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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Poemanifesto dos afetos, por Luciana Tonelli.


161019-tunga
“Pela coragem do encontro com o outro qualquer que seja / esse outro contanto que potencialize a vida a vida a vida / a vida a vida”
pela manifestança da vida em todas as suas mininfestações
esta é uma brigada de combate ao medo: contra o medo
séculos de medo que geram a célula ensimesmada sempre
refratária ao outro sempre enfraquecendo sua semente
de coragem por não ver nela lucro imediato garantias
imediatas sossego imediato. para longe lancemos para bem
longe o medo o mesmo medo que faz de um grupo de
pessoas seja lá qual for seu laço um enlace para a guerra
uma aliança isolada incapaz de qualquer construção
coletiva porque narcísica.
pela coragem do encontro com o outro qualquer que seja
esse outro contanto que potencialize a vida a vida a vida
a vida a vida.
aqui seguimos livres de culpa: livres da ancestral culpa
que nos imputam os fundamentalismos de direitas de
esquerdas de certezas enrijecidas sigamos livres de suas
máquinas de endurecimento a invadir nosso centro
a entulhar de compromissos nosso desejo. sigamos
resistindo às invasões sigamos livres das prisões do
pensamento sigamos atentos. aqui esvaziamos de poder
fascismos usurpadores de energia vital fomento de miséria
material e simbólica. aqui gargalhamos de todo e qualquer
dogma aqui celebramos a alegria a festa o fluxo da vida.
pela liberdade de escolher e fazer da forma mais atrapalhada
contanto que cedendo a um impulso de vida
de vida de vida de vida de vida.
se ainda há ira brademos contra a razão hipertrofiada
do patriarcado que há séculos ignora subestima submete
toda diferença todo desencaixe tudo o que não cabe em
sua planilha de orçamento a um pensamento de cimento
armado. raza razão logocêntrica a promover a disputa
por cada palmo de qualquer que seja o espaço a expedir
certificados para o inaceitável a intimidar a fala que não
nasce de seus formatos fechados. contra ingenuamente
contra como uma criança como um palhaço como um
louco e seu cão se manifestariam contra contra o jogo
de retóricas vazias e cheias de promessas facilmente
desmontáveis por crianças palhaços loucos e cães
movimentando apenas olhos e caudas.
pela palavra que surge inteira de nossos corpos fazendo
vibrar nossos pensamentos preenchendo-os de vida
de vida de vida de vida de vida.
se há desejo de vingança maquinemos nosso olhar frio
opaco irredutível olhar-bomba e o lancemos com frieza
de estrategista sobre o aparato político econômico
midiático que sustenta a farsa do capital e continua seu
trabalho de lobotomia: terroristas travestidos de estadistas
e vorazes capitalistas na pele de homens de carne e
sangue. sendo inócua nossa indignação contra a ganância
e o capital desprezo pela vida gritemos contra a burrice
a suprema burrice dos homens que fazem as guerras e
pensam em sair ilesos em seus helicópteros.
pela lucidez de enxergar onde é gestada a morte e manter
vivo em nossas mentes em nossos corações o desejo de
fortalecer a vida a vida a vida a vida a vida.
brindemos à saúde plena saúde livre de medos e culpas
saúde que traz em si a alegria e a amizade e o espanto
e a capacidade de se indignar perante o que parece inevitável
o que diz a lei o que dita o dito o que determina o
destino de uma civilização enferma. brindemos à saúde
das relações. que os corpos coletivos não sucumbam
perante disputas egoísmos pequenas mesquinharias que
se instalam em seus entres. que saibamos seguir adiante e
fazer a louvação quando a tristeza pesar no ventre. fazer a
louvação do que deve ser louvado.
pela poesia que se instala no cotidiano e inaugura novos
espaços de existência e irriga o pensamento e não deixa
que ele se enrijeça e intensifica a vivência do tempo e
lembra ao homem seus valores mais vitais. pela poesia
capaz de realizar a mais alta potência da arte: a reinvenção
da vida.
pela poesia utopia ativa no presente
pela revolução imanente

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