O Observatório da Intervenção foi criado com o objetivo de acompanhar cotidianamente e publicizar os desdobramentos da intervenção federal no Rio de Janeiro.
Para isso, acompanhamos diariamente cinco jornais impressos, dez
portais de notícias e jornais online, sites de mídia independente,
documentos oficiais, páginas de Facebook e perfis do Twitter. Além
disso, contamos com um conselho formado por midiativistas e lideranças
de favelas e com a colaboração de três iniciativas da sociedade civil
que buscam sistematizar dados de violência e violações de direitos, além
de outras instituições parceiras.
Ainda assim, a extensão da nossa lista de fontes não é suficiente para que tenhamos um panorama completo das ações do Gabinete da Intervenção
e de todos os órgãos de segurança pública do Estado. Nosso banco de
dados mais se assemelha a um queijo suíço, com lacunas no lugar de
informações que simplesmente não encontramos em lugar nenhum. As
informações ausentes formam um padrão: normalmente, estão relacionadas
ao efetivo das forças de segurança empregados em cada operação; ao tipo
de prisões realizadas, se ocorridas através de um mandado de prisão ou
em flagrante; às motivações para cada prisão; e, por fim, à quantidade
de drogas, armas e outros materiais apreendidos.
Essas são informações essenciais para a descrição das ações policiais
e seu registro é tarefa cotidiana das forças de segurança. No entanto,
por algum motivo, frequentemente estão ausentes na cobertura de
diferentes mídias. A análise dos vazios do nosso banco de dados
mostra que nem mesmo os grandes jornais conseguem apresentar um relato
completo dos acontecimentos da intervenção no dia a dia. Mais do que uma
limitação de nosso banco de dados, a ausência de informações básicas
nos meios de comunicação é um elemento relevante para guiar nossa
análise sobre o rumo político da intervenção.
Até o momento, entre 16 de fevereiro e 30 de junho, contamos 465
vezes em que uma informação sobre operações não foi encontrada no nosso
processo diário de acompanhamento das mídias. O número do efetivo das
forças de segurança empregadas nas operações foi o dado mais ausente nas
fontes que analisamos (240 vezes), enquanto que dados sobre as prisões
efetuadas nas operações monitoradas estiveram ausentes em 110 casos.
É importante notar que este quadro de ausência de informações
essenciais tem se agravado nas páginas dos jornais e sites, onde
registros incompletos passaram a ser cada vez mais comuns. A ocorrência
de lacunas cresceu mês a mês, seguindo o aumento do número de operações.
Esse cenário modificou-se em junho, quando o número de operações
apresentou uma ligeira queda, enquanto o número de ausências de
informação foi 33% maior do que o do mês anterior. Se, em março,
registramos apenas 25 casos em que havia insuficiência de informações,
em junho foram registrados 203 casos. Esse aumento expressivo nos faz
cogitar se existe uma política de restrição à informação por parte das
autoridades que teriam por dever prestar contas de suas ações à
sociedade.
Mesmo os repórteres de diferentes veículos tem registrado diversas
vezes a ausência de resposta do Gabinete da Intervenção e outras
autoridades às perguntas encaminhadas. Não raro, é possível encontrar no
final de matérias frases semelhantes a: “Procurada, a assessoria do
Gabinete de Intervenção não respondeu a solicitação”. Como exemplo,
registramos os casos de O Globo , UOL, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Neste contexto, é relevante lembrar que no dia 13 de junho, durante
evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro, o Interventor Federal pediu que as câmeras de TV e as máquinas fotográficas fossem desligadas
durante a sua apresentação dos dados de criminalidade. Tratar a
segurança pública como assunto sigiloso é afastar a imprensa e,
consequentemente, os cidadãos do debate sobre uma das áreas da vida
social que mais aflige e preocupa a população. Atitudes como essa
confirmam um contexto de ausência de informações e nos parecem
incompatíveis com os princípios democráticos estabelecidos na
Constituição. Alguém precisa avisar ao general que os tempos mudaram.
Pablo Nunes é coordenador de pesquisa do Observatório da Intervenção e doutorando em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Pedro Paulo dos Santos da Silva é pesquisador do Observatório da Intervenção e graduando em Relações Internacionais pela PUC-RJ.
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