Existe, para o Exército Brasileiro, um momento-símbolo de formação da
nacionalidade, para a historiografia militar o símbolo da ideia do
Brasil como país.
É
a Batalha dos Guararapes, onde os brancos portugueses, ao lado dos
índios liderados por Felipe Camarão, e das tropas negras de Henrique
Dias. Pela direita, os indígenas, pela esquerda, os negros, as tropas
holandesas foram flanqueadas e espremidas para que as tropas comandadas
pelos portugueses João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros
pudessem fazer o seu ataque decisivo.
Não consta que Felipe Camarão tenha sido “indolente” ou que Henrique
Dias tenha sido “malandro”, como o senhor Hamilton Mourão disse hoje, em
Porto Alegre, ao referir-se às características de índios e de negros.
Nem mesmo creio que Mourão, que afirmou sua descendência indígena
tenha se expressado com ódio, mas é claro que foi com preconceito e,
pior, preconceito dos mais burros, coisa que há cem anos, quase, já se
desmontou como suposto fatalismo antropológico.
Basta perguntar – eles que tanto gostam de gritar Selva! nos seus eventos militares – se sobreviver na mata, sem os recursos tecnológicos que há hoje, é algo para indolentes.
Ou se trabalhar de sol a sol – e que sol! – numa lavoura açucareira é para “malandros”.
Nem mesmo a “democratização do preconceito” feita por Mourão é
procedente, quando ele diz que a cultura do “privilégio” é uma herança
ibérica. Sim, vieram os nobres, os senhores, os favorecidos, mas estes
foram uma ínfima maioria em meio à massa de portugueses e espanhóis
pobres que aportaram por estas bandas apenas querendo formas de
alimentar os seus.
A razão desta ideia de indolência e de malandragem vinha exatamente
da opressão: quem é que vai aplicar-se espontaneamente no trabalho que
dá tudo ao colonizador e nada ao colonizado, senão chibata e pobreza?
Vai mal, assim o pessoal do trem-fantasma, fornecendo munição para apanhar na imprensa, que está louca por desidratá-los em favor de Alckmin.
Ainda mais porque o capitão a quem segue o general já andou falando
coisas muito mais agressivas, querendo abolir territórios indígenas e
extinguir áreas quilombolas, aqueles que, segundo Bolsonaro, pesam mais
de “sete arrobas” e “nem para reprodutores servem”.
O problema nem é “queimar” Bolsonaro, mas ao Exército que, entre as
instituições nacionais, sempre foi a que mais se abriu para brasileiros
de todas as origens.
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