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terça-feira, 17 de julho de 2018

A ilusão eleitoral dos 'mercados', por André Araújo.




A ilusão eleitoral dos 'mercados', por André Araújo
Um pequeno circulo de financistas que se beneficiou da politica econômica neoliberal dos últimos 15 anos, um segundo circulo de agregados, advogados, economistas, executivos e jornalistas que se aproveitou das sobras do grande banquete e uma imensa multidão de pobres e miseráveis que está comendo o pão que o diabo amassou neste Brasil de 2018, resultado de politica econômica pró-recessão.
Os “mercados” e seus apoiadores na classe média alta, tem um perfil de candidato desejado  que atenda à sua visão de mundo e de Pais, mas não conseguirão eleger seu candidato preferido sem os votos dos “pés de chinelo”, cujo perfil de candidato não pode ser o mesmo dos “mercados”, cujos valores estão na concentração e não na distribuição de renda, trajetória que começa no Plano Real e segue até hoje.
Um candidato com a cara do “mercado”, por essa mesma circunstancia NÃO tem apelo aos desempregados, subempregados e desalentados.
Nasce aí o potencial de um candidato “populista”, de apelo aos excluídos, MAS que, por trás dos panos, atenda ao mercado. É desse perfil que estão à procura. 
Mas agora, está difícil de encontrá-lo. Lula foi um achado raro, repeti-lo não vai ser fácil, o “populista” aceitável tem que ser uma combinação de vários mundos, um candidato com apelo aos corações e mentes e, ao mesmo tempo, com capacidade de governar um País em séria crise econômica.
A DIREITA MIDIÁTICA
A chamada “grande imprensa” composta pelas Organizações Globo, Rede Band, revista VEJA, jornais FOLHA e ESTADÃO, mais rádios popularescas fascitóides, vocalizam o que o “mercado” e a classe média alta quer ouvir, é o grupo que tem voz como sendo a sociedade, dando a impressão de que representam uma corrente majoritária dos eleitores, o que é uma irrealidade. Aquilo que a mídia chama de “a sociedade” ou “ a opinião pública” na realidade é a classe media alta que bate panelas e fala com a mídia. A periferia não faz parte desse público e desse mundo, sua voz não alcança a grande imprensa.
Os eleitores “mal de vida” não têm veículos vocalizadores na grande imprensa e suas vozes estão apenas em algumas redes sociais.
Essa dicotomia é um reflexo de um País dividido. Enquanto a opinião generalizada da mídia mostra um País na direita, as pesquisas eleitorais mostram um País de miseráveis sem representação e com memória do governo do PT. É uma grande fratura no quadro político de hoje.
As pesquisas eleitorais mostram que a soma das intenções de voto em Lula, mais os votos nulos e brancos, mais os indecisos, são a MAIORIA do eleitorado. Quer dizer, os NÃO votos são a maior parte da população, é a moldura mais explicita possível da crise na Democracia brasileira, que não encontra CANAIS DE REPRESENTAÇÃO.
A HISTÓRIA COMO GUIA
Uma situação de continuado mal-estar econômico que afeta o conjunto majoritário da população, sem solução eleitoral visível, sem caminhos de enfrentamento da carência material da maioria da população é prenuncio de crise institucional permanente. Uma fratura no quadro eleitoral o onde um grande contingente de eleitores não encontra candidato que represente suas necessidades, é raiz de crise do regime, não é apenas uma circunstância eleitoral, é uma doença político-social que virá à tona.
A receita neoliberal NÃO tem capacidade para fazer o país se desenvolver economicamente como caminho para enfrentar o desemprego e a incerteza do futuro. Os candidatos que se apresentam com essa receita desconhecem a história econômica. Depressão e recessão não têm soluções de mercado. A solução exige intervenção do Estado. Foi assim na década de 30 nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália e no Brasil, quando o Estado resgatou a economia e não o mercado. O mesmo aconteceu em 2008 nos Estados Unidos, a última grande crise já neste século, resolvida pelo Tesouro dos EUA.
Os candidatos do centro à direita apresentam não-soluções como solução, como privatizações, ajustes e concessões. Nada disso vai criar empregos, gerar recursos e resgatar a população do subemprego e do desalento.
Números recentes apresentados pelo respeitado economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, mostram um inédito aumento de condições de miserabilidade de grande parte da população brasileira.
O QUADRO DA CRISE
O grande quadro da crise brasileira é a péssima situação econômica da maioria da população, são 13 milhões de desempregados, 14 milhões de subempregados, 7 milhões de quem, tendo antes carteira assinada, não está mais procurando emprego. Ao lado dos quais, há 40 milhões de autônomos de baixa renda, que sobrevivem catando latinhas, vendendo comida e refrigerantes nas portas de hospitais, carregando sacola em feiras, camelôs, toda uma existência precária com errático acesso à saúde, à educação e nenhum acesso à previdência social, um oceano de miseráveis sem esperança de melhora à vista.
Em cima, e ainda pior, a falta de qualquer esperança de futuro para os JOVENS pobres entre 14 e 24 anos, sem educação suficiente, sem a mais remota possibilidade de emprego, são 22 milhões nessa condição. O que será deles e do País que os abriga? Estamos falando da nova geração.
É um quadro dantesco, amenizado sob os governos do PT e que volta a agudizar-se com governos nem remotamente preocupados e preparados para enfrentar esse quadro desolador, cuja bússola é o “investidor estrangeiro”, personagem que em nenhuma etapa de qualquer economia foi central para o desenvolvimento, nem na economia americana no final do Século XIX, nem nos grandes avanços da economia brasileira das décadas de 30 e 50, momentos em que foram os brasileiros que fizeram a arrancada.
Quando os EUA se projetaram para o centro da economia mundial, foi com suas próprias forças  que deram o salto, não com o “investidor estrangeiro”, um conto do vigário empinado pela mídia mais ignorante da História brasileira, o personagem tem importância secundária mas o mito que ele representa passou a ser o eixo da politica econômica neoliberal.
Ao mesmo tempo que revela um imenso passivo social, essa população é um tesouro de esperança, de disposição para aproveitar oportunidades, de criatividade e capacidade de sobrevivência, nas mais duras condições, um imenso ativo para  se abrirem as portas de uma politica social inclusiva e, mais do que tudo, de crescimento econômico, com uma visão de País, de sua inserção global e de seu papel único no contexto mundial de hoje, o Brasil tem tudo para dar certo, só não tem governo.
O Brasil é muito mais que uma reles plataforma de mercado financeiro, é um País ÚNICO na geopolítica mundial, maior nação multicultural e multiétnica do planeta, maior país católico, maior país do Hemisfério Sul, único dos BRIC que é do mundo ocidental, uma ponte entre o mundo desenvolvido e o mundo emergente, único herdeiro da cultura milenar, politica civilizatória e humanística dos grandes impérios europeus por ter sido Reino e Império ao contrário de todos os demais países das Américas, repúblicas caudilhescas desde a sua existência como nações. Brasil e EUA são países de construção especial e específica, o Brasil com um Imperador ao mesmo tempo Bourbon, Orleans e Habsburgo, eixos centrais da História européia, o “pedigree” do Brasil é incomparavelmente superior a todas as demais repúblicas das Américas sob o ponto de vista histórico e civilizatório.
Ao mesmo tempo, foi o Brasil o maior receptor de sangue africano, de imigração italiana, árabe e japonesa em todo o mundo, características que fazem do Brasil um País como nenhum outro.
AS CONDIÇÕES PRÉ REVOLUCIONÁRIAS
O não atendimento e pior que isso, nenhuma janela de esperança de futuro para esse população de 170 ou 180 milhões de brasileiros em má situação econômica e social, gera condições similares na História com crises de implosão social aguda, erupções que ocorreram em nossa era, a Revolução mexicana de 1910, a Russa de 1917, a Fascista italiana de 1923, a Chinesa de 1949, a Cubana de 1959, é um quadro pré-revolucionário.
Contextos dessa magnitude não ficam estacionados na porta da História como um vulcão adormecido, as caldeiras estão por baixo fervendo, a erupção é previsível, o Brasil nunca foi um País pacifico, é tão violento como qualquer outro da Era Contemporânea, basta surgir a condição.
O FATOR ESPERANÇA
Um povo pode suportar terríveis condições de vida se houver ESPERANÇA de futuro, mas sem esta não suportará por tempo infinito a miséria.
Devolver a esperança de tempos melhores é a FUNDAMENTAL tarefa de um novo Presidente. Nenhum medíocre poderá chegar perto desse objetivo e muito menos um candidato associado aos “mercados”.
O FATOR LIDERANÇA
Um LIDER é fundamental para a tarefa de trazer esperança e agir para trazer de volta o desenvolvimento. Um exemplo histórico foi Juscelino Kubstcheck, sua liderança começa do zero, um programa de desenvolvimento que conseguiu realizar em cinco anos, SEM RECURSOS, inaugurando um período de 30 anos nos quais o Brasil foi o País que mais cresceu no mundo. JK criou os recursos internamente imprimindo moeda e direcionando essa fonte de financiamento para 30 metas e mais a meta síntese de Brasília. Usou os recursos físicos do próprio Brasil e realizou um governo de sucesso politico, social e econômico. Além disso, projetou o Brasil no mundo, por sua iniciativa foi criada a Operação Pan Americana, a Aliança pelo Progresso e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Colocou o Brasil no tipo do prestigio internacional, feito só igualado antes pelo governo Vargas entre 1940 e 1945 e depois pelo governo Lula entre 2003 e 2006, períodos esses em que o Brasil estava em evidência e gozava de prestigio e protagonismo internacional, estando hoje no seu ponto mais baixo dos últimos 100 anos.
AS ELEIÇÕES E O DEPOIS
Um cenário eleitoral onde o candidato com mais intenções de voto está preso por um processo claramente fabricado para esse objetivo prenuncia um ambiente fraturado durante e depois da eleições.
A legitimidade do vencedor será sempre contaminada pela disfuncionalidade da escolha com a eliminação forçada daquele que seria o preferido. Na História esses desdobramentos abrem uma crise politica que pode se classificar de CRISE DE LEGITIMIDADE da eleição.
Em 1930 Júlio Prestes foi vencedor oficial da eleição, foi proclamado Presidente, mas sua legitimidade foi contestada porque a eleição não era verdadeira apesar de legal e a Revolução de 1930 foi o resultado.
A capacidade de governar vai ser posta a prova por causa da fratura do processo eleitoral, artificialmente alterado por manipulação clara.
A SOLUÇÃO NÃO IDEOLOGICA – COMBINAÇÃO ESTADO + MERCADO
A crise brasileira  de natureza econômica, financeira , social e politica não se resolverá por um caminho  puramente ideológico ou partidário.
Os grandes processos de construção de Estado recorrem a instrumentos de intervenção rápidos a partir da capacidade incomparável do Estado, mas precisam também dos recursos de econômicos  e operacionais de mercado, há espaço para os dois mecanismos, soma-se a ação do Estado com a capacidade já pronta das empresas produtoras de bens e serviços que em conjunto com o Estado vão ativar os imensos recursos materiais ociosos do Pais, paralisados por modelos sectários como “meta de inflação” e outros amarras que sufocam o País.
Crise de legitimidade do Estado sofreu a França em 1958, a Quarta República entrou em colapso de representação e foi salva pelo prestigio do General De Gaulle, que encerrou o regime falido e criou um novo, a Quinta República que restaurou a grandeza da França e vige até hoje.
No processo de desenvolvimento dos EUA somou-se a fundamental ação do Estado ao dinamismo da economia de mercado. No processo de reversão da Grande Depressão dos anos 30 a ação do Estado foi insubstituível, o New Deal foi o instrumento do Estado que promoveu a criação imediata de 6 milhões de empregos para obras públicas e por um banco especial para financiar a economia, a Reconstruction Finance Corp., que salvou milhares de empresas e bancos. Em 2008 foi o programa TARP, que despejou 800 bilhões de dólares do Tesouro em bancos e grandes companhias, ação que evitou uma gigantesca crise criada pelo financismo que nunca teve nada de racional como método de politica econômica.
É a soma do Estado com a economia de mercado que fara o Brasil crescer e gerar inclusão social. Não há ideologia única nessa grande missão, é um processo histórico de somar forças a partir de liderança.
Qual o candidato que terá a capacidade para essa tarefa?

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