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segunda-feira, 25 de março de 2019

A Lava-Jato virou moeda de troca para aprovar projetos do governo no Congresso?, por Cynara Menezes


Ou você aprova o que eu quero ou eu te prendo: se Maia tivesse feito o que Moro queria, seu sogro teria sido preso?
Rodrigo Maia comemorando a reeleição para a presidência da Câmara. Foto: Lula Marques
Cynara Menezes
23 de março de 2019, 09h21
Ou você aprova o que eu quero ou eu te prendo: terá a Lava-Jato se transformado em moeda de troca para a aprovação de projetos do governo no Congresso? É o que o país quer saber após assistir aos fatos desta semana.
Vamos recapitular: desde fevereiro, Sérgio Moro vinha cobrando Rodrigo Maia para que agilizasse a votação de seu “pacote anticrime”, mas o presidente da Câmara insistia em que o projeto do ministro da Justiça só será votado após a reforma da Previdência. A “bancada da bala”, apoiadora de Moro, também participava da pressão sobre Maia.
Mas Maia não gostou que Moro estivesse se comportando como presidente da República e, na quarta-feira desta semana, tratou de colocar o ministro em seu devido lugar. “O funcionário do presidente Bolsonaro? Ele conversa com o presidente Bolsonaro e, se o presidente quiser, conversa comigo”, disse o presidente da Câmara. “Eu acho que ele conhece pouco política. Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro funcionário do presidente Bolsonaro. Então o presidente Bolsonaro tem que dialogar comigo. Ele não é presidente da República, não foi eleito para isso.”
Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro funcionário do 
presidente Bolsonaro. Então o presidente Bolsonaro tem que dialogar 
comigo. Ele não é presidente da República, não foi eleito para isso
Para piorar as coisas, Rodrigo Maia ainda criticou o projeto de Moro, acusando o ministro de ter copiado alguns trechos de proposta anterior para a segurança pública feita pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes –projeto, aliás, que Maia defende, desde o princípio, que seja apensado ao projeto de Moro, por tratar de temas semelhantes. “Ele está copiando o projeto direto do ministro. É um copia e cola, não tem nenhuma novidade, poucas novidades no projeto dele”, disse.
Moro subiu nas tamancas e soltou uma nota que é praticamente uma passada de recibo na acusação de plágio, dizendo que seu projeto é “inovador”. “Sobre as declarações do presidente da Câmara Rodrigo Maia, esclareço que apresentei, em nome do governo do presidente Jair Bolsonaro, um projeto de lei inovador e amplo contra crime organizado, contra crimes violentos e corrupção, flagelos contra o povo brasileiro”, diz a nota de Moro. “A única expectativa que tenho, atendendo aos anseios da sociedade contra o crime, é que o projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso Nacional com a urgência que o caso requer. Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais. Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o Presidente da Câmara, esperando eu que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs. Não por questões pessoais, mas por respeito ao cargo e ao amplo desejo do povo brasileiro de viver em um país menos corrupto e mais seguro. Que Deus abençoe essa grande nação.”
Na quinta-feira, vazou a informação de que Maia havia indicado Marcelo Freixo, crítico do projeto de Moro, para compor a comissão que irá analisá-lo.
No mesmo dia, o juiz Marcelo Brêtas, aliado de Moro, autorizou a prisão preventiva do ex-presidente golpista Michel Temer, do coronel João Baptista Lima Filho e… do ex-ministro Moreira Franco, casado com a sogra de Rodrigo Maia, ou seja, sogro por consideração do presidente da Câmara. É fato que ambos, Moreira e Temer, são acusados há anos de envolvimento em corrupção, mas nenhum dos dois foi julgado nem mesmo em primeira instância. Por que a prisão saiu neste momento? Coincidência?
Para o país, a pergunta que fica é: se Maia tivesse feito o que Moro queria, Moreira Franco teria sido preso?

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