A pergunta que a sociedade brasileira se faz nas redes sociais, na grande imprensa nacional e internacional é – quem mandou matar Marielle e porque a matou?
Após a revelação das identidades dos assassinos da vereadora
Marielle Franco (PSOL-RJ) a frase que Jean Wyllys (PSOL-RJ) repetiu
diversas vezes em Portugal se torna cada vez mais importante. A pergunta
que a sociedade brasileira se faz nas redes sociais, na grande imprensa
nacional e internacional é – quem mandou matar Marielle e porque a
matou?
Vamos aos indícios. Ronnie Lessa, sargento reformado da
Polícia Militar, que de acordo com a polícia, é o autor dos 13 tiros que
assassinaram Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018, foi
preso em sua casa em um luxuoso condomínio na Avenida Lúcio Costa, Barra
da Tijuca, Rio de Janeiro, na madrugada de 12 de março último. O local é
o mesmo onde morou Jair Bolsonaro. Ronnie Lessa, além da casa no mesmo
condomínio de Bolsonaro, é proprietário de uma mansão – e uma lancha –
no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis.
O
outro criminoso, que dirigiu o carro, Élcio Vieira de Queiroz, aparece
com Bolsonaro em foto publicada por ele no Facebook. Élcio foi expulso
da PM em 2016, depois de preso, em 2011, na Operação Guilhotina, da
Polícia Federal, que investigou o envolvimento de policiais militares
com o tráfico de drogas e com as milícias. Mas o assunto não se limita à
vizinhança.
Apareceu também o primeiro vínculo concreto entre a
família de Jair Bolsonaro e a de Ronnie Lessa: um dos filhos de
Bolsonaro namorou a filha de Lessa. O fato foi confirmado pelo delegado
responsável pela Divisão de Homicídios da capital fluminense, Giniton
Lages, durante a entrevista coletiva sobre a prisão do PM reformado
Lessa e do outro assassino, o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz. Visto que
Bolsonaro e Lessa moram no mesmo condomínio na Barra da Tijuca, no Rio,
pergunta-se que tipo de relação se estabeleceu entre as duas famílias já
que seus filhos mantinham relações intimas.
Em matéria publicada em março na revista Piauí,
são apontados outros indícios mais antigos da ligação do clã Bolsonaro
com as milícias, como as menções honrosas propostas em 2003 pelo
deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro ao major Adriano Nóbrega, que é apontado como um dos líderes do
Escritório do Crime. Nóbrega havia sido apresentado a Flávio por um
antigo colega do Bope, Fabrício Queiroz – o ex-assessor do filho de Jair
Bolsonaro que está no centro do escândalo envolvendo repasses suspeitos
de dinheiro para Flávio na Alerj. Em 2005, Nóbrega ganhou outra
homenagem, também promovida por Flávio: a Medalha Tiradentes, a mais
alta honraria da Alerj.
Um ano depois da morte de Marielle, as
investigações chegaram aos dois assassinos, mas a questão central ainda
não foi desvendada – o mandante do crime. Há uma tendência de dar uma
conotação de ódio às investigações da execução da vereadora, excluindo
os aspectos políticos. Segundo o deputado federal Marcelo Freixo
(PSOL-RJ), falar em crime de ódio é inaceitável, não faz o menor
sentido, pois o crime é político. Segundo Freixo “é preciso mostrar quem
é o grupo político interessado na morte de Marielle. Será uma mera
coincidência que o executor de Marielle seja vizinho de Jair Bolsonaro
no condomínio da Barra da Tijuca? Por isso é fundamental sabermos qual
grupo político é capaz de, em pleno século XXI, mandar eliminar uma
autoridade pública que tenha cruzado seu caminho. Precisamos descobrir
quem são os mandantes da execução de Marielle Franco. As prisões dos
executores de Marielle e Anderson são importantes e tardias. É
inaceitável que se demore um ano para termos alguma resposta. É um passo
decisivo, mas o caso não está resolvido. É fundamental saber quem
mandou matar e qual a motivação”.
Para Guilherme Boulos (PSOL-SP),
“as prisões de hoje são um passo importante para saber quem matou
Marielle e Anderson. É preciso investigar se o fato de um dos presos ser
vizinho de Bolsonaro é coincidência ou não. De todo modo, segue a
questão: quem mandou matar Marielle?”. Neste contexto, o exílio de Jean
Wyllys e da ex-candidata a governadora do Rio de Janeiro, Marcia Tiburi
(PT-RJ), se enquadram nas mesmas motivações do assassinato de Marielle.
Ambos sofreram violentas ameaças após a eleição de Bolsonaro. Diante
deste quadro tornou-se extremamente perigoso continuarem morando no
Brasil.
A perda do Estado Democrático de Direito no Brasil vem se
agravando desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e a prisão
ilegal de Lula, líder nas pesquisas nas eleições de 2018. Marcia Tiburi
afirmou em recente entrevista em Pittsburgh, Estados Unidos, que as
graves violações dos direitos humanos vêm se agravando intensamente no
país. A eleição de Bolsonaro teve consequências na impossibilidade de
vários ativistas políticos continuarem a viver no Brasil. Tiburi
acrescentou que “o papel da denúncia internacional se tornou relevante.
Muita gente que está fora do Brasil não sabe o que está acontecendo e
nós temos que falar. E eu vou começar”.
Jean Wyllys começou na
Alemanha a denunciar a grave situação política brasileira. Ele fez sua
primeira aparição no Festival de Cinema de Berlim e, de lá, veio para
Portugal. A convite do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade
de Coimbra, dirigido pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos, foi
recebido por centenas de estudantes, intelectuais e artistas e vários
coletivos de movimentos sociais. Participou do seminário “Discurso de
ódio e fake news de extrema-direita e seus impactos nos modos de vida das minorias sociais, étnicas e religiosas”, em 26 de fevereiro de 2019.
Mesmo
sendo recebido com muito respeito por um grande e caloroso público,
ocorreu uma tentativa isolada de um militante de extrema-direita que
tentou lhe atingir com ovos, mas foi impedido prontamente por um
segurança. No dia 27, em Lisboa, Wyllys foi ao Parlamento português a
convite de José Manuel Pureza, vice-presidente da casa e deputado do
Bloco de Esquerda, sempre acompanhado pela deputada Joana Mortágua, do
mesmo partido. Os Jornalistas Livres tiveram acesso exclusivo a essas atividades.
No
Parlamento foram realizadas três atividades consecutivas. A primeira
foi o encontro com o vice-presidente da instituição. A segunda foi a
reunião com deputados de diversos partidos políticos da Assembleia da
Republica. A terceira foi uma entrevista coletiva à imprensa
portuguesa.
Após a sua visita ao Parlamento, Wyllys participou de
uma mesa na Casa do Alentejo, ao lado do sociólogo Boaventura de Souza
Santos e de Pilar del Rio, presidenta da Fundação Saramago e viúva do
escritor.
Novamente ele foi recebido calorosamente por um público
emocionado de brasileiros e portugueses, composto por estudantes,
intelectuais, artistas, jornalistas e parlamentares. Após sua exposição e
participação em debate com a plateia, Wyllys fez uma homenagem a Lula.
Levantou um cartaz com a foto do ex-presidente e gritou Lula Livre!, o
que foi correspondido com muita energia por todos os presentes.
As
palavras de Wyllys que ecoaram na Universidade de Coimbra, no
Parlamento português e na Casa do Alentejo, em Lisboa, revelam sua
intuição política, que se torna cada vez mais próxima da realidade:
“Marielle vai derrubar Bolsonaro”.
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