A ilusão eleitoral dos 'mercados', por André Araújo
Um pequeno circulo de financistas que se beneficiou da politica
econômica neoliberal dos últimos 15 anos, um segundo circulo de
agregados, advogados, economistas, executivos e jornalistas que se
aproveitou das sobras do grande banquete e uma imensa multidão de pobres
e miseráveis que está comendo o pão que o diabo amassou neste Brasil de
2018, resultado de politica econômica pró-recessão.
Os “mercados” e seus apoiadores na classe média alta, tem um perfil
de candidato desejado que atenda à sua visão de mundo e de Pais, mas
não conseguirão eleger seu candidato preferido sem os votos dos “pés de
chinelo”, cujo perfil de candidato não pode ser o mesmo dos “mercados”,
cujos valores estão na concentração e não na distribuição de renda,
trajetória que começa no Plano Real e segue até hoje.
Um candidato com a cara do “mercado”, por essa mesma circunstancia
NÃO tem apelo aos desempregados, subempregados e desalentados.
Nasce aí o potencial de um candidato “populista”, de apelo aos
excluídos, MAS que, por trás dos panos, atenda ao mercado. É desse
perfil que estão à procura.
Mas agora, está difícil de encontrá-lo. Lula foi um achado raro,
repeti-lo não vai ser fácil, o “populista” aceitável tem que ser uma
combinação de vários mundos, um candidato com apelo aos corações e
mentes e, ao mesmo tempo, com capacidade de governar um País em séria
crise econômica.
A DIREITA MIDIÁTICA
A chamada “grande imprensa” composta pelas Organizações Globo, Rede
Band, revista VEJA, jornais FOLHA e ESTADÃO, mais rádios popularescas
fascitóides, vocalizam o que o “mercado” e a classe média alta quer
ouvir, é o grupo que tem voz como sendo a sociedade, dando a impressão
de que representam uma corrente majoritária dos eleitores, o que é uma
irrealidade. Aquilo que a mídia chama de “a sociedade” ou “ a opinião
pública” na realidade é a classe media alta que bate panelas e fala com a
mídia. A periferia não faz parte desse público e desse mundo, sua voz
não alcança a grande imprensa.
Os eleitores “mal de vida” não têm veículos vocalizadores na grande imprensa e suas vozes estão apenas em algumas redes sociais.
Essa dicotomia é um reflexo de um País dividido. Enquanto a opinião
generalizada da mídia mostra um País na direita, as pesquisas eleitorais
mostram um País de miseráveis sem representação e com memória do
governo do PT. É uma grande fratura no quadro político de hoje.
As pesquisas eleitorais mostram que a soma das intenções de voto em
Lula, mais os votos nulos e brancos, mais os indecisos, são a MAIORIA do
eleitorado. Quer dizer, os NÃO votos são a maior parte da população, é a
moldura mais explicita possível da crise na Democracia brasileira, que
não encontra CANAIS DE REPRESENTAÇÃO.
A HISTÓRIA COMO GUIA
Uma situação de continuado mal-estar econômico que afeta o conjunto
majoritário da população, sem solução eleitoral visível, sem caminhos de
enfrentamento da carência material da maioria da população é prenuncio
de crise institucional permanente. Uma fratura no quadro eleitoral o
onde um grande contingente de eleitores não encontra candidato que
represente suas necessidades, é raiz de crise do regime, não é apenas
uma circunstância eleitoral, é uma doença político-social que virá à
tona.
A receita neoliberal NÃO tem capacidade para fazer o país se
desenvolver economicamente como caminho para enfrentar o desemprego e a
incerteza do futuro. Os candidatos que se apresentam com essa receita
desconhecem a história econômica. Depressão e recessão não têm soluções
de mercado. A solução exige intervenção do Estado. Foi assim na década
de 30 nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália e no Brasil, quando o
Estado resgatou a economia e não o mercado. O mesmo aconteceu em 2008
nos Estados Unidos, a última grande crise já neste século, resolvida
pelo Tesouro dos EUA.
Os candidatos do centro à direita apresentam não-soluções como
solução, como privatizações, ajustes e concessões. Nada disso vai criar
empregos, gerar recursos e resgatar a população do subemprego e do
desalento.
Números recentes apresentados pelo respeitado economista Marcelo
Neri, da Fundação Getúlio Vargas, mostram um inédito aumento de
condições de miserabilidade de grande parte da população brasileira.
O QUADRO DA CRISE
O grande quadro da crise brasileira é a péssima situação econômica da
maioria da população, são 13 milhões de desempregados, 14 milhões de
subempregados, 7 milhões de quem, tendo antes carteira assinada, não
está mais procurando emprego. Ao lado dos quais, há 40 milhões de
autônomos de baixa renda, que sobrevivem catando latinhas, vendendo
comida e refrigerantes nas portas de hospitais, carregando sacola em
feiras, camelôs, toda uma existência precária com errático acesso à
saúde, à educação e nenhum acesso à previdência social, um oceano de
miseráveis sem esperança de melhora à vista.
Em cima, e ainda pior, a falta de qualquer esperança de futuro para
os JOVENS pobres entre 14 e 24 anos, sem educação suficiente, sem a mais
remota possibilidade de emprego, são 22 milhões nessa condição. O que
será deles e do País que os abriga? Estamos falando da nova geração.
É um quadro dantesco, amenizado sob os governos do PT e que volta a
agudizar-se com governos nem remotamente preocupados e preparados para
enfrentar esse quadro desolador, cuja bússola é o “investidor
estrangeiro”, personagem que em nenhuma etapa de qualquer economia foi
central para o desenvolvimento, nem na economia americana no final do
Século XIX, nem nos grandes avanços da economia brasileira das décadas
de 30 e 50, momentos em que foram os brasileiros que fizeram a
arrancada.
Quando os EUA se projetaram para o centro da economia mundial, foi
com suas próprias forças que deram o salto, não com o “investidor
estrangeiro”, um conto do vigário empinado pela mídia mais ignorante da
História brasileira, o personagem tem importância secundária mas o mito
que ele representa passou a ser o eixo da politica econômica neoliberal.
Ao mesmo tempo que revela um imenso passivo social, essa população é
um tesouro de esperança, de disposição para aproveitar oportunidades, de
criatividade e capacidade de sobrevivência, nas mais duras condições,
um imenso ativo para se abrirem as portas de uma politica social
inclusiva e, mais do que tudo, de crescimento econômico, com uma visão
de País, de sua inserção global e de seu papel único no contexto mundial
de hoje, o Brasil tem tudo para dar certo, só não tem governo.
O Brasil é muito mais que uma reles plataforma de mercado financeiro,
é um País ÚNICO na geopolítica mundial, maior nação multicultural e
multiétnica do planeta, maior país católico, maior país do Hemisfério
Sul, único dos BRIC que é do mundo ocidental, uma ponte entre o mundo
desenvolvido e o mundo emergente, único herdeiro da cultura milenar,
politica civilizatória e humanística dos grandes impérios europeus por
ter sido Reino e Império ao contrário de todos os demais países das
Américas, repúblicas caudilhescas desde a sua existência como nações.
Brasil e EUA são países de construção especial e específica, o Brasil
com um Imperador ao mesmo tempo Bourbon, Orleans e Habsburgo, eixos
centrais da História européia, o “pedigree” do Brasil é
incomparavelmente superior a todas as demais repúblicas das Américas sob
o ponto de vista histórico e civilizatório.
Ao mesmo tempo, foi o Brasil o maior receptor de sangue africano, de
imigração italiana, árabe e japonesa em todo o mundo, características
que fazem do Brasil um País como nenhum outro.
AS CONDIÇÕES PRÉ REVOLUCIONÁRIAS
O não atendimento e pior que isso, nenhuma janela de esperança de
futuro para esse população de 170 ou 180 milhões de brasileiros em má
situação econômica e social, gera condições similares na História com
crises de implosão social aguda, erupções que ocorreram em nossa era, a
Revolução mexicana de 1910, a Russa de 1917, a Fascista italiana de
1923, a Chinesa de 1949, a Cubana de 1959, é um quadro
pré-revolucionário.
Contextos dessa magnitude não ficam estacionados na porta da História
como um vulcão adormecido, as caldeiras estão por baixo fervendo, a
erupção é previsível, o Brasil nunca foi um País pacifico, é tão
violento como qualquer outro da Era Contemporânea, basta surgir a
condição.
O FATOR ESPERANÇA
Um povo pode suportar terríveis condições de vida se houver ESPERANÇA
de futuro, mas sem esta não suportará por tempo infinito a miséria.
Devolver a esperança de tempos melhores é a FUNDAMENTAL tarefa de um
novo Presidente. Nenhum medíocre poderá chegar perto desse objetivo e
muito menos um candidato associado aos “mercados”.
O FATOR LIDERANÇA
Um LIDER é fundamental para a tarefa de trazer esperança e agir para
trazer de volta o desenvolvimento. Um exemplo histórico foi Juscelino
Kubstcheck, sua liderança começa do zero, um programa de desenvolvimento
que conseguiu realizar em cinco anos, SEM RECURSOS, inaugurando um
período de 30 anos nos quais o Brasil foi o País que mais cresceu no
mundo. JK criou os recursos internamente imprimindo moeda e direcionando
essa fonte de financiamento para 30 metas e mais a meta síntese de
Brasília. Usou os recursos físicos do próprio Brasil e realizou um
governo de sucesso politico, social e econômico. Além disso, projetou o
Brasil no mundo, por sua iniciativa foi criada a Operação Pan Americana,
a Aliança pelo Progresso e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Colocou o Brasil no tipo do prestigio internacional, feito só
igualado antes pelo governo Vargas entre 1940 e 1945 e depois pelo
governo Lula entre 2003 e 2006, períodos esses em que o Brasil estava em
evidência e gozava de prestigio e protagonismo internacional, estando
hoje no seu ponto mais baixo dos últimos 100 anos.
AS ELEIÇÕES E O DEPOIS
Um cenário eleitoral onde o candidato com mais intenções de voto está
preso por um processo claramente fabricado para esse objetivo prenuncia
um ambiente fraturado durante e depois da eleições.
A legitimidade do vencedor será sempre contaminada pela
disfuncionalidade da escolha com a eliminação forçada daquele que seria o
preferido. Na História esses desdobramentos abrem uma crise politica
que pode se classificar de CRISE DE LEGITIMIDADE da eleição.
Em 1930 Júlio Prestes foi vencedor oficial da eleição, foi proclamado
Presidente, mas sua legitimidade foi contestada porque a eleição não
era verdadeira apesar de legal e a Revolução de 1930 foi o resultado.
A capacidade de governar vai ser posta a prova por causa da fratura
do processo eleitoral, artificialmente alterado por manipulação clara.
A SOLUÇÃO NÃO IDEOLOGICA – COMBINAÇÃO ESTADO + MERCADO
A crise brasileira de natureza econômica, financeira , social e
politica não se resolverá por um caminho puramente ideológico ou
partidário.
Os grandes processos de construção de Estado recorrem a instrumentos
de intervenção rápidos a partir da capacidade incomparável do Estado,
mas precisam também dos recursos de econômicos e operacionais de
mercado, há espaço para os dois mecanismos, soma-se a ação do Estado com
a capacidade já pronta das empresas produtoras de bens e serviços que
em conjunto com o Estado vão ativar os imensos recursos materiais
ociosos do Pais, paralisados por modelos sectários como “meta de
inflação” e outros amarras que sufocam o País.
Crise de legitimidade do Estado sofreu a França em 1958, a Quarta
República entrou em colapso de representação e foi salva pelo prestigio
do General De Gaulle, que encerrou o regime falido e criou um novo, a
Quinta República que restaurou a grandeza da França e vige até hoje.
No processo de desenvolvimento dos EUA somou-se a fundamental ação do
Estado ao dinamismo da economia de mercado. No processo de reversão da
Grande Depressão dos anos 30 a ação do Estado foi insubstituível, o New
Deal foi o instrumento do Estado que promoveu a criação imediata de 6
milhões de empregos para obras públicas e por um banco especial para
financiar a economia, a Reconstruction Finance Corp., que salvou
milhares de empresas e bancos. Em 2008 foi o programa TARP, que despejou
800 bilhões de dólares do Tesouro em bancos e grandes companhias, ação
que evitou uma gigantesca crise criada pelo financismo que nunca teve
nada de racional como método de politica econômica.
É a soma do Estado com a economia de mercado que fara o Brasil
crescer e gerar inclusão social. Não há ideologia única nessa grande
missão, é um processo histórico de somar forças a partir de liderança.
Qual o candidato que terá a capacidade para essa tarefa?
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