
Falando nesse escândalo que está desde 2014 no noticiário, o senhor já
foi professor de direito constitucional. O senhor acha que há tempo
hábil para condenar o Lula em segunda instância e tirá-lo do jogo
eleitoral?
Ciro Gomes: Nenhuma chance. Nem seria
justo que acontecesse. Pelos tempos processuais brasileiros. Veja que o
Lula está acusado em cinco processos e em nenhum deles ele foi julgado
em primeira instância ainda. Não é provável. Nesse processo em que ele
depôs recentemente, ele tem 86 testemunhas para serem ouvidas. Demora
bastante.
BBC Brasil: Como o senhor avaliou o depoimento dele em Curitiba, ao juiz Sergio Moro? E o juiz?
Ciro Gomes:
Ele é um campeão da psicologia popular e o Moro um garoto. Não duvido
que tenha boa fé, boa intenção. Esse negócio de aplauso demais e
juventude acabam deformando demais as pessoas. Eu sei bem o que estou
falando. O Lula trouxe o Moro para o campo dele, onde ele reina. O Moro
seria um rei se fosse um juiz, um juiz severo, restrito aos autos, às
leis, aos códigos. Aí ele seria absolutamente imbatível, mas não... Ele
preferiu trocar ideias com o Lula, aceitar ser visualizado em capas de
revista como antagônico. Onde o juiz é antagônico, ele já perdeu. O juiz
só merece respeito e acatamento se ele for um magistrado, se ele for a
terceira parte, isenta, obediente à lei, severo na presunção da
inocência dos acusados, garantidor da ampla defesa, do contraditório, e
justo na hora de afirmar a sentença. Ele arrastou o Moro para a
política.
BBC Brasil: O senhor acha que o Moro sucumbiu?
Ciro Gomes:
Sucumbiu completamente. Se ele condenar o Lula, todos os simpatizantes
do Lula e nós outros que observamos o direito do ponto de vista
profissional, acharemos injusto. A questão básica é a seguinte: como é
que as capas das revistas nacionais põem num ringue um réu contra o
juiz, isso já matou o juiz. O juiz não pode lutar, ele observa a luta,
sentado numa cadeira, fora. O antagônico não pode ser o juiz. A direita
brasileira é basicamente imbecil. Faz isso, acabou.
BBC Brasil: Mas o senhor acha que o Sergio Moro tinha como se afastar disso?
Ciro Gomes:
Claro, bastava que ele fosse um juiz. Parar de usar gravatinha
borboleta, de circular por aí afora onde há holofotes, confraternizando
com potenciais réus aos risos, isso não é juiz.
BBC Brasil:
Os depoimentos mais recentes da Lava Jato têm citado diretamente o
ex-presidente Lula e a ex-presidente Dilma. O fato da mulher do
marqueteiro João Santana dizer que era informada dos avanços da Lava
Jato por meio de mensagens cifradas numa conta de email que elas
compartilhavam, muda a imagem que o senhor tem da Dilma?
Ciro Gomes:
Não. Delação premiada é um instituto muito precário da forma como está
prevista na lei. A gente copiou uma lei dos Estados Unidos, aliás no
governo da Dilma. A delação premiada não vale nada até determinação
concreta de outra prova. Está explícito na lei que ninguém pode ser
condenado tendo como única razão a delação premiada. Só no nosso país,
nesse momento fasci-histórico em que estamos vivendo, é que um delator
parece ter palavra da lei, palavra definitiva. Isso arrebenta com
princípios universais como a presunção de inocência e a garantia da
ampla defesa e do contraditório.
BBC Brasil: O senhor está dizendo que as pessoas estão sendo forçadas a incriminar Dilma e Lula?
Ciro Gomes:
Não estou dizendo isso. Estou dizendo que a prisão provisória no Brasil
está sendo abusada. Você manter uma pessoa no cárcere sem trânsito e
julgado e oferecer diariamente, ou 'madrugadamente' para fazer uma
brincadeira... o meganha acordar você de madrugada na cela e oferecer
uma determinada situação se você assinar a delação.
BBC Brasil: Isso está acontecendo?
Ciro Gomes: Está acontecendo nos cárceres de Curitiba.
BBC Brasil: Aconteceu com quem?
Ciro Gomes: Tem acontecido. Já ouvimos denúncia disso muitas vezes.
BBC Brasil: O senhor chegou a conversar com o presidente Lula sobre sucessão, sobre Lava Jato?
Ciro Gomes:
A última vez em que nos encontramos, apesar de eu estar muito
entristecido, porque a dona Marisa era também uma amiga pessoal. Eu
estive no hospital antes dela morrer e depois fui ao enterro. Nas duas
ocasiões o Lula quis falar de política. Eu disse: Rapaz deixa isso pra
outra hora. E de Lava Jato também, muito zangado, muito aborrecido, se
sentindo perseguido, e tal.
BBC Brasil: O senhor recentemente disse que não queria ser vice de ninguém, mas nem do Lula, ou principalmente do Lula?
Ciro Gomes: Principalmente do
Lula. Não há menor chance. Eu não concordo com a visão dele. Acho que
nesse momento a candidatura dele desserve ao país e desserve a ele
próprio. É evidente, para que amanhã não haja uma contradição no que eu
estou dizendo, que na eleição você vota no que você quer, mas também
naquilo que você nega. Então, eu no primeiro turno serei candidato, se o
meu partido quiser, e no segundo turno, se eu não estiver presente, vou
votar naquele que me parecer vizinho às minhas ideias e convicções.
BBC Brasil: O senhor ainda acha que o Lula brincou de Deus e que ele é o grande responsável por tudo o que está acontecendo?
Ciro Gomes:
Sem dúvida! O grande responsável por este momento político trágico que o
Brasil está vivendo é o Lula, por que foi ele quem botou o Michel Temer
na linha de sucessão. Ele que empoderou esse lado podre do PMDB,
entregando, por exemplo, Furnas, e as "burras" de dinheiro de Furnas,
pro seu Eduardo Cunha subornar parlamentares e virar presidente da
Câmara. Isso eu fui dizendo pra ele muitas vezes durante o processo
todo. Por exemplo, quando circulou a notícia de que seria dada Furnas
pra ele, eu fui ao Lula pessoalmente. Abri a biografia do Eduardo Cunha
como ladrão, ladrão da Telerj, ladrão da Cedae, ladrão do fundo de
pensão da Companhia Habitacional do Rio de Janeiro. E ele me disse
categoricamente que estava sendo chantageado e que não daria, e no dia
seguinte nomeou.
BBC Brasil: Ele disse que estava sendo chantageado?
Ciro Gomes: Isso. Mas que não daria Furnas, e deu.
BBC Brasil:
Vamos pensar num cenário com o senhor como presidente. O senhor já
disse que o PMDB seria automaticamente afastado para a oposição...
Ciro Gomes: O
primeiro indício de que o meu governo fará história é que o PMDB será,
pela primeira vez na história, oposição. E eu vou partir para destruir
isso.
BBC Brasil: Como é que isso pode ser possível? Porque ninguém nunca conseguiu governar sem o PMDB. O Lula começa, mas em 2003 ...
Ciro Gomes:
Ninguém conseguiu governar? Não é verdade não. O Itamar Franco governou
sem essa escória. E eu servi a esse grande brasileiro como seu
ministro. E um exemplo prático: Quando o Hargreaves (Henrique
Hargreaves, ministro da Casa Civil de Itamar Franco), foi acusado de
corrupção, Itamar o afastou, apesar de ser homem de confiança estrita
dele, mandou apurar preventivamente e depois desagravou o Hargreaves e
voltou. E essa é a chave. No Brasil, já que o PT e o PSDB impuseram
micro projetos de poder, se você tiver um projeto de nação tem que
conseguir comunicar as bases desse projeto ao conjunto da sociedade, aí,
o nível de chantagem a que você se obriga a se submeter será muito
reduzido.
BBC Brasil: Mas ainda assim, da forma
como o modelo brasileiro está estruturado, o presidente é muito
dependente do Congresso, quase refém.
Ciro Gomes:
Ótimo que seja. O presidente não deve ser dono da bola, nem dono da
verdade. Ele deve negociar com a sociedade, deve negociar com sua
representação legítima. Eu não tenho nenhuma dificuldade nisso. Eu fui
Deputado Estadual duas vezes, fui Deputado Federal, eu tenho muita
experiência. Então o problema não é negociar, é em que linguagem você
negocia. Quais são os limites de ética, de projeto e de valores com os
quais você transige e aqueles em que você passa a linha e daí é pra
trás. E o Brasil não pode mais transigir pois está demonstrado que não
dá em nada. Aliás, o Fernando Henrique perdeu a eleição para o Lula e a
Dilma acabou com a democracia brasileira. Ambos caíram, ambos os
projetos ruíram em desmoralização. Olha aí o que resta do PSDB. Ainda
vai se defender que esse é o modelo?. Só uma elite estúpida como a
nossa.
BBC Brasil: O senhor acha que o PMDB é responsável por essa degradação?
Ciro Gomes:
Não, o PMDB não. O PMDB apenas representa, na sua maioria, porque tem
muita gente boa lá também, no (plano) simbólico, uma escória que hoje é
hegemônica na política brasileira. Mas isso também inferniza muitos
outros partidos.
BBC Brasil: Mas perturba também quem está ocupando a cadeira no Palácio do Planalto.
Ciro Gomes:
Mas isso é porque se entregou, ao longo dos últimos vinte anos, o poder
a essa gente, poder central. Quem era o líder do governo Fernando
Henrique no Senado?
BBC Brasil: Romero Jucá.
Ciro Gomes:
O Romero Jucá foi líder no governo Lula e no governo Dilma. Então como é
que pode? Está certo isso? Olha o que está acontecendo com o nosso
país. Tem que mudar.
BBC Brasil: Mas é justamente por isso que eu pergunto. Eles não conseguiram se livrar do PMDB.
Ciro Gomes:
Não conseguiram, não. Eles quiseram subornar políticos para ter mais
tempo de televisão e quiseram amordaçar as possibilidades de CPI. Essas
são as duas únicas razões pelas quais se montou essa máquina de podridão
no país, que está sangrando o Brasil. E não deu certo. Se tivesse dado
certo, OK. É uma sabedoria, é uma transigência, uma concessão que se faz
ao realismo político. Eu sou do ramo. Eu não sou uma mocinha que chegou
ontem ao bar. Eu conheço tudo isso aí. Mas isso é mentira. Isso é a
ciência do fracasso. É o oposto.
BBC Brasil: Será possível um dia?
Ciro Gomes:
Para sua geração é difícil. Mas repare, eu fui governador do Ceará, fui
prefeito, tinha cinco vereadores em 41, o meu partido tinha. Governei
praticamente com unanimidade. Então eu conheço o ramo. Agora se você
fizer uma negociação correta... No caso brasileiro, as grandes mediações
passam pelo pacto federativo, pelos governadores dos Estados. Se você
fizer uma negociação ao redor de qualidade de teses. Você já na campanha
deve comover as pessoas a votar em aliados seus. Aliás é o que tem
acontecido no Brasil. Porque senão nós ficaríamos na seguinte pergunta
irrespondível: Qual foi a reforma que o Fernando Henrique propôs e que
este Congresso não deixou passar? Nenhuma! Qual foi a grande reforma do
Lula que o Congresso não deixou passar? Nenhuma!
BBC Brasil: É, mas a reforma da Previdência passou com o Mensalão, por exemplo.
Ciro Gomes:
Sim, mas é por que? É como eu estou tentando demonstrar. Os interesses
reais não estão ali. Então você tem hoje um interesse real no Brasil que
é plutocrata. É o baronato comandando sem legitimidade nenhuma. Mas a
grande pergunta é como é que um deputado vota contra os interesses da
classe trabalhadora assim tão despudoramente? É a presunção de que o
povo é idiota. E eles vão ver que o povo não é. Eu vou lhe dizer, a
reforma da Previdência como está não passa. Assim como está, não passa.
Não passa. Passou na Comissão porque ela é escolhida a dedo. Mas no
Congresso não passa, como está. Eles vão descaracterizar, vão tentar
livrar a cara, mas não passa. Nós já ganhamos essa parada com a greve
geral.
BBC Brasil: Falando em personagens de peso
e no Congresso, vamos falar sobre o deputado Jair Bolsonaro. Ele tem
crescido, tem se destacado e ganhado uma visibilidade que nunca teve e
ele está na Câmara há muitos anos. O senhor já chamou o Bolsonaro de
tosco e disse que ele é franco. Também disse que ele ocupa uma função
tática porque ele atrai parte daqueles que estavam alinhados com o PSDB.
O senhor acha que quem verbaliza sem pudor uma posição extrema,
controversa, é bom ou ruim?
Ciro Gomes: Para o
país? É bom, claro. Sou um democrata visceral, de raiz. E fato ou não,
há no Brasil um conjunto de pessoas - rapazes normalmente com um grave
problema afetivo em casa, com crise de autoridade com o pai ausente -
que precisa se expressar, categorias que inferiorizem os outros para que
eles não se sintam tão nada. Eu entendo isso com meu coração. O Jair
representa isso. Ele fala com franqueza, com um certo caráter tosco,
essas coisas. Ele cumpre um papel, na minha opinião, importante, porque
ele aclara, ele tira o véu. E, basicamente, ele dá uma parada técnica,
um pit stop, para esse eleitorado conservador que votava por antipetismo
visceral no PSDB e que percebeu que o PSDB é uma grande fraude.
BBC Brasil: Há quem diga que o senhor mede um pouco as palavras para falar do Bolsonaro.
Ciro Gomes:
Eu meço primeiro e vou te explicar por quê. Primeiro, por isso que
acabei de te dizer e segundo, porque ele votou em mim na eleição de
2002.
BBC Brasil: O senhor tem medo de bater nele?
Ciro Gomes:
Eu tenho medo de quê, mulher? Eu tenho coragem de mamar em onça. A
guerra entre a turma dele e a minha na internet é uma coisa selvagem.
Mas eu não. Tu achas que vou me preocupar com isso? Estou preocupado é
com o Brasil.
BBC Brasil: Já o Doria... o senhor tem uma posição bem diferente em relação a ele.
Ciro Gomes:
Porque esse é um farsante, perigoso. Certa elite brasileira,
desencantada com a podridão do PSDB oficial, está embalando um novo
Collor. É um farsante, perigoso para o país.
BBC Brasil: Por que o senhor acha que ele é um farsante?
Ciro Gomes:
Ele é um cara que encheu a burra de ganhar dinheiro com lobby. Como o
cara é milionário e não tem uma roça, não tem um comércio, nunca
produziu um parafuso? É uma fortuna, rodando de jatinho por aí afora. De
onde veio esse dinheiro? Eu sei, lobby.
BBC Brasil: Lobby do bem ou lobby do mal?
Ciro Gomes:
Lobby puro e mal. Lobby de dinheiro público. Dinheiro dos cofres
públicos de cofres públicos do PSDB, dos governos controlados pelo PSDB
de São Paulo, Minas Gerais e muitos outros. Esses piqueniques todos são
negócios de aproximação de empresário e de político, que é a arte dele.
Ele foi presidente da Embratur e eu era prefeito de Fortaleza. Agora vem
se apresentar de não-político? É um farsante.
BBC Brasil: Falando em PMDB, vamos falar um pouquinho de Michel Temer, que o senhor definiu como um chefe de governo de patetas.
Ciro Gomes:
Estou na dúvida se é quadrilha, pateta ou outra coisa pior. Quadrilha é
muito grave, pateta é tão grave quanto. Por que pateta? O Brasil toma
uma traulitada num produto de exportação relevantíssimo, que emprega 700
mil pessoas no setor de proteínas animais e o cidadão convoca às
pressas os embaixadores dos principais (países) importadores para comer
numa churrascaria onde só vende carne importada. O camarada chama a
imprensa nacional e internacional para fazer uma fala em homenagem ao
dia internacional das mulheres e ele diz que as mulheres são quem melhor
sabem escolher preço em supermercado. Isso é uma patetada. Agora ele
convocou as Forças Armadas norte-americanas, violando uma tradição de
300 anos, salvo na II Guerra Mundial, para fazer manobras conjuntas com
as forças brasileiras, na Amazônia e na fronteira com Venezuela. Isso é
muito grave. A quem interessa isso? Aí veja, eu tenho que ser
destemperado... Alguém tem que matar o carteiro porque ninguém está
falando nada.
BBC Brasil: O senhor também já teve alguns momentos controversos, por exemplo...
Ciro Gomes: Eu falo cinco horas por dia, todo dia, há 30 anos. Se eu tenho cinco, sete momentos controversos, quem não tem?
BBC Brasil:
O senhor falou da infeliz frase do Temer em relação ao dia da Mulher e
eu me lembrei, automaticamente, de quando perguntaram da Patrícia Pilar
para o senhor.
Ciro Gomes: Você nunca viu eu falando isso na vida.
BBC Brasil: Inventaram aquela frase?
Ciro Gomes: Editaram
claramente e foi a Globo. O que importa é a versão da Globo, não a
realidade. Inventaram agora esse negócio de pós-verdade. Eu chamo de
mentira. Um psiquiatra americano, contratado pela campanha do José
Serra, sugeriu que minha vaidade se feriria se as pessoas insistissem
que a Patrícia Pillar tinha uma relevância central na minha persona
politica. Era o amor da minha vida, minha conselheira, e minha
companheira de tudo. E foi isso que disse. Aí, ferido, 150 vezes após a
mesma pergunta, sempre pela Globo, eu disse a bobagem. Disse ela é minha
mulher, minha parceira, minha tudo e, além do mais... aí falei a
bobagem. Nunca mais ninguém esqueceu. Eu não tenho um inquérito. Tinha
direito a três pensões vitalícias que me dariam R$ 86 mil. Sou o único
político brasileiro que não aceita receber nenhuma. Isso nunca foi
comunicado ao povo brasileiro. Estou em Londres, falando à BBC Brasil, e
de que você lembra? Você não citou que eu não recebo pensão.
BBC Brasil: Não citei que o senhor não recebe pensão, mas lembrei que o senhor teve um inquérito da farra das passagens aéreas na Câmara.
Ciro Gomes: Não. Nunca respondi a nenhum inquérito na vida.
BBC Brasil: Mas abriram uma investigação, não?
Ciro Gomes:
Sim. Eu dei uma boa esculhambada. Eu viajei com para os Estados Unidos
com minha mãe. Eu paguei minha passagem e ela a dela. E a TAM trocou. E
depois soltou uma nota oficial se responsabilizando. Mas nunca respondi a
inquérito nenhum. Veja sua pesquisa. Abri mão das pensões de R$ 86 mil.
BBC Brasil: E o senhor vive de que hoje?
Ciro Gomes: Faço palestra. Sou advogado, tenho um escritório de advocacia. Trabalho para uma universidade como consultor.
BBC Brasil: Voltando
aos assuntos dos inquéritos. O senhor como secretário de Saúde do
Ceará, foi denunciado pelo Ministério Público envolvendo terceirização. O
que aconteceu? O juiz não acatou. A denúncia morreu, foi arquivada?
Ciro Gomes:
Sim, claro. Nunca respondi a um inquérito, nenhunzinho, sequer para ser
absolvido. Assumi a secretaria de Saúde do Ceará porque meu irmão
(ex-governador Cid Gomes) havia construído 20 UPAs que estavam sem
funcionar, dois hospitais que estavam sem funcionar, 150 ambulâncias da
SAMU prontas, sem funcionar, e ele pediu para eu colocar aquilo em ordem
porque o Ministério Público não deixava e os médicos estavam com medo.
Eu fui lá e fiz. Tudo isso passou a funcionar do dia para a noite. Aí um
babaca lá, desses que infernizam a vida brasileira, resolveu fazer isso
(apresentar a denúncia). E aí? Qual é a malversação? Criei uma
cooperativa de socorristas e coloquei a SAMU para funcionar em todos os
municípios do Ceará. Salvei milhares de vidas e estou orgulhoso disso.
Denúncia arquivada.
BBC Brasil: Tem uma investigação antiga rolando, na qual o senhor teria contratado uma empresa de inteligência...
Ciro Gomes: Você foi ler isso na Folha de S.Paulo, que simplesmente inverteu.
BBC Brasil: O senhor diz isso porque foi hackeado, correto? Explica essa história para entendermos o que aconteceu.
Ciro Gomes:
É simples. Lá na paróquia, no meu Ceará, um grupo de canalhas hackeou
meu computador e começou a replicar meus e-mails ou falar coisas que
tinham como premissa informações privadas minhas, de e-mail. Eu não
tenho segredos. Acessaram de fato. Eu representei na polícia. A polícia
fez uma perícia, uma investigação, e descobriu todo mundo. E isso está
lá, rolando o processo. E a Folha simplesmente inverte.
BBC Brasil: E a suposta suspeita de que o senhor teria contratado a Kroll é infundada?
Ciro Gomes: Nunca aconteceu comigo. A acusação foi contra meu irmão. Não foi comigo. Trocaram Ciro por Cid.
BBC Brasil: Isso é muito comum? Atribuir suspeitas contra o senhor relacionadas ao seu irmão?
Ciro Gomes: Não, meu irmão também é limpo. Lá em casa a gente toca de ouvido de olho fechado.
BBC Brasil: O senhor acha que a ex-presidente Dilma, do ponto de vista econômico, errou ainda mais?
Ciro Gomes:
Foi um desastre completo indo e voltando. Quando deu-se o
desfinanciamento desse nível de consumo eles reagiram como se fosse a
crise de 2008, quando os preços das commodities estavam lá em cima. O
Brasil não teve tanto problema porque bastava enfrentar o colapso do
crédito internacional com nossos bancos, o BNDES, Banco do Brasil, Caixa
Econômica, com alguma renúncia fiscal. Era claramente uma boa resposta.
Só que dessa vez (com Dilma), o problema foi o desfinanciamento
estratégico do país, que tem um padrão de consumo importado, que
apresenta déficits gigantescos e que eram mascarados como boom de
commodities. Quando as commodities caíram foram fazer renúncia fiscal e
foram arrebentando o país. É inacreditável. E para resolver o problema
chamaram o Levy, que é quinto nível e em experiência anterior no serviço
público quebrou o Rio de Janeiro, para ser o ministro da Fazenda do
Brasil. Dá vontade de rir para não chorar. Na maior depressão da
história, coloca a maior taxa de juro na história.
BBC Brasil: O senhor veio a Londres
para participar de uma mesa com o presidente da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia, e o ex-ministro Jaques Wagner. Tem verdades a serem ditas
tanto ao PT e o DEM?
Ciro Gomes: Claro. Não vim
para conversar com eles, vim para conversar com estudantes brasileiros e
com os acadêmicos britânicos que têm curiosidade sobre o Brasil. E vou
dar um depoimento que representa minha experiência. Vou demonstrar a
estupidez retórica e a manipulação de valores falsos por essa história
de presidencialismo de coalizão. Atributam ao Congresso os problemas do
Brasil, mas os problemas do Brasil são do Executivo. Falta de
imaginação, de projeto, falta de seriedade, esses sim são os problemas.
BBC Brasil: E com a sociedade civil?
Ciro Gomes: Essa
é essencial. Sem a sociedade envolvida, cúmplice, não vamos resolver
esse conflito distributivos. Brinco sempre: toda vez que você olhar um
tatu em cima de um toco, pode apostar que alguém botou porque tatu não
sobe em toco. Então tudo que está errado não está assim porque tinha um
manual de fazer certo, está errado para atender a interesses
minoritários, organizados e informados, que constrangem a grande mídia e
que formam a opinião das pessoas.
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