seg, 20/08/2018 - 08:31
Atualizado em 20/08/2018 - 08:32
A sorte do Brasil é que seu grande líder é um gênio pacifista
por Armando Rodrigues Coelho Neto
Em recente pesquisa, o IBGE divulgou os seguintes dados: no Brasil do
golpe, os desempregados já somam treze milhões. Mais de quatro milhões
desse universo se compõe de jovens entre 18 e 24 anos. Já falta trabalho
para nada menos que um quarto dos brasileiros em idade de trabalhar.
Para uma população extremamente carente, as notícias ruins não param de
chegar: cortes em programas sociais como o "Minha Casa, Minha Vida" e
"Farmácia Popular", neutralização de direitos sociais, destruição da
estrutura de financiamento dos sindicatos, acesso dificultado à Justiça
do Trabalho. Se na economia, o humilde não tem vez, melhor sorte não
assiste ao povo brasileiro no âmbito da política (que passou a incluir
os tribunais).
O impeachment foi farsa, o processo, condenação e prisão do
ex-Presidente Lula são farsas e, como corolário natural dessa anomalia, a
esperada eleição é uma farsa. É tudo parte daquilo que na Ciência do
Direito trata por iter criminis. Esclarecendo: o conjunto de atos
praticado por criminosos para atingir o ato final - consumação e
exaurimento de um delito. Também no direito, a participação de várias
pessoas com ações específicas que concorrem para o crime e seu resultado
recebe o nome de quadrilha. Na legislação específica recebe o nome de
Crime Organizado.
Já o disse neste espaço que o país esteve e está aparelhado ao
contrário, não pela esquerda como diziam. A máquina oficial é
instrumentalizada para tornar o que é público em privado. Por essa
razão, a presidenta Dilma Rousseff tinha que ser derrubada e Lula ser
preso. Presumo a existências de pessoas bem intencionadas no aparelho
estatal e que existam pessoas errando tentando acertar, seja na Polícia
Federal ou outros órgãos. Conheço gente de bem (não de bens) que por
ignorância ou boa fé, ajudaram no golpe. Em cada braço oficial do Estado
havia e há um ou mais delinquentes agindo para assegurar o crime. São
braços do crime dentro da PF, RF, MPF, JF, STF, Exército, etc para
garantir os interesses das elites. Afinal, o fantasma do comunismo
precisa ser combatido, nem que isso custe a miséria do brasileiro e a
perda da soberania.
Obviamente, o mercado e suas vozes midiáticas - cuja maior referência
popular é a organização criminosa TV Globo, cumprem papel anestesiante
na população. Como num truque de mágico, a mídia chama a atenção para a
mão esquerda, enquanto a mágica se materializa com a mão direita. É um
conluio de mãos.
Na consumação do crime contra o Brasil, vivemos uma farsa eleitoral. O
STF (homenageado em bordel) age para manter inutilmente a aparência da
legalidade, mesmo pisoteando a Constituição Federal todos os dias. Para
fazer média com a comunidade internacional é preciso fingir eleição e,
sobre isso, neste final de semana houve um encontro de comadres
promovido pela Rede TV/Istoé e colaboradores. Parecia piada. Não dava
pra perceber quem falava com quem. As frases feitas se destinavam ao
povão, que, aliás, tinha coisa mais importante para fazer do que
assistir o tal circo. As frases sofisticadas (Ciro Gomes, Alckmin,
Meireles, Alvaro Dias) eram ensimesmadas e ou voltadas para mostrar
“conhecimento” para jornalistas.
Para uma sociedade que pretende ser plural, faltou muito. Foi mais do
mesmo se apresentando como novo. As mesmas faces da elite tentando
mostrar picuinhas circunstanciais, na base da generalidade em 30, 45
segundo. À exceção de Boulos, as várias faces de uma sociedade falida:
Marina Silva, a lesma verde, a serviço da elite para criar segundo turno
em eleições. O bolsopata e seu congênere Cabo Fulano de Tal eram duas
pessoas numa só. Alckmin, o gigolô de obras alheias, tentava se descolar
do golpe e minimizar sua aliança com a gangue do centrão. Mas, trocou
figurinha com Ciro Gomes (o menos asqueroso) que, sem espaço, não
conseguia dizer a que veio, exceto vomitar números incompreensíveis pelo
grande público. Álvaro Dias (do partido Farsa Jato) era o símbolo do
leprosário curitibano, tentando encarnar seu pretenso futuro ministro da
Justiça Sejumoro.
Mas, lá esteve a cadeira vazia do Lula, logo retirada por ordem do
bolsopata, sob protestos de Boulos. A ausência de Lula virou símbolo de
indiferença do Brasil à Organização das Nações Unidas, que recomenda
respeito aos direitos do candidato sequestrado. Se o STF não cumpre a
Constituição Federal - que é taxativa, impositiva, irretorquível e
inexorável, por que atenderia uma recomendação civilizada da ONU? Para
as duas primeiras damas, a do bordel supremo e a da Fogueira da
Inquisição, seguir a ONU é se apequenar. A ONU vê prejuízo iminente e
irreparável e já deu sua liminar. Mas, no Brasil de juizecos,
delegadinhos, desembargadores e ministros medíocres, vigem os embargos
de conluio auriculares. Numa republiqueta na qual telefonemas
presidenciais são ilegalmente divulgados, as coisas se decidem por
telefonema, até por juiz fora do ofício.
O debate da Rede TV aconteceu num país no qual as instituições, em
conluio, içaram ao poder uma quadrilha e com ela convive. Mas, para meu
colega delegado da PF que subia em palanque pró-golpe, contra a
corrupção, “o pior já passou” (Ah, tá!). O crime organizado no Brasil
cansou de brincar de democracia, tomou o poder na mão grande e não vai
devolver no voto. Vai ter fraude dentro da fraude para garantir a
desgraça do povão e a venda do Brasil na bacia das almas.
O tal debate, símbolo da mediocridade e da farsa democrática é prova
inconteste de que tudo foi mexido para ficar como está: com o crime
organizado no poder. Para tanto é preciso demonizar o PT e ter um preso
político – com ficha suja fabricada (Lula). Retrato de um Brasil do
judiciário corrupto e Forças Armadas covardes - que batem continência
para um canalha.
Os pequenos avanços do Brasil sucumbiram. O golpe substituiu a tênue e
incipiente tentativa de crescimento econômico com justiça social; idem a
democracia. Aliás, um golpe mal feito e mal conduzido, que já virou
fiasco e piada mundial, desastre econômico e institucional. Em meio a
esse caos nutrido pelo desejo de vingança social perpetrada pela "elite
do atraso" contra a maioria do povo brasileiro - ao qual não se
reservam senão cortes em direitos sociais, violência estatal e cassação
de sua intenção eleitoral - pergunta-se: por que esse caldeirão ainda
não explodiu? Por que o crime contra a pátria segue a todo vapor? Por
que ainda não estourou a baderna ou não começou a revolução?
A resposta veio por meio de um delegado da própria PF. De forma
triste e reticente ele respondeu: “veterano... A sorte de nossa elite do
atraso e do Brasil é que o maior líder deste país é um gênio
pacifista...
Armando Rodrigues Coelho Neto - jornalista e advogado,
delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em
São Paulo
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