Donos do banco receberão em dois anos R$ 26,6 bilhões; Bolsa Família pagou R$ 29 bi em 2017
Após
distribuir R$ 17,6 bilhões (70,6%) do lucro recorde de R$ 24,87 bilhões
em 2017, às famílias dos controladores do ItaúUnibanco, levando em
conta o lucro de R$ 6,42 bilhões do primeiro trimestre, os donos do
banco poderão receber até R$ 9 bilhões este ano. O Conselho de
Administração aprovou em 2017 a distribuição mínima de 35% do lucro aos
controladores. Mantido o ritmo de lucro nos próximos três trimestres, o
ganho do banco em 2018 atingiria R$ 25,7 bilhões, permitindo
distribuição mínima de R$ 9 bilhões. Em 2017, o Bolsa Família gastou R$
29 bilhões com 13 milhões de famílias.
O lucro distribuído do ano
passado às famílias Moreira Salles (os irmãos Pedro, Walter, João e
Fernando) foi de R$ 9,1 bilhões. Às famílias Setúbal (Roberto Setúbal e
Maria Alice Neca Setúbal) e Villela (Milu Villela) coube,
respectivamente, R$ 1,72 bilhão e R$ 3,25 bilhões a cada membro do clã. O
ganho referente a 2017 foi excepcional, com aumento de 75,6% sobre
2016. 2018, o pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) isentos de
tributação, o payout (dividendos de 69% + JCP), incluindo os 11,2% de
recompra de ações, chegou a 80,2%.
Mesmo na recessão que atingiu o país em 2105, os ganhos dos Itaú têm tido crescimento exponencial desde a fusão com o Unibanco, em 2009, que o transformou no maior banco privado do país, desbancando o Bradesco, e disputando com o Banco do Brasil a liderança do sistema em ativos e em administração de recursos (ainda com o BB, graças à Previ, o fundo de pensão de seus funcionários).
Nos últimos cinco anos, o montante
de dividendos distribuídos pelo ItaúUnibanco alcançou R$ 46,6 bilhões,
benefi ciando sobretudo os acionistas controladores. O Itaú superou a
Ambev como maior distribuidor de dividendos no país. Os altos lucros e
os juros sobre capital próprio (JCP), distribuídos sem tributação, são
alvo de propostas da Receita Federal, mas os bancos e grandes empresas
reagem fortemente à investida, mobilizando bancadas no Congresso.
A
fusão entre Itaú e Unibanco foi alvo de autuação da Secretaria da
Receita Federal em 2012, com cobrança de R$ 11,847 bilhões em Imposto de
Renda e R$ 6,867 bilhões em Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Atualizada, a multa iria a R$ 26 bilhões. Mas o banco conseguiu vencer
no julgamento do recurso no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(CARF), em abril de 2017. Livre do encargo (ainda objeto de recurso da
Fazenda Nacional) o Conselho de Administração decidiu pela farta
distribuição de dividendos acumulados.
Mas chama a atenção entre
os analistas do mercado financeiro a decisão do Conselho de
Administração. Uma das interpretações é de que com a queda da demanda de
empréstimos pelas grandes empresas (muitas delas atoladas em dívidas e
com baixo faturamento desde que foram atingidas pelas investigações da
Lava-Jato), os bancos não precisam elevar o capital para alavancar
empréstimos. De fato, a trajetória do ItaúUnibanco mostra concentração
nas operações do “Banco do Varejo”, que cresceu 5,7% contra o primeiro
trimestre de 2017, e registrou aumento de 14,7% no lucro líquido no
período (graças aos ganhos em cartões de crédito, empréstimos
imobiliários e tarifas sobre cartões e contas correntes) e uma redução
de R$ 36 milhões no lucro líquido do “Banco de Atacado” no primeiro
trimestre, com a diminuição de 8,3% na carteira das grandes empresas.
Acredita-se no mercado que o Itaú vá aproveitar a liberação do
compulsório em 1º de julho (R$ 25,7 bilhões no sistema) para renegociar
créditos em atraso. Os demais devem fazer o mesmo, sem gerar empréstimos
novos.
Até onde dura o casamento?
Analistas mais
atilados enxergam em movimentos recentes das holdings familiares do
Itaú (que tem na Itaúsa o principal veículo de investimento) e do
Unibanco (que tem a Cambuhy como maior investidora fora do sistema
financeiro) uma tendência à redução de capital no sistema financeiro
cuja concentração levou à hipertrofia do sistema, com excesso de
endividamento cruzado entre as empresas e os bancos.
A compra, em conjunto da Alpargatas (vendida pelo grupo J&F, dos irmãos Batista) foi o primeiro movimento. Os dois parceiros também mostraram apetite em assumir posições na BR, cujo capital a Petrobras pretende pulverizar. Por enquanto, os bancos são o melhor negócio no Brasil, com spreads abusivos. Mas os ganhos são tão exagerados, em meio à recessão e ao desemprego, que podem ser alvos de propostas de tributação mais pesada sobre os JCP e na própria atividade. Neste sentido, a escalada da distribuição seria uma saída estratégica, principalmente da parte dos irmãos Moreira Salles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário