Enviado por Andre Araujo ter, 21/08/2018 - 15:20
Foto Sapo
Na Ponte de Genova privatizações caem no abismo, por André Araújo
Os fanáticos das privatizações, como os gurus de vários candidatos
presidenciais, deveriam ao menos registrar a tragédia da PONTE MORANDI,
em Genova, que caiu por falta de manutenção. Uma ponte PRIVATIZADA para a
empresa AUTOSTRADE, do Grupo Atlantia, controlado pela família Benetton
e que tem 1.600 quilômetros de estradas pedagiadas no Brasil, nos
Estados de São Paulo e Minas Gerais. Na Itália a Austostrade tem 6.000
quilômetros de concessões, com falta de manutenção e notórios desgastes
em pontes, como agora mostra a imprensa italiana e a revista The
Economist no seu ultimo numero.
A queda da Ponte Morandi causou a morte de 43 pessoas e um cataclisma politico na Itália.
Não foi só a tragédia humana dos mortos e desabrigados, a ponte é
vital para a conexão de Genova e da Liguria, sem a ponte quebra-se todo
sistema viário de Genova. A construção de uma nova ponte de aço levará
no mínimo oito meses, enquanto isso Genova sofrerá.
A PONTE MORANDI em Genova era uma tragédia anunciada, que deixou 43
mortos e mais de 500 pessoas sem casa. Soma-se a tragédia da VALE
privatizada no Rio Doce em Minas Gerais, todos contextos gerados pela
obsessão pelo corte de custos. Quanto mais custos cortarem maiores bônus
ganham os administradores e cortar custos para gerar lucros é
disciplina nobre ensinada nos cursos de administração de empresas na
matriz ideológica do capitalismo global.
Nos noticiários da RAI professores das melhores universidades
italianas exibiram laudos já há 5 anos, outros de 2 anos passados,
indicando que a Ponte Morandi apresentava corrosão perigosa e a
concessionária nem tomou conhecimento, jogou no risco, como a Samarco em
Mariana, onde não faltaram avisos sobre a possibilidade de estouro da
barragem.
A lógica das privatizações vai, assim, se desnudando. Foi publicado
no blog artigo meu sobre a privatização da ELETROPAULO, onde demonstrei a
degradação da empresa após o processo.
Neoliberais brasileiros batem palmas para privatizações de tudo, sem
atentar que enquanto empresas estatais por definição atendem a uma
lógica de interesse público, a empresa privada tem como único objetivo o
lucro a curto prazo, nem sequer a perenidade é um objetivo.
A lógica hoje dos grandes gestores de fundos é entrar e sair de
posições, comprar e vender ativos. Grande parte das privatizações da Era
FHC no Brasil já trocou de mãos, algumas várias vezes. A CESP
Paranapanema foi comprada pela americana Duke Energy, que já vendeu
para chineses, a USIMINAS e as siderúrgicas privatizadas trocaram de
dono, viraram pastel de feira, a CPFL foi comprada pela Camargo Correa
que vendeu para a State Grid chinesa, a Light Rio trocou de mãos quatro
vezes, a telefonia se tornou um cipoal de transações mal cheirosas que
terminaram na quebra da OI, depois de ter sido sangrada pelos grupos
compradores originais.
Em serviços públicos essenciais se entrega o destino de grandes
empresas a especuladores de curto prazo, sem qualquer outro compromisso
que não seja o lucro financeiro rápido.
Os mesmos cérebros que hoje pregam a privatização de empresas
estratégicas como a ELETROBRAS e a PETROBRAS, que serão compradas e
esquartejadas por grupos especulativos, quase certamente estrangeiros,
vendidas em pedaços com quebra de um sistema integrado de interesse
estratégico. Hoje, quando se propõe a privatização de grandes estatais, a
palavra certa é DESNACIONALIZAÇÃO, uma Petrobras será disputada pela
Chevron, BP ou Sinopec.
Beócios pela mídia pregam todo dia que se privatizarmos tudo não
haverá mais corrupção. Uma estupidez completa. O que é preciso é
aperfeiçoar os mecanismos de controle e não jogar fora as estatais, algo
que nenhum grande Pais está fazendo. Das 20 maiores empresas de
petróleo do mundo, 13 são estatais, inclusive as 4 maiores, não há
nenhuma onda de privatizações no mundo. A era das privatizações acabou
com o neoliberalismo de Thatacher e Reagan e especialmente após a crise
de 2008, quando o Tesouro americano salvou 200 empresas privadas que
iriam quebrar, inclusive a General Motors e o Citibank. A crise de 2008
jogou no lixo da História o mito da eficiência perfeita dos mercados,
ninguém mais fala nisso.
Os desastres de Mariana e de Genova mostraram os limites das
privatizações, a droga do lucro a curto prazo contra qualquer outro
objetivo. O abandono da noção de interesse público coloca em risco
grandes sistemas integrados que levaram décadas para serem montados.
Como em todas as ondas no mundo, o Brasil é o ultimo santuário de
ideias vencidas, o cemitério de ideologias caducas e de ideias
econômicas “da moda”.
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