De passagem pelo Brasil para a Feira
Literária Internacional de Maringá, Agualusa afirma que o País foi
“sequestrado por um grupo de delinquentes”
As confusões da política brasileira têm deixado assustados não só os
próprios brasileiros, mas também aqueles que estão acostumados a visitar
o País. O angolano José Eduardo Agualusa aporta por aqui ao menos uma
vez por ano e acompanha tudo o que acontece por meio de seus amigos.
Morou no Brasil por quatro anos, dois em Pernambuco e dois no Rio de
Janeiro. Quando voltou para Portugal, onde reside atualmente, levou
consigo um carinho e uma preocupação como se fosse nativo.
Sentado em uma cadeira pouco confortável e sedento por água de coco,
Agualusa mostrou-se perplexo com a situação atual do País. A visita a
São Paulo foi breve. Apenas cinco horas antes de pegar um voo para o
sul, onde participou da terceira edição da Feira Literária Internacional
de Maringá. Em maio, assinou um manifesto em Portugal contra o golpe no
Brasil, assim como Valter Hugo Mãe, Pilar del Rio, Gonçalo M. Tavares,
entre e outros.
Agualusa acha assustador como o Brasil, que avançou tanto nos
governos Lula e Dilma, abriu tamanho espaço para o conservadorismo. O
discurso de Bolsonaro e o coro que o acompanha é o exemplo mais claro
disso. “Bolsonaro não deve ler ficção, porque para ler ficção deve-se
ter empatia”, exclamou o luso-angolano-brasileiro, dizendo já ter falado
isso para uma amiga.
A notícia do impeachment foi recebida por Agualusa com muita revolta.
“O triunfo da estupidez e da injustiça nunca deixa de me surpreender”.
Mas disse que esperava o contrário, acreditando até o fim que o bom
senso e a justiça prevaleceriam. Não foi o que aconteceu. Para ele, uma
presidenta inocente foi julgada por uma maioria de criminosos, o que é
inaceitável.
Ele acredita que ir para a rua é a melhor forma de a juventude lutar
contra isso: “Espero que aquilo que se sucedeu sirva para despertar o
conjunto da sociedade brasileira, em especial os mais jovens. E que o
Brasil consiga, ao longo dos próximos meses, produzir novas lideranças e
novas ideias”. Segundo ele, também é necessário que jovens comecem a se
envolver na política de forma mais direta, pois mesmo as lideranças
progressistas dos principais partidos são compostas por figurões
antigos.
Na opinião do escritor, o Brasil foi sequestrado por um grupo de
delinquentes. De acordo com ele, esse grupo tem como objetivo retomar o
poder do Judiciário, já que Dilma permitiu que ele trabalhasse de forma
independente do poder político. “Esta luta é – tem de ser! – a luta de
todos os brasileiros honestos”, concluiu.
Zelador de causas sociais e políticas, Agualusa esteve envolvido na
luta contra o abuso do governo angolano no caso que ficou conhecido como
“15+2”, quando ativistas – entre eles o rapper Luaty Beirão – foram
presos ao se reunirem para ler um livro no ano passado. Eles foram
acusados, arbitrariamente, de estarem tramando uma rebelião contra o
governo de José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.
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