Não há porque ter medo de espíritos
por Marcos Villas Boas
Pelo crescimento da procura por ajuda e por cursos, como os
de educação mediúnica, em casas espiritualistas, nota-se que cada vez
mais as pessoas estão descobrindo a espiritualidade e esse processo
crescerá nos próximos meses e anos. O que dificulta tal descoberta, ou o
seu aprofundamento, é o medo que as pessoas têm dos espíritos,
sobretudo daqueles ditos “trevosos”.
Denominar
um espírito de “trevoso” é um preconceito e significa uma crítica ao
que nós mesmos fomos algum dia, talvez num passado bastante recente, ou
ainda pode ser uma realidade presente dentro da carne. Estar em
“trevas”, segundo muitos espíritos explicam, é ter o lado sombra ou o
lado luz desequilibrado, e isso ainda acontece com boa parte dos
espíritos desencarnados e encarnados.
De
acordo com o item 115 do Livro dos Espíritos e com interpretações
apresentadas no programa Diálogo com os Espíritos, todo espírito é
criado divino, perfeito, mas simples e ignorante, com diferentes corpos
os quais deverão ser “jogados fora” ao longo de muitos milhares de anos
de encarnações.
A
vida, tanto nos planos dos desencarnados quanto no plano dos
encarnados, é, portanto, um processo de constante aprendizagem para
sutilização do ser, para que os corpos possam ir sendo sutilizados e, um
a um, “jogados fora”.
É
por isso que os seres humanos da Terra, em geral, não conseguem
identificar vida em outros planetas do nosso sistema solar. A vida neles
habita em outros corpos, de modo que a densidade é outra, a dimensão é
outra, não sendo possível vê-los com os nossos olhos de encarnados na
terceira dimensão.
Se
o objetivo primordial da vida é aprender, a personalidade criada
durante a encarnação, o ego, é apenas uma ferramenta de aprendizagem, e
não um fim em si. Deste modo, todos os sentimentos presos ao ego, todas
as posses, desejos e paixões, se não equilibrados, terminam atrapalhando
o objetivo primordial, que é o espírito, a centelha divina dentro de
cada um, aprender o máximo possível.
Um
sábio espírito nos disse outro dia o seguinte, com essas palavras: “o
medo é o principal alimento do mal”. O medo é o sentimento que mais nos
afasta do nosso espírito, do Deus dentro de nós, e mais nos prende a
ilusões do ego. É ele que trava ou atrasa o processo de aprendizagem,
desde, por exemplo, a possibilidade de se abrir para a espiritualidade.
Pautados
em filmes, livros e outras fontes socioculturais, as pessoas não
conseguem sentir, não conseguem entender que somos todos espíritos,
pois, além de preconceitos e outras ilusões criadas no ego, têm medo de
serem assombrados. Uma vez que alguém ateste: “espíritos existem”, a
pessoa terá que lidar com eles, com a possibilidade de estar sendo
acompanhada 24 horas, de ter gente com ela dentro do quarto à noite etc.
Isso
realmente importa tanto? Se espíritos existirem e nos guiarem para o
que se chama de “bem” e para o que se chama de “mal” o tempo todo, não é
melhor saber? “Ah, eu prefiro nem saber”. “Ah, prefiro não mexer com
essas coisas”. Entendam, amigos, “não mexer com essas coisas” significa
passar a encarnação inteira iludido e, portanto, atrasando o processo de
aprendizagem.
Ninguém
vive aquilo que não atrai. Quando se começa a entender a
espiritualidade e as relações vibratórias, compreende-se que não há o
que temer. Se passarmos por algo, é porque precisamos daquele algo para
evoluir. Você preferia não passar pela aula necessária e ficar travado
na evolução porque espírito lhe dá medo?
Já
dissemos em textos passados publicados neste blog que a coragem, a
confiança no divino, na espiritualidade, está muito associada à fé.
Muitas das situações que assustam os encarnados são aulas de
fortalecimento da fé, necessárias à sutilização do espírito.
Ter
medo é como querer entrar num esquadrão de elite e não passar pelos
testes porque eles são supostamente perigosos, ou seja, desiste-se do
fim maior por conta de inseguranças e de fraquezas.
Ficamos
sabendo recentemente que um grupo espírita teria parado de utilizar as
técnicas de apometria, pois, após tê-lo feito, aconteceram alguns fatos
que os assustaram e que foram atribuídos a espíritos “trevosos”. É uma
pena deixar de utilizar ferramentas avançadas de prática do bem, e de
aprender muito mais com elas, por medo de espíritos que querem a
balbúrdia e que teriam seus fins atrapalhados pelo uso de tais
ferramentas.
Não
se deve ter vergonha de ter medo, contudo. É um sentimento comum, que
faz parte do processo de aprendizagem. Destituí-lo é uma das fases do
jogo. Outro sábio espírito nos disse poucos dias atrás: “Apenas tem
vergonha quem a tem”. Leia-se: apenas tem vergonha quem tem vaidade e
orgulho. Vaidade e orgulho são medos, ou seja, medo de ser exposto, medo
de perder algo a que se está apegado, medo de não ser admirado etc.
Não
se deve ter vergonha das deficiências. Aliás, expô-las e lidar com elas
é parte importante do processo evolutivo, segundo Osho e vários outros
sábios, inclusive muitos dos principais estudiosos da Psicologia na
história humana. Quanto mais se esconde as sombras de si próprio e dos
outros, quanto mais se “joga a poeira para debaixo do tapete”, mais fica
difícil de “arrumar a casa” de verdade.
Todos
são dotados de sombra e luz. Esses dois lados precisam viver em
equilíbrio. O desequilíbrio em qualquer deles gera o que se chama de
trevas. O bonzinho demais e o malzinho demais terminam desequilibrados, e
isso pode gerar atos chamados de trevosos, até mesmo por desencarnados,
inclusive por muitos que se acham e que são tidos por bonzinhos. Deste
modo, o trevoso é apenas alguém em desequilíbrio, pouco desperto em
termos de consciência. É alguém que precisa de ajuda, e não de medo e
aversão.
Não
há porque ter medo de espíritos, pois uma parte deles está aqui para
nos ajudar e a outra parte, que quer nos atrapalhar, é apenas ignorante e
útil ao processo de aprendizagem, pois nos proporciona diversos testes.
São amigos que, por raiva, vaidade, orgulho e outros sentimentos
negativos querem lutar contra a natureza e seus processos evolutivos. Ao
fim e ao cabo, eles não percebem que estão ajudando a providência
divina e, portanto, nos ajudando a nos melhorarmos.
Quem
participa de reuniões de desobsessão cansa de ver irmãos, semanalmente,
que chegam lá se dizendo demônios, com a mão em posição de garras,
arranhando a mesa, dizendo que vão matar a todos e que saem de lá, após
passes, esclarecimentos e outros tratamentos, pedindo desculpas,
afirmando que perderam muito tempo em ilusões. Esse é o destino de todos
eles, mais cedo ou mais tarde, pois, por uma lei da natureza, todos
caminham em direção ao divino, ao esclarecimento, à iluminação interior.
Nessa
linha, não há porque clarividentes terem medo de espíritos que se
plasmam como serpentes, lobos, demônios etc. São formas usadas para
assustar, para impor respeito ou por ilusões próprias. Todos eles, por
estarem na Terra, fazem parte desta humanidade. No final das contas, são
todos humanos, quase todos já encarnaram neste planeta em algum momento
e a forma humana deles pode ser restituída.
Ter
medo desses amigos apenas deixa as pessoas ainda mais suscetíveis a
eles. A vibração do medo é muito densa e, como apenas podemos sofrer
ataques por afinidades vibratórias, o medo é exatamente o que eles
buscam para poderem atingir as vítimas.
É
preciso dialogar despretensiosamente com esses espíritos, ajudá-los,
emanar amor para eles e, em caso de recalcitrância, deixar na mão da
espiritualidade que nos guarda, pois todo aquele que tem bons
sentimentos e boas intenções é muito bem guardado.
Em
último plano, também, raciocinemos: qual o pior que pode acontecer?
Desencarnar? Se desencarnar, continua vivo, e para toda a eternidade.
Continua-se o processo de aprendizagem, porém em outra densidade, em
outra dimensão. Ter medo de que, então?
“Ah,
mas eu posso ser desencarnado por um espírito trevoso e depois ele
ainda pode me escravizar no plano astral”. Se isso acontecer, é porque
você precisa passar por aquilo. Enfrente de bom grado. Desencarne e seja
escravizado com fé e serenidade, que a ajuda chegará no momento certo e
a fé antecipará esse processo de socorro. Tudo isso servirá para a
evolução, pois passamos por aquilo que exatamente devemos passar.
Questionar
esses processos é não entender ou não querer aceitar as leis da
natureza, de Deus, do cosmo, seja lá como se prefira denominar. Não há o
que temer. Aceitemos o que vier de bom grado, mas não nos sujeitando ao
que não nos deixa pleno. Parte do processo de evolução é conseguir se
manter em vibrações elevadas de plenitude.
Não
defendemos a busca do sofrimento e da dor; aliás, muito pelo contrário.
O espírito deve buscar a plenitude, viver com o máximo de realização e
amor. Defende-se a fé, a serenidade, o equilíbrio, a paciência, a
tolerância nos momentos em que enfrentamos inevitáveis dificuldades.
Como
as pessoas gostam de filmes e são imensamente “manipuladas” por eles, é
interessante lembrarmos do personagem Jack Sparrow da série de filmes,
de enorme sucesso, Piratas do Caribe. Sparrow é uma figura espetacular,
que revela, a nosso ver, altíssima evolução espiritual.
Nos
filmes, Sparrow se mostra uma figura quase que altista, desligada da
realidade que se passa à volta, sempre fazendo gracinhas, mas, no final
dos filmes, descobre-se que ele sempre estava à frente de todos os
demais. Ele não se estressa, não se preocupa, não perde a cabeça,
tratando tudo com tranquilidade e graça.
Nos
momentos de perigo, Sparrow não sente medo, mas, quando é necessário,
não tem vaidade e sai correndo dos riscos. Apesar de não perder a cabeça
com isso e de não parecer, nota-se, sempre mais ao final, que ele se
preocupa com todos e que quer ajudar.
Jack
Sparrow vive pleno, alegre, despretensioso, com fé, sem apego a posses,
paixões e desejos. Esse é o objetivo do ser humano: amar o cosmo, a
natureza, Deus; amar a si mesmo e todos os demais espíritos
desencarnados e desencarnados; e desapegar do material sem precisar
negá-lo ou reprimi-lo.
Não
falamos aqui em fé cega, mas na compreensão da natureza e dos seus
processos. É uma fé raciocinada, um sentimento de segurança de que
estamos em processo de aprendizagem e de que somos guardados.
Não
se fala aqui em desapegos ilusórios impostos por religiões e filosofias
espiritualistas mal interpretadas, mas de um equilíbrio no gozo do
material, não deixando de ter experiências e de aproveitar as chances de
aprendizado que a vida na carne dá. Não é nada mais do que isso que
viemos fazer aqui: ter um tipo de experiência, num dado planeta, num
dado contexto de processo evolutivo.
Reprimir-se,
querer ser santo muito antes da hora, é muitas vezes medo de enfrentar a
realidade e/ou orgulho de querer sentir-se evoluído e de parecer aos
outros evoluído. Quando o ser se reprime, ele não será pleno, pois é
preciso cada um trabalhar em cima da sua verdade. Ao se reprimir,
cria-se um personagem, fortalece-se o ego com ilusões, em lugar de expor
os lados sombra e luz do espírito para que possam ser trabalhados.
O
início do processo de real entendimento sobre a espiritualidade e sobre
o que viemos fazer aqui nesta encarnação passa pelos temas acima. O
próprio processo de aprendizagem vai nos dando maior entendimento sobre
esses temas, não havendo que se pretender esgotá-los em uma encarnação.
Com
esse intuito, no entanto, é preciso começar a deixar as ilusões do ego
de lado para utilizá-lo - o ego, essa personalidade que tem um nome
transitório, que tende a durar uns 70, 80 ou 90 anos – em favor do
processo de aprendizagem maior, do espírito, e não contra ele, como uma
âncora que nos prende aos mesmos erros do passado.
Não
há porque ter medo da encarnação, não há porque ter medo de espíritos
desencarnados, não há porque ter medo dos encarnados. Tudo é
aprendizagem, até mesmo sofrer um assassinato. Esse desapego não
acontece de uma hora para a outra, mas, quanto antes começarmos o
processo, melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário