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Segunda Opinião
BALANCETE
Por Wanderley Guilherme dos Santos
7 de agosto de 2018
Em matéria de estratégia, a do PCdoB foi a de maior êxito. Ameaçado
pela nova legislação de perder privilégios parlamentares, sem assento em
comissões, mesas diretoras, fundo partidário e tempo de televisão, as
eleições proporcionais são o objetivo primordial do partido.
Associando-se a chapas fortes, contará com votos dos partidos das
coalizões para eleger seus candidatos. A apresentação de Manuela como
candidata a presidente foi audaciosa. Destinada a ser absorvida, a
candidatura ficou à beira do precipício com a escolha de Katia Abreu por
Ciro Gomes. Se Lula continuasse a recusá-la o PCdoB teria que enfrentar
sozinho a competição presidencial, provavelmente não tendo votos para
atender à exigência da lei eleitoral para a representação no parlamento.
Estratégia bem traçada e bem executada.
Ciro Gomes é o único capaz de promover duas campanhas simultâneas.
Katia Abreu dispõe de personalidade e capacidade de articulação que a
permitem fazer campanha em um lugar enquanto Ciro circula em outra
praça. Marina Silva ou Geraldo Alkmin não contam com tal recurso. No PT,
já com o problema de informar a seu eleitorado que o candidato não é o
Haddad, mas Lula, exceto se Lula for impugnado, Manuela não tem como se
apresentar senão junto com Haddad, deixando claro que, se Lula for
candidato, o vice não será o Haddad, ali presente, mas ela, que, por
ora, não é nada. Um pequeno transtorno será explicar, caso perguntem, o
que acontecerá com Haddad, se Lula for candidato: voltará a dar aulas no
INSPER, colégio de radicais antipetistas, ou será confirmado, não como o
mensageiro de Lula, mas como vice mesmo? Aí o destino incerto será da
Manuela. Nada disso tem importância para o eleitor, segundo os
estrategistas do PT e seus porta-vozes na imprensa alternativa, porque
eleger Lula ou seu preposto é o que importa. Mais nada.
Quanto a programas, Marina Silva, não obstante assessores de peso,
não abre mão de confundir o eleitor com seu estilo baixo austral de
Augusto dos Anjos. As votações que tem obtido são o maior mistério do
comportamento eleitoral brasileiro. Se ela afirmar que, com os erros e
roubalheiras do passado recente, pior do que está não pode ficar, será
considerada uma declaração socrática – tipo, eu só sei que nada sei -,
embora um plágio de Tiririca, cuja votação é igualmente incompreensível.
Alckmin dispensa apresentar programas porque já é conhecido há vinte
anos.
O cartapácio do PT rebobina programas conhecidos, acrescenta
velhuscas bandeiras como um imposto sobre fortunas e ignora por completo
o complexo desafio da revolução industrial ponto 4 sem fazer ideia do
problema de emprego que o País terá pela frente. Refere-se à intervenção
no mercado da informação, sem maiores esclarecimentos, e serve a
fantasia de reforma política junto com a promessa de uma Assembleia
Nacional Constituinte. Mas a segunda, se cumprida, não promoveria a
primeira? Talvez não, pois, segundo os pensadores petistas, os deputados
não alteram as condições que lhes proporcionaram o mandato. Bem, fora a
grosseira análise de como funciona um parlamento, onde pensam buscar
candidatos e eleitores distintos dos atuais? Quanto a isso o programa
oferece o conhecido escapismo de que tudo será feito depois de ampla
consulta à população. Bem, não importa porque o projeto real é eleger
Lula ou quem ele mandar.
O programa de Ciro Gomes tenta apresentar diagnósticos específicos de
vários problemas materiais e esboça linhas de ação para minorá-los. Há
substância para discussões relevantes, inclusive sua tese de que o
presidencialismo é a fonte de todos os males e o parlamentarismo um
primor de engenharia: se não está funcionando, o grupo deixa o governo e
outra eleição, ou indicação do próprio parlamento, escolhe o grupo
substituto. Não haveria o problema agônico da sucessão que precisa
esperar quatro, cinco ou seis anos para solucionar um vexame como o de
Michel Temer, por exemplo.
Ocorre que a Alemanha dos anos 30 era parlamentarista, na companhia
de Portugal salazarista e outros da mesma cepa. Ciro está equivocado
quanto à história das formas políticas. Em compensação, tem revelado
conhecimento e preocupação com o ingresso do Brasil na ordem robótica,
com a perspectiva de se tornar um dos países cronicamente proletários no
mundo da automação. Mas todas as entrevistas são desperdiçadas com
debates sobre o temperamento do candidato, suas relações com o PT e
Patrícia Pilar. Ou seja, a imprensa convencional também não quer saber
do programa de ninguém: já tem seu candidato tanto quanto parte
considerável da imprensa alternativa. Pensamento único em todos os
canais de comunicação.