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segunda-feira, 7 de maio de 2018

Pobres de direita, o novo mercado eleitoral, por André Araujo


Por André Araújo
Olavo Egydio de Sousa Aranha Setubal e Walter Moreira Salles foram dois dos maiores banqueiros do Brasil moderno. Setubal era nobre pelos três lados, berço, cultura e dinheiro, da família do Barão de Sousa Aranha, descendente da Viscondessa de Campinas, do Visconde de Indaiatuba, do Marques de Três Rios, do Marques de Valença, do Barão de Limeira, do Senador Vergeurio, importante politico do Império. Olavo Setubal era filho do escritor Paulo Setubal, prestigiado intelectual brasileiro.
Walter Moreira Salles foi casado com duas das mulheres colocadas entre as Dez Mais Elegantes das listas famosas dos colunistas sociais do Brasil e de Paris, a francesa Helene Tourtois e a mineira Elisinha Gonçalves, sua segunda esposa e mãe dos cineastas Walter e João Moreira Salles. Mulher politizada que visitou a China de Mao Tse Tung em plena Revolução Cultural, coisa que poucos ocidentais fariam àquele tempo. Elisinha tinha um lado cultural que seria considerado hoje “de esquerda” embora se vestisse com Hubert de Givenchy, o maior nome da alta costura dos anos 50 e 60.
Walter Moreira Salles era um homem do mundo, cultivado, discreto, o oposto do novo rico. Embaixador do Brasil em Washington, o cargo diplomático número um do Brasil, não era um intelectual mas gostava das artes e de cultura, tinha um espectro politico eclético, tanto que foi Ministro da Fazenda de Jango, visto como Presidente de esquerda, algo impensável para um direitista fanático como os de hoje. Moreira Salles pensava sempre no Brasil e não tinha maior problema com ideologias, transitava bem nos EUA com Democratas e Republicanos, típico da refinada politica mineira que opera em qualquer latitude sem perder a fleugma e o o “fair play”.
Deixou belo legado cultural, a sua famosa casa na Gávea é hoje um Instituto de arte e bom gosto, e raridade em um banqueiro desse porte, dois filhos cineastas e não banqueiros.
Esse introito é para dar um pano de fundo da politica de hoje. Se os Setubal e os Moreira Salles partissem para a defesa ideológica do capitalismo brasileiro nada seria mais natural, estariam defendendo sua tradição e seu capital de bilhões de dólares cuja maior parte está no Brasil.
É da natureza das coisas que os bilionários defendam seu capital, as famosas “duzentas famílias de França”, os Wendel, os Schneider, os Renault, aceitaram os alemães nazistas em 1940 para proteger seu capital histórico atacado pelo Front Populaire, o PT da época.
Tudo estaria na lógica social e histórica. O que não se entende porque gente que não tem capital em risco, a classe média remediada, apenas para ficar em um segmento, com notórias dificuldades para educar bem suas crianças, pagar seu plano de saúde, arrumar emprego razoável para o filho que sai da faculdade, é difícil entender porque tantos cidadãos que estão do lado errado do muro da riqueza preferem candidatos que são a infantaria do capitalismo agressivo, do capitalismo financeiro rentista.
Por toda a lógica esses eleitores deveriam estar do lado progressista do muro e não do lado da direita defensora do “status quo”, o que inclui o domínio dos bancos sobre a economia brasileira, a aliança da mídia conservadora com as corporações dos salários acima do teto, toda uma gama de interesses que NÃO estão do lado do povo e sim de privilégios consolidados dos que não querem abrir mão.
A direita não está ao lado dos 180 milhões de brasileiros que estão fora da boa vida. O campo da direita trata primordialmente da proteção dos interesses dos 30 milhões de brasileiros razoavelmente bem de vida e não está nem aí para os que sofrem nas favelas, nos cortiços, no desemprego dos chefes de família e dos jovens, na marginalidade, na carência de moradias com um mínimo de dignidade. A DIREITA CUIDA DE SI e não do povo, é assim historicamente.
Como então pessoas remediadas votam nos seus algozes, naqueles que tiram proveito do “status quo” econômico ou dos bons e garantidos empregos das corporações, isentos de qualquer risco de recessão, desastre econômico, quebra de empresas, desmanche da indústria, paralisação de obras públicas e todos os riscos a que os remediados estão sujeitos?
O POBRE que vota na Direita é um dos grandes mistérios da atual politica brasileira

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